quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

TIARA: NOS LIMITES DO AMOR

POR

ALEX DE J. OLIVEIRA


CRUZ DAS ALMAS, 04 NOVEMBRO DE 2005



I – CAPITULO: A MAIOR BELEZA DA ROÇA

A vida na roça é uma vida bonita, bonita em vários sentidos.Viver na roça é está perto da natureza, é respirar ar puro, é se deliciar com uma laranja bahia extremamente doce tirada do pé no momento da degustação, é beber o leite tirado da vaca quentinho ali mesmo no curral. A roça é um espaço lindo, cheio de curiosidades e inventividade de um povo simples que sabe viver a vida sem vergonha de ser feliz, mas, talvez seja por isso que neste espaço se criem tantos causos e mistérios tão instigantes.
E por falar em causos, ficamos conhecendo a historia de uma linda moça que vivia em uma Vila chamada Monte Formoso no interior da Bahia. A história se passa no final dos anos sessenta ate meados dos anos oitenta, um período muito delicado na história do Brasil, uma vez que, uma parte desta época a política-economica brasileira era conduzida pelos militares, e muitos desmandos foram efetivados pelos mesmos, principalmente nos grandes centros urbanos do nosso país.
Tivemos conhecimento deste causo quando estivemos neste lugarejo no inicio dos anos noventa, não sabemos se a historia que nos contaram é verdadeira ou é ficção, mas, como se sabe, às vezes a ficção torna-se verdade, na medida que, se pode vê a vida real no seu esplendido devir através da imaginação que a ficção proporciona, não obstante, não se pode dizer o mesmo sobre a verdade, pois, a mesma é tão áspera e solúvel na história, que ela se torna uma cocha de retalhos que sintetiza as diversas matizes que o tempo lhe acrescentou para lhe da sentido no infinito dos presentes da vida cotidiana, e esta vida cotidiana por sua vez, da sentido a “realidade” fugas, impalpável e inconcebível na sua multiplicidade de dimensões. Deixando de lado a teoria da história, o que se sabe é que todos desta Vila “imaginaria” conhecem e falam desta história com tamanho entusiasmo que parece que é um causo real, que despertou o interesse de toda população na época.
O causo trata de uma linda moça, que como já havia dito, todos sabiam narrar a sua vida ao “pé da letra”, mas, ninguém era tão detalhista na narrativa como o véi Zé boca de Pimenta, o qual, tinha por volta de seus 60 anos, acostumado com a conversa no pé de balcão, entre uma cachaça e outra, a vida alheia era a temática principal. Portanto, não conseguimos fugir da sua lábia de bom narrador, e neste sentido, preferimos ouvi-lo contar a aluída história. Após as apresentações de práxis, entre um papo e outro, sobre a política regional, local e ate mesmo sobre a economia da Vila, Zé boca de Pimenta perguntou-me se eu queria ouvir o causo que mais mexeu com o povo de Monte Formoso, de imediato fiquei curioso e pedi-lhe que mim contasse a referida historia, pois, muitos já haviam mim insinuado o causo e eu não tinha mim dado conta da representação que tal história tinha para o povo daquele local. Depois de pagar-lhe mais uma branquinha, Boca de Pimenta imediatamente começou a sua narrativa.
Bem viajante, a moça se chamava Tiara, mas, todos lhe apelidavam de Titi, ela era uma moça linda, olhos arregalados, bem pretos, cabelos ondulados tão pretos que pareciam tingidos, vestia-se com roupas floridas, de chita, mas, apesar da simplicidade, ela era linda, parecia um sol quando adentrava na sala escura de sua humilde casa no povoado de Pirorá dizendo:
- Mamãe cheguei! Tô com uma fome. Tem merenda?
- Há Titi, tem uns bago de jaca ai, ta ai em riba do furgão de lenha.
Titi era assim, extrovertida, alegre, aonde chegava transmitia luz e felicidade, todos lhe chamavam para beija-la, todos lhe queriam bem, prestativa, ela estava sempre pronta para servir.
A menina que tinha uns doze anos, mais crescia sem parar, foi crescendo, crescendo, crescendo trabalhando na roça pela manhã e a tarde estudando na escolinha da Vila, mas, como se fosse num piscar de olhos todos tomaram um susto! Um belo susto! Uma maravilha! Titi tinha se tornado uma linda mulher, uma linda moça, com um corpo perfeito, sinuoso, tão sinuoso que Eva e a serpente perdiam para ela. De uma sensualidade avassaladora, os seus olhos eram tão penetrantes quanto o brilho de um diamante, os jovens e ate os homens de meia idade suavam frio ao vela passar, era um espetáculo da natureza.
Os rapazes na roça viviam pedido-lhe permissão para corteja-la, uma certa vez, um tal de Rafael, um jornaleiro que trabalhava nas terras de Ambrósio Casquinha, um pequeno proprietário de terra da região, parou ela em um desses caminhos da roça e disse-lhe:
- Titi queria te dizer uma coisa.
- Diz logo homi, diz quí num tenho tempo pá ficar de prosa.
- É quí, é quí...
- Desembucha rapaz! – dizia Titi já nervosa, com seu temperamento firme e sincero do signo de Touro.
- É quí eu tô... tô gostando de tu, é... eu queria te namorar, tu aceitha?
- Onde já se viu Rafaé! Eu num tenho idade pra isso, mim respeite, se não vou dizer a João – João de Pedra era o irmão mais velho de Titi, tinha a fama de violento, pois já tinha matado um cachorro vira-lata com as mãos, e lutado com três homens de uma vez só, e vencido, mas, os três homens na balança pesavam menos 60 quilos, eram forasteiros que estavam fugindo da seca no Sertão, e haviam roubado uma galinha no quintal de D. Joana, a mãe de Titi. João era conhecido como o “Sansão de Pirorá”. Rafael após ouvir a resposta de Titi respondeu:
- Não Titi! Nunca magi eu falo nisso, nunca! Juro por Santo Antonio. - O santo era o padroeiro da pequenina Vila.
Era assim, Titi arrasava os corações dos rapazes daquela localidade, ela já tinha 16 anos, e nunca se quer tinha dado um beijo, era virgem, e como de práxis, seguia a risca os conselhos de sua mãe D.Joana:
- É, menina moça só namora uma vez. Namoro tem quí casar, nu é Titi?
- É mamãe!
- Como tava dizendo Raimunda, essa já é moça – D. Raimunda era tia de Titi, vivia rezando, pois, fazia parte da Irmandade do Coração de Jesus, não obstante, não dispensava a vida dos outros e uma cachacinha para molhar o bico.
Prosseguia D.Joana a prosa com a irmã Raimunda:
- É, eu já botei Santo Antonio de castigo pá mode aparecer um noivo pra ela. Tu sabe né Raimunda! Hojí em dia se num casar logo... do jeithu quí a juventude vai, Ninguém quer esperar castanha amadurecer, num sabe? – D. Joana olhando e piscando os olhos para Raimunda que respondeu as gargalhadas;
- Rá, rá rá rá rá...Tá magi qui certa minha irmã.
Enquanto narrava a história Zé boca de Pimenta, dizia que quanto mais ele bebia, mas falava certo, e ele exclamava
- Bota mais uma Badega! - Badega prontamente atendia e enchia o copo com a mardita. Assim, ele prosseguia fervorosamente.
É parece que Santo Antonio não agüentou o castigo, pois, logo apareceu um pretendente querendo namorar Titi. O rapaz morava lá pelas bandas da Serra do Espinheiro, tinha umas vinte tarefas de terra e também negociava com limão, criva uma dúzia de bois e tinha seus vinte e cinco anos, era magro, quase tisgo, queimado do sol, os olhos era castanhos e tinha a cara de bebê chorão escondido atrás da barba sempre por fazer, falava groso e demonstrava ser corajoso.
Após alguns encontros com os irmãos de Titi, e muita conversa para acerta o acordo do namoro, pois, a mesma já não tinha o pai, o Sr.Camilo, o qual, havia morrido de Chagas aos cinqüenta e cinco de idade quando ela tinha apenas oito anos. Depois de muito bate-papo e advertência ficou acertado o molde do namoro que logo se iniciou. Por coincidência com a promessa da mãe feita a Santo Antonio, o rapaz chamava-se Antonio Oliveira, conhecido como Tonhi pé de chumbo, por que trabalhava na roça sem calçar as botas sendo que os pés pareciam esta sempre inxados.
Quando Pé de Chumbo ia namorar, montava em seu cavalo, antes causava sua bota de couro, sue colete de vaqueiro, colocava sua garuncha na cintura, escondido, claro, depois, tomava uma quente pra da coragem pra seguir a viagem. Eram três léguas de distância do seu sitio ate chegar na casa de Titi, quando lá chegava era desta forma que se dava o namoro.
- Titi, ô titi cheguei, Titi ô Titi. – Titi levava meia hora para ir atende-lo, abria a porta e dizia friamente.
- Oi tonhi, vai, entra, senta ai. – Titi não gostava do rapaz, só o aceitava por que sua mãe achava que ele era um bom partido, pois, a família do rapaz tinha o dobro das suas terras, e isso era maravilhoso, pois, terra para aquele povo representava “a vida”, entretanto, o que deixava D. Joana muito feliz era quando Antonio dizia:
- To juntando um dinherim D.Joana, pá vê se no fina do ano agente casa – Assim, D.Joana respondia alegremente – Ta certo meu fí!
Titi não dava atenção ao namorado ele ficava sentado, conversando sobre terra, limão e fumo com os irmãos de Titi, enquanto ela sentava-se na outra sala da casa para remendar as causas dos irmãos. Quando dava a hora de Antonio ir embora, um dos irmãos chamava:
- Titi vem se despedir do teu namorado.
- Já vou, já vou – ela respondia com um ar de quem não queria ir. Ao chegar na sala dizia:
- Boa noite tonhi – ela dava a mão direita, ele a afagava sua mão como uma jóia rara e beijava dizedo-lhe:
- Boa noite meu Xodó, domingo eu vorto. – beijando-lhe as mãos novamente como se fosse a melhor coisa que lhe havia acontecido durante o dia.
Para Antonio, o simples fato de beijar a mão de titi era motivo de alegria e extrema felicidade, era a certeza de que com ela iria casar-se. Na volta ele sempre pensava:
- Ela mim ama, quí coisa linda, é, é, é,( sorrisos) ela é a mãe dos meus fí.
Já Titi não via a hora de se livrar daquele homem. Ela vivia sonhando com os rapazes que via na televisão, sonhava ate acordada e suspirava, suspirava, fazia ate promessa para arranjar um rapaz que fosse como “os Minino da TV”.
Dois anos se passaram e nada de casamento, talvez, por que Titi sempre inventava uma desculpa para não casar, mas, parece que as questões econômicas estavam complicadas para o casal, pois, a roça “num tava dando”. Por conseguinte, em um desses São João veio de São Paulo junto com o primo de Titi, o Mascarenhas, um rapaz chamado Otávio Fernandes um moço muito bonito, aparentava ter uns 22 para 24 anos, cabelos lisos, olhos azuis, bem elegante, as mãos não tinha nem um calo, fazia faculdade de Antropologia na USP e veio conhecer as festas juninas do nordeste. Não tardou para os olhos de Titi e o forasteiro se cruzarem, e uma paixão, uma paixão louca começaria a brotar deste encontro casual, transformando para sempre a vida da maior beleza da roça.

II - CAPITULO: O AMOR NÃO TEM HORA PARA CHEGAR.

Na noite de São João era tudo alegria, muita comida, bebida e muita dança, nesta época, já se tinha abandonado a sofona e o Zabumba, instrumentos que eram utilizados para fazer os Forros nas salas das casas da roça, o radio tinha tomado a incumbência de acabar com a tradição, ele “tocava” sem parar enquanto a juventude dançava ate o suor escorrer na face.
Em meio à narrativa, Zé boca de Pimenta resolveu pedir um tira-gosto;
- Badega assa um pedaço dessa carne de sertão ai qui é pra rebater a danada qui ta é forte. – Badega respondia gozando da cara de Pimenta.
- Ora! tu não disse qui não tem cachaça que te derrube, eu quero vê com essa aqui, ela veio do Pernambuco, e quem mim vendeu disse que não tem cachaceiro que fique em pé depois de umas doses.
- Olha Badega deixa de conversa mole e faz logo minha carninha que a prosa ta é boa e tu sabe que eu e alambique somos a mesma coisa, não é?.
- É!- responde Badega - Tua... te fez dentro de um barril de tiortina( cachaça), pois, nunca vi! quanto mais bebe mais fala direito.
- Olha Badeguinha não esquece a cebolinha e a forrofa viu? – Badega sapecou os olhos, os quais era o motivo de terem lhe colocado tal apelido, cospiu três vez no chão e disse:
- Olha boca de Pimenta se tu não fosse um bom pagador! Derepente Badega deu uma gargalhada e foi para cozinha trazendo de imediato o pedido do seu ilustre freguês que após comer alguns pedaços de carne e bebido mais duas continuou sua narrativa envolvente.
Assim, em meio aquela forrozada toda, um frenesi de alegria, êxtase e tesão, quem era namorado se beijava timidamente, claro, assim, bicota, pois, os mais velhos estavam de olho, mais logo procuravam um lugarzinho atrás da casa para esquentar os amaços. E em um desses momentos o forasteiro que veio a passeio resolveu chamar Titi para dançar.
- Titi! Dança comigo?
- Danço, vomo dançar – Titi, que já estava de olho no rapaz, arrastou o moço pelo braço e começaram no ritmo do forro, o radio tocava “Quero fazer amor com você, quero te dá, tudo que você quiser, quero ficar sempre ao seu lado, ser tua amante ser tua mulher” sucesso de uma banda que estava surgindo nas paradas chamada Laços do Forró, assim, entre um aperto e outro, Titi começou suar frio, morta de desejos, louca pra beijar a boca do galego, foi arrastando ele no meio do povo e disse:
- Óia Vinho, eu queria te dizer uma coisa, magi aqui não, nú pode. – Otávio respondeu timidamente e já imaginando o que seria:
- Por que não Titi? – Titi um pouco nervosa e tentando disfarçar a conversa, pois, parecia que todos olhavam para eles na sala falou baixinho, pelo canto da boca:
- Pur quê mode, Pur quê... - Titi sorria para disfarçar o dialogo – não podi, vai lá naquele pé de jaquera perto daquela madioca qui vou lá já! Certo? – Otávio assustado com a atitude de Titi, ficou pasmado e com um frio na barriga, pois, ele também estava doído para abraçar aquele corpo lindo, mas, não sabia ao certo o que o esperava, apenas delirava em divagações:
- É hoje, é... mas, rapaz - Vinho falando consigo mesmo – eu não imaginava que ela tivesse coragem para tanto! Será que essa “muié” esta gostando de mim? Rum! Será? – e lá se foi Otávio, em meio ao som e toda aquela bebedeira, tudo era felicidade, Otávio saio devagarzinho e foi para o local do encontro, Titi já havia ido e lá estava a sua espera.
- Oi Titi – falou Otávio bem baixinho – ta aqui há muito tempo? - Otávio suspirava como um tigre próximo à presa, não sabia se era de desejo ou de medo de alguém vê o encontro. Tiara ofegante respondeu o seu questionamento:
- Não, tô aqui fagi meia hora. E por que tu demorou?
- Demorei por que não queria que o povo senti-se minha falta, disse que estava com dor de barriga e que ia ao banheiro, mas, diga-me o que você quer ?
- Há Vinho, desde que te vi num consigo parar de pensar em ocê, eu to gostando de oçê, e eu queria te dizer isso, é, mas, eu sei que oçê... – Titi baixou a cabeça e esperou que Otávio falasse alguma coisa, ele não falou nada encostou em Titi, levantou o rosto dela delicadamente alisou o sua face e disse:
- Titi não fique com vergonha de mim, eu sou um ser humano igual a você, e olha! eu também tenho algo para te falar – Tiara imediatamente, como um relâmpago perguntou:
- O que é? – O forasteiro imediatamente desembuchou:
- Eu estou apaixonando por você, pronto falei, só não manifestei meu sentimento porque você é noiva de Antonio.
- Sou noiva praticamente forçada, eu não amo Antonio, veja oçê, ele ta lá, bebu com meus irmãos, num quero isso pá mim, um bebu. – afirmou Tiara contundentemente o seu desprezo por Antonio, mas, Otavio perguntou-lhe:
- Por que você se submeteu a tal namoro se você não gosta dele? – Tiara nervosa, pois, estava com receio de alguém esta a sua procura na festa, disse:
- Aqui na roça as coisa são diferente Vinho, as moça não escolhe o pretendente, é a família praticamente qui escolhe, observa a família, vê os bens qui tem, o dote qui vai receber o noivo, ai a mãe e o Pai diz qui faz gosto e cumeça o namoro, tem vegi qui dá certo, magi a mioria sofri a vida toda, eu num quero isso pá mim – Titi demonstrava ter consciência da forma como os casamentos eram feitos na roça, ela percebia que o mais importante não era o amor, mas, a questão econômica, em fim, a união dos bens das famílias envolvidas no matrimonio dos filhos. Não obstante, observando que o tempo passava e que as pessoas na festa iriam notar a ausência dos dois, Otavio não fez mais nenhum questionamento, mesmo sabendo do risco que corria, resolveu se meter naquela aventura, e imediatamente, de uma forma ofegante, mas, delicada, Otávio encostou os seus lábios na boca perfeita e atraente de Titi, a qual, cheirava a licor de maracujá, assim, beijaram-se e as estrelas começaram a aplaudir os dois, pois, a química do amor havia juntado os opostos que se desejavam infinitamente e como uma explosão atômica os lábios dos amantes se digladiavam como se quisessem engolir e degustar o objeto do desejo. E neste ínterim, estava em jogo não mais a questão econômica, mas, o Trinômio formado pelo amor, desejo e traição.
O tempo foi passado e Titi e Otávio continuaram matando o desejo, e entre um beijo e outro, o calor do amor juntamente com as doses de licor que haviam bebido, levou Otávio a ousadamente começar a tirar a roupa de Tiara, a qual, não resistiu, pois, já estava envolvida. Ele a deitou sobre seu blusão em meio à roça de mandioca, e quando olhou para o corpo de Titi banhado pela luz da Lua não imaginava tamanha formosura, estava em sua frente um corpo lindo, maravilhoso como o de Nefertite, Afrodite ou Vera Fiche. Era um corpo que cheirava a mato verde e tinha sabor de laranja. Quando já estava dispida Titi disse a Otávio que era virgem e perguntou-lhe se ele iria ficar com ela, ele afirmou que sim, que a amava muito e que sabia o que estava fazendo, desta forma, após muitas caricias e beijos, ali mesmo, tendo como testemunha a noite de São João e o canto das corujas eles fizeram amor. Enquanto isso na festa Antonio procurava Titi.
- D. Joana cadê a Titi?
- Há meu fí ta por aí cum as prima – Já extremamente bêbado, sem saber o que era terra ou céu, Antonio respondeu a D.Joana:
- Há! intão ta bão. – saiu Antonio sorrido com o copo cheio de licor virando na boca e rasgando uma cocha de frango de forma voraz. Ele se embriagava como se estivesse comemorando o noivado, enquanto Titi se afogava nos braços do Paulista.
Em meio às loucuras de amor Otávio dizia a Titi:
- Eu nunca vou te deixar Titi, vou vim embora para aqui, nós iremos ficar juntos! – Titi respondia a Vinho como se estivesse no paraíso, de modo que ela acreditava em tudo que ele dizia. Ela sabia bem lá no fundo que havia mudado sua vida para sempre, pois, não era mais virgem e a moral em relação a castidade das meninas em Monte Formoso era rígida, uma vez que, se perdesse a virgindade e não casasse todos falavam e era excluída de tudo naquele espaço, ate as amigas eram obrigadas pelos país a se afastarem da “perdida”. Por conta disso, a sua barriga esfriava, embrulhava só de pensar em não ficar com Otávio. Imatura, Tiara não tinha desejo de estudar, de ser independente, de ter uma posição na sociedade, ela fora criada para o casamento, para uma vida no espaço rural, cuidando da casa e trabalhando na roça. Ela apenas sonhava como todas meninas do povoado de Pirorá com o príncipe encantando, e o dela havia chegado, e nisto ela acreditava. Enquanto se beijavam Titi exclamou:
- Ai meu neguinho! Vem ficar comigo, vem! – de repente os dois pensaram a mesma coisa e falaram...
- E Antonio? – logo Titi se levantou vestindo a roupa, falando a Otavio:
- Se ele souber disso tudo ele te mata! – Otavio respondeu assustadamente.
- Eu não tenho medo dele! – afirmava o rapaz que tremia mais que vara verde olhando para um lado e para o outro. Ele continuou:
- Titi acho melhor você ir andando.
- É, você ta certo! – Após mais uns beijinhos Otavio se despediu de Tiara.
Já próximo de casa, Otavio se deu conta que havia deixado seu cassaco no mato, este ficara no lugar onde ele e Titi fizeram amor, Otavio resolveu não voltar para pegar a roupa, pois, já estava muito próximo de casa e podia chamar a atenção das pessoas, e neste sentido, parecia que o destino havia pregado uma peça tanto em Tiara quanto em Otavio, na medida que a roça que Otavio havia esquecido o capote era justamente o local onde Antonio estava dando uns dias de trabalho para sua futura sogra.
O que se pode vê com esse descuido do casal é o fato de que tudo quê o ser humano faz na vida sempre fica algo como testemunho, como a evidência de um ato, assim, podemos ate refletir sobre a vida de um modo geral com descuido do casal, não é Badega?
- Lá vem ele com as suas loucuras! – Pimenta sorriu e disse:
A gente pode vê Badega de forma bem simples que a vida é constituída de momentos sucessivos em diversas temporalidades e matizes de cores diferentes, é impossível sentir a vida completamente, ela nos escapa, e o gosto de um beijo se perde sem sentido na nossa mortalidade “insignificante” para o universo, e a única coisa que prova que realmente existimos um dia é a certeza de olharmos para trás e vermos as evidências de nossa existência em um quase nada de cultura humana, nesses grãos de farinha e esse copo sujo de cachaça aqui em cima do balcão, isso mim diz que eu existo, não é?
- Esse doído é maluco, não é? não repare não – falava Badega comigo -, quando a lua ta cheia ele fica apertado, mas é um bom homem, eu só num sei onde aprendeu falar bonito assim – Badega se referindo a Boca de Pimenta que sorria escandalosamente bebendo um giló.
Assim como o relâmpago que rasga o Oriente e desabrocha no ocidente mim veio alguns questionamentos em relação a esse homem que narrava, filosofava e bebia cachaça como ninguém. Quem era esse boca de Pimenta afinal? Um Estudioso daquela localidade? Um forasteiro que estava escondido ali por algum crime? O que lhe levava a beber tanto e não perder a narrativa? Por que ele bebia? Fiquei confuso, queria conhecer o meu narrador, mas, amigo leitor, existe questionamentos que não se deve fazer, pois, as respostas vem com o tempo. Boca de Pimenta pediu um charuto, sentou em um banco e entre uma fumarada e outra continuou sua história.
O dia raiou, Titi levantou foi fazer o café, parecia que nada havia acontecido, sorridente, tão sorridente que sua mãe lhe perguntou:
- Ta sorrindo de quê menina? Paricendo qui viu um Passarim.
- Há mamãe deixa eu sorri! Magi! Num posso surri! – Atormentada pela mãe que começou fazer-lhe mil perguntas, parecendo saber alguma coisa, Tiara correu para a roça, e por um acaso encontrou Antonio.
- Tonhi como ta tu? Bebeu muthu em ? – questionou Tiara.
- Foi, magi... tu sumiu da festa, foi pá ondi cum as menina? – Titi se assustou com a pergunta e disse.
- Há... há fui na casa de Roberta - prima de Tiara - levar uns doces pra ela. – Ela sabia que de imediato deveria procurar a prima para pedir-lhe que falasse se questionada, que estiveram juntas na noite passada, no entanto, como dificilmente Titi mentia, ninguém iria perguntar nada, mas, era melhor previnir. Desta forma, Antonio respondeu:
- Há sim! Pensei quí ocê foi durmir.
Todavia, em um piscar de olhos, Titi olhando com Atenção para Antonio percebeu que ele estava com um blusão diferente. Ela exclamou:
- tonhi quí blusão lindo! Comprou quí dia? Foi quanto?
- Num interessa! Óia vê se mim arranja um martelo pá mode eu bater a enxada.
- Vou buscar, vorto já!
Quando Titi estava se dirigindo para casa de farinha para buscar o martelo, o seu inconsciente trouxe novamente a imagem do blusão de Antonio, só que agora as suas reminiscências mostravam claramente de quem realmente era aquele capote.
- Meu Deus!!!, meu Jesusí!, a roupa, o cassaco é de Otavio e agora! – na cabeça de Titi muitas imagens e questões se cruzaram, ela via Antonio matando Otavio, ao mesmo tempo que se perguntava:
- Pur que quí ele no disse quí achou o capote? Será quí ele viu agente? Será quí ele sabe? Não, não, não ele não sabe. Será quí ele quer fazer uma tocaia cum Otavio? Vou avisar a Otavio.
Titi deixou o martelo de lado e foi para casa do primo colocar suas suposições para Otavio, quando chegou na casa do Mascarenhas encontrou Otavio tomando café, quando ele a viu disse:
- De quê tu estais correndo? Você está branca! – exclamou Otavio que puxou Titi pelo braço e meio desconfiado foram para trás da casa de farinha conversar.
- Tu não sabi o qui aconteceu! – Titi suava olhando para os lados, com o seu cabelo sendo soprado pelo vento.
- Diz aí, só assim eu irei saber. – falou Otavio bem baixinho para ninguém ouvir.
- É qui, olha, o Antonio ta vestido com teu capote, é aquele quí tu esqueceu onti lá, lá, lá no mato.
- É mesmo Titi! Será que ele? – Otavio suava, tremia olhando para os lados, estava mais assustado que gato atiçado.
- Num sei! Num sei, magi acho mió tu ficar acesso.
- Acho que vou embora amanhã!
- Num faz isso! Se tu for e eu? Eu morro, mim leva, mim leva.
- É! arruma tuas coisas que agente vai amanhã cedo, bem cedinho, escondido de todos.
- Ta certo, olá! Num mim esqueci, viu!
- Agente se encontra no pé de caju, lá embaixo, às 3 horas, antes de todos acordarem.
- Sim, certo, certo! Tudo certo! - Os dois se beijaram e se despediram. Por conseguinte, parecia que Titi estava já pré-anunciado o que aconteceria na manhã seguinte quando disse “não mim esqueci”. Ela saio da casa do primo correndo sorridente, o vento de inverno soprava suavemente fazendo balançar os lírios do campo, a natureza estava exuberante, os cardeais e canários cantavam, o crepúsculo de final de tarde estava se pondo por trás da Serra de Pirorá, e o tempo queria dizer a Tiara que tudo mudaria definitivamente na sua vida, mas, ela tinha apenas dezessete anos e não tinha aprendido ler as coisas singelas que a natureza nos mostrar tão claramente e ás vez vemos e compreendemos, sendo que em outras vezes vemos e fingimos não vê para não compreender e sofrer. Titi apenas achava que estava fazendo tudo certo, tomada por uma paixão misteriosa e desejos insaciáveis pelo forasteiro, o amor era tudo para ela, e ela queria viver sua história, e para vive-la ela faria qualquer coisa, porém ela só não sabia que estava apenas começando a viver.

III - CAPITULO: CHORANDO EM BAIXO DO CAJUEIRO

Na noite que antecedeu a fulga de Titi com Otavio a mesma não conseguiu dormir, ela imaginava como seria a vida em uma cidade grande, com aquele corre, corre, onde as pessoas não se olham nos olhos, e parecem que não existe sentimento, ela introspectiva questinova a se mesmo:
- Será que a vida lá em São Paulo é igual as novela, tudo bonito, roupa bonita, casa bonita, será?
Titi divagava, sonhava com a vida na cidade grande, tendo filhos com Otavio, ele chegando do trabalho, ela cuidando dos filhos, tendo uma vida tranqüila e sadia, mas, Titi também sentia imediatamente saudades de sua vida na roça, das galinhas, dos porcos, da vaquinha de leite, de sua mãe, suas tias e tios, primos e primas e irmãos. Para ela se afastar daquele mundo era como romper um elo, um elo de gerações, um rompimento que poderia lhe tornar uma nova mulher que não pertencesse mais aquele mundo bucólico tão amado por ela, pois, ali no seu chão, ela conhecia tudo, cada árvore, cada mata, cada casa ela sabia quem vivia, cada caminho ela sabia aonde ia dá, cada riacho e lagoa ela conhecia, ela era doutora na geografia daquele espaço.
Como todos os dias a madrugada nascia com o sol brilhando e rompendo a neblina, os seus raios adentravam entre as falhas nas telhas do quarto de Titi, todos os dias a estrela da manhã a acordava às seis horas. No entanto, aos dezessete anos tudo começaria a ser diferente, Titi havia acordado mais cedo, ou melhor, havia levantado mais cedo, pois, não havia dormido, ás duas da manhã estava de pé, vestiu a saia nova, a blusa que a tia lhe deu de presente, calcou a percata que acabara de comprar, e colocou os brincos que só usava para ir a igreja, colocou algumas roupas em um saco, desse de supermercado, pois, não tinha se quer uma mochila, pegou a caneta e com uma folha do seu caderno escolar escreveu um bilhete para mãe que dizia:” Mamãe eu te amo, quero ser feliz, vou imbora cum Otavio, magi vou escrever para ocê. Te amo!” Titi.
Ela dobrou o bilhete e colocou embaixo da Santa, pois, ela sabia que todo final de semana a mãe limpava a Santa e o altar que ficava na sala, desta forma, a mãe acabaria encontrando a mensagem. Após da uma olhada nos irmãos e na mãe pela greta da porta do quarto dos mesmos, suspirou fundo, tomou coragem, enxugou as lagrimas, engoliu o choro com uma dor profunda no coração e seguiu em frente, abriu a porta em silêncio e foi ao encontro de Otavio.
Estando no local marcado, Tiara se pós a esperar, porém, o tempo que não espera começou a passar rapidamente e nada de Otavio chegar, ela continuou esperando e Otavio não apareceu. De repente, Sr. Manoel, um pequeno comerciante que tinha uma vendinha por perto da estrada ia passando e disse:
- Titi o quê ocê esta fazendo aqui? – Titi respondeu timidamente e confusa.
- Eu tô esperando... não! Não, vou na igreja, na Vila.
- Há sim minha fia tu sabe qui aqui é perigoso ficar só nú é?
- Eu sei Sr. Mané, mamãe tá vindo. – Depois de se despedirem Manoel em um ímpeto falou:
- Olha Titi o amigo do seu Primo, aquele amarelo foi embora, não foi? – Risos de Manoel que parecia ter entendido o verdadeiro motivo de Tiara esta Ali, mas, no fundo apenas pasou-lhe pela cabeça tal possibilidade, pois, Tiara era Noiva de Antonio. Não obstante, após ser questionada Titi ficou muito assustada e disse:
- Eu não sei disso não! Ele foi? Foi? O Sr. Viu? – Manoel respondeu:
- Há Titi, ele foi sim, ontem na boquinha da noite ele foi embora, dizem que ele pagou o dinheiro de uma semana de trabai para João da Rural. – Manoel sabia os detalhes, pois, afinal era dono de venda, e como de Práxis, e o local onde as noticias chegam primeiro. Assim, Titi questionou atarantada:
- Ele foi mesmo Sr Mane? Foi? – os olhos cheios de lagrima Tiara parecia comprovar empiricamente os pressupostos de Manoel da Venda. Desta forma Manoel lhe questionou:
- Foi sim! Mas porque tanto espanto Titi? – tiara já nervosa respondeu:
- Por nada, por nada, eu pensei que ele ia demorar magi um pouco.
Titi começou a chorar, sentou-se no chão e de repente como se fosse a velha ironia do destino, ela fixou seu olhar em um pé de laranja que ficava perto do pé de caju, ali se encontrava pendurada uma carta que com certeza era de Otavio, ela imediatamente se levantou, pegou a carta, abriu e leu:
“ Titi, tenho que partir sem você! Vai ser melhor para nós dois, pelo menos agora, te amo como nunca amei ninguém, em breve voltarei para te buscar. Não esqueça de mim, e eu nunca esquecerei de você. Te amo! Otavio”
Titi chorou, chorou, chorou muito, e após vários dias de sofrimento, Tiara resolveu mudar de vida, ou melhor, ajeitar a sua vida, ela sabia que dali em diante tudo seria diferente, Ela não esqueceu Otavio, nem nunca esqueceria, pois, um pouco dele havia ficado dentro dela, pois, uma nova vida desabrochava em seu útero. Tiara olhou para frente, deslumbrou o horizonte lindo de Monte formoso e disse :
- A partir de hoje sou outra mulher – e seria verdadeiramente.


IV – CAPITULO: CASAR É PRECISO.

Um mês se passou desde que Otavio tinha partido de volta para São Paulo, Titi durante este tempo começou sentir enjôos diariamente, as amigas rezadeiras de sua mãe viviam dizendo que ela estava grávida, ela com o nervoso de sempre respondia:
- Ta ficando maluca Firmina – rezadeira – eu comi alguma coisa ruim, foi Jaca.
- Ta certo, deixa pra lá, deixa pra lá, é brincadeira Titi.
No fundo tiara sabia que estava grávida e que o filho era de Otavio, no entanto, a questão que lhe incomodava era o quê fazer para resolver o problema. À noite quando estava deitada pensou:
- Vou procurar logo Antonio pra gente casar logo, assim ta tudo resolvido, é, é isso, é isso.
O dia raiou e Titi logo foi a procura de Antonio, quando lhe encontrou perguntou-lhe imediatamente:
- Tonhi tu quer casar comigo? – Antonio respondeu:
- Claro que quero meu bem, só to esperando terminar o resto da casa, porque em casa de sogra eu nu moro viu?
- Ó meu neguinho eu sei, magi eu nu agüento mais. Eu quero ficar logo com ocê! – disse Titi enquanto olhava Antonio roçar.
- Magi assim Titi? – questionou Antonio balançando a cabeça e segurando a enxada fortimente.
- Assim como Antoi? Acho qui ocê ta mim enrolando, nu é? Ta sim, ocê quer mim inrolar, vou dizer a mamãe. – Tiara Pressionava Antonio, pois, sabia que era sua única chance de se livra do falatório e de ser “crucificada” pela língua do povo, sem o casamento com Antonio só lhe restava fugir de casa.
- Não meu bem, eu gosto de tu, eu nu to ti inrolando é a situação, você sabi, o dinherinho qui juntei é pra terminar a casa, mas, já qui tu quer vamo marcar o casório pra o fim do ano – Titi logo intercalou Antonio:
- Pro fina do ano não, vamo marcar pra o iniciou do megi que vem!
- Pra quê tanta presa Titi, magi fazer o quê! Qui seja como tu quiser vamo marcar o casamento. Mudando de coversa, ó Titi o moço quí tava em tua casa foi imbora e nu levou o capote dele qui eu achei no mato, mamãe lavou, ta novinho, por que ele foi imbora assim Titi sem se despedir Titi? – Titi focou nervosa e pensou se questionado por que ele puxou esse assunto agora? Em seguida respondeu:
- Acho que ligaro pra ele vorta logo, a mãe tava duente.
- É, se é assim, um rapaz tão bom, e sabido nu é Titi?
- É magi e o nosso casamento vai serno inicio de agosto, dia vinte, já vou falar com mamãe, e oçê vai dizer qui foi oçê quí quer casar logo ta?
- Ta certo, o quí eu nu faço pú ocê. – Antonio agarou ela e deu beijo, quando se libertou de Antonio titi foi logo falar com a mãe que Antonio iria adiantar o casamento e ela havia aceitado. D. Joana estava muito feliz:
- Antoi é um homi retado, corajoso. – Assim,Tiara havia resolvido seu maior problema, porém, lhe incomodava o fato de Antonio ter remotado a questão do casaco de Otavio no momento em que ela pedia-lhe para adiantar o casório. Algo estava no ar, mas,Tiara iria casar-se, mesmo não amando o Antonio ela mudaria a sua vida, seria uma Senhora com honra e seu filho mesmo nascendo de sete meses não ficaria sem um pai. -Enquanto isso na Venda Zé boca de Pimenta refletia sobre a vida de Tiara:
- Olha ai badega! como são as pessoas? São vitimas e ao mesmo tempo são vilões, a verdade é que ninguém é santo e não poderia ser, pois, todos somos constituídos de uma complexidade imensa de sentimentos como a inveja, a usura, a bondade, em fim, esses sentimentos são selecionados e usados na medida em que as nossas intenções e desejos necessitam deles para resolver os nossos dilemas, foi o caso de Tiara, “ os fins justificam os meios” já dizia Maquiavel.
- Que diabo é Maquiavel Homi? Nú repara não viajante, isso é o nome do cachorro dele, agora veja, cachorro fala boca de Pimenta?
- Olha, meu cachorro chama-se Maquiavel, ele não fala, claro! mas, se falasse ele dizia “tô doido pra morder badeguinha”!, Não fica chateado não Badega, Maquiavel foi um filosofo da política que viveu na Itália no século quinze, ele escreveu peças de teatro como “A mandrágora” e livros como “A arte da guerra”, sendo sua principal obra o livro “O Príncipe”.
- Pode internar que doído – dizia badega – fala pelos cotovelos, parece que já leu todos os livros Sr viajante, conhece tudo e ainda bebe cachaça, quer mais uma branquinha?
- Não, se não o causo vai ficar o resto para amanhã, quero café bem quentinho viu badega?
- Badega e Pimenta eram amigos e sempre faziam graça um com o outro. Após, servir o café a todos Pimenta continuou o causo.

V - CAPITULO: SEM AMOR TAMBÉM SE CASA.

O dia do casamento chegou, tudo estava pronto, mataram porcos, galinhas e ate uma novilha, compraram cerveja e muita cachaça, estava tudo acertado com o padre, o juiz, os padrinhos e as madrinhas, o casamento seria na igreja de Santo Antonio na Vila, e os festejos seria na casa de Titi.
Depois de casada Titi ficaria alguns meses na casa da mãe ate terminar a sua casa, Antonio todo sorridente não esperava a hora de se casar com Tiara e te-la em seus braços, dois dias antes do casamento ele havia bebido todas com os amigos, bebeu tanto que não agüentou levantar para trabalhar. Já Titi ouviu os conselhos de sua mãe e tias em relação à primeira relação, ela demonstrava alegria, mas, na verdade o seu pensamento viajava na busca da lembrança da sua primeira noite de amor com Otavio, ao mesmo tempo, ela temia que Antonio desconfiasse que ela não era mais virgem, mas, isso não lhe incomodava tanto como o fato de ter que se casar com um homem que ela não amava verdadeiramente, assim, o seu pensamento buscava as lembranças de Otavio enquanto Titi dizia baixinho:
- Como eu queria casar cum Otavio, ter ele em meus braço, como eu amo ele – Tiara não havia esquecido Otavio, ela o amava tanto que era preciso fazer muita força para não chorar, porém, ela sabia que a vida seguia em frente. Era preciso viver, mesmo sem ele, mesmo sem o seu amor.
Tiara estava linda, pois, alugaram o seu vestido e a roupa de Antonio, enfeitaram a igreja com flores brancas, e sob o seu véu colocaram Flores silvestres amarelas, dando um toque de Natureza intocada, ela estava deslumbrante. O Antonio estava bastante elegante, com um terno preto e uma gravata vermelha, apenas o sapato havia dado trabalho para calçar, porém, o seu rosto brilhava com a barba bem feita. Eles pareciam naquele momento que foram feitos um para o outro. Os convidados estavam todos bem trajados cada qual dentro das suas possibilidades, como eram conhecidos por todos, a Vila toda estava presente no casamento e faziam questão de cumprimentar os noivos, o povo de Monte Formoso ate hoje adora um matrimônio.
O casamento transcorreu bem, apenas no momento de dizer sim a Antonio Titi engasgou e quase não respondeu a pergunta do Padre:
- Tiara Freitas do Santos você aceita Antonio Oliveira como seu Legitimo esposo? É a terceira vez que lhe pergunto Noiva.- Dizia o padre Simão, já impaciente, pois, o mesmo tinha outros casamentos para fazer. Tiara estava fazendo força para responder, pois, era sua única chance de não sofrer com a língua da sociedade e de sua família, imagine se ela resolvesse desistir ali no altar, seria demais para sua família, ela estava gemendo por dentro, e como se fosse um bolo enorme preso em sua garganta que precisasse ser colocado para fora, ela fez bastante força e disse o sim mesmo doendo e sangrando o coração e, sobretudo, a alma.
Entretanto, a festa foi farturenta, o povo bebeu ate pela manhã e dançaram ate as pernas ficarem bambas. Como de práxis, só falavam do casamento no dia seguinte - “ aquilo é que foi um casamento!”- dizia o povo elogiado os festejos, foi conversa para um mês, pois, todos faziam resenhas do casamento de Tiara, eram muitos elogios, apenas faziam piada com Antonio, pois, o seu pé acabou rompendo o couro do sapato, e por mais que ele disfarçasse o seu dedão sempre sai pelas laterais do calçado.
- É viajante, a vida é mesmo irônica. Enquanto todos sorriam, Tiara sofria. Realmente a vida é assim, enquanto alguns são felizes, outros sempre choram, a vida ás vezes é bem amarga e se desnuda aos nossos olhos sem cerimônia, pois, olha só! Para que muitos sorrissem naquela noite, era preciso que alguém preferisse morrer, e esse alguém era Titi – Afirmava o véi Zé boca de Pimenta, como se deslumbra-se aquele momento, como se ele estivesse lá vendo o sofrimento de Tiara.
Em fim, estava consumado o casamento, pelo menos no papel Tiara era a esposa de Antonio. Na primeira noite de núpcias eles não fizeram amor, Tiara alegou esta com dores de cabeça, e as desculpas se alternaram levando Antonio a esperar duas semanas para possui-la em seus braços. No dia em que em fim Titi já não tinha mais o que inventar como desculpa para Antonio o mesmo a possuiu de modo que nem percebeu que Tiara não era mais Virgem. Após sete meses nasceria a criança que recebeu o nome de Antonio Otavio, quem colocou o nome foi Titi e Antonio não se importou que a criança tivesse como segundo nome Otavio, ninguém questionou o nascimento da criança em apenas sete meses, disseram apenas que era normal, no fundo só tiara sabia que o menino era filho de Otavio, no entanto, um mês depois do nascimento do menino, Antonio cheio de desejos logo engravidou Titi, que deu a luz a uma linda menina chamada Tacíla Maria.
A vida de Tiara prosseguiu, e após três anos de casada, em meio a muitas brigas com o marido, a mãe sempre dizia:
- Não briga com teu marido menina, ruim com ele, pior sem ele. – Tiara já não sonhava com “os menino da TV”, e nem esperava que Otavio voltasse para busca-la como havia prometido, ela havia endurecido o coração e muitas vezes vivia triste e pensativa, agora com duas crianças, Tiara vivia para cuidar dos filhos, era comum vê-la à chorar soluçando embaixo de alguma árvore, Titi não havia esquecido o seu grande amor, Otavio.
Enquanto narrava Boca de pimenta fez uma pausa e disse:
- Badega, há quanto tempo que te conheço?
- Há uns dez anos Boca.
- Eu posso te dizer com extrema convicção que não há nada pior que um casamento sem amor. – Afirmava Boca de Pimenta.
- É parece ate que já se casou uma vez, tu já se casou Boca? – perguntava badega colocando café na xícara de Pimenta.
- Eu não sei, mais se casei eu te digo um dia – risos de Boca de Pimenta. – O Véi boca de Pimenta era misterioso parecia que escondia um segredo, pois, como um homem tão inteligente vivia em uma vendinha o dia todo bebendo e conversado? Ele por trás da barba bem cheia não se revelava, mas, era querido por todos. Já era noite, pedimos um café, falamos um pouco sobre religião, em especifico sobre o candomblé, após um papo agradável e rico de informações, ele disse:
- É melhor deixarmos o restante do causo para amanhã, estou muito casado e preciso dormir, te espero aqui viajante bem cedo se quiser que eu encha o seu saco com minhas lorotas. Olha badega faz um café forte e guarda o litro da cachaça que veio do Pernambuco que amanhã eu dou cabo nela, Até! Boa noite! – Assim, aquele velho se retirou de cabeça baixa, parecia ter algumas lagrimas nos olhos, mas, Badega disse-me que era assim todos os dias, fiquei refletido um pouco sobre o Véi Zé Boca de Pimenta, e preferir não chegar a nenhuma conclusão apresada, paguei a conta e fui para pensão que tinha o nome da Vila.


VI – CAPITULO: EM BUSCA DE NOVOS ESPAÇOS.

Bom dia viajante! – falou Badega comigo quando eu estava entrando na Venda, o mesmo já estava servido o café da manhã ao Véi Boca de Pimenta, ele comia pão com passarinha frita acompanhado de bastante vinagrete com muita pimenta, ele adorava, comia mais de quatro pães, com a boca cheia, olhou para mim e disse-me:
- Entendeu por que mim chamam Boca de Pimenta. Como passou a noite?
- Passei bem, e o Sr?
- Como sempre, após dois copos de vinho todo mundo dorme, não é? – risos de Boca de Pimenta que depois de tomar seu café exótico pediu que Badega colocasse uma dose de cachaça e perguntou-me se poderia continuar o causo, eu respondi que sim, desta forma, ele tomou a cachaça e começou a falar.
O filho de Tiara ficou doente e após muitas idas e vindas nos médicos da região e sofrendo nas filas do SUS, ficou diagnosticado que o menino deveria fazer uma cirurgia urgente no coração, a qual só era feita de forma gratuita no estado São Paulo. Titi tinha uma tia que morava em Sampa, chamava-se dona Cremilda, a mãe do seu Primo Mascarenhas, o qual havia levado Otavio para passar o São João em Monte Formoso. Tiara não perdeu tempo, angariou dinheiro com os parentes, e Antonio não fez cerimônia, pegou sua economias e deu para Tiara Viajar, ele não podia ir, teria que ficar para tomar conta das coisas, entretanto, apesar de desconfiar da sua paternidade em relação ao menino ele nunca havia dito isso a Titi, ele demonstrava que amava muito o garoto, e realmente amava “O Toizinho”, como ele o chamava carinhosamente.
Sendo assim, Tiara seguiu viagem com os seus dois filhos, a qual transcorreu normalmente, no entanto, quando a mesma chegou em São Paulo ficou bestializada com os prédios, e o corre-corre das pessoas. Ela pegou um táxi e pediu que lhe levasse no endereço que estava escrito no papel, ela não tirava os olhos da janela do automovel, Tiara ficou impressionada com o transito, não imaginava tamanha organização, ela se questionava – Como é que não acontecer toda hora um acidente?- Os edifícios lhe deixa de boca aberta, ela não entendia como era possível se construir um prédio tão grande, na verdade viajante, o espaço urbano é por exelência humano, nele tudo é resultado da somatória da cultura humana em diversas épocas, é um acumulo de memórias e informações que faz um ser humano que não tem contanto costante com esta realidade ficar perplexu e impresionado. Após uma hora de viagem pela grande São Paulo Tiara chegou na casa de sua Tia D.Cremilda.
- Como esta Tia? Vim lhe abusar! – dizia tiara sorridente por vê a tia, a qual, ela não via há dez anos.
- Que nada minha filha! É um prazer ti receber em minha casa, e como esta à criança e o povo?
- Bom Tia, o Povo tá bem, mamãe mandou lembrança e farinha e beiju pra Senhora, magi, o Toizinho esta muito doente, olha só! quem olha para ele não diz que ele esta doente, nu é?.
- É mesmo minha filha, mas, vamos entrando para cozinha, vamos tomar um café, eu quero saber como esta todo mundo lá em Monte Formoso.
Depois de colocar os papos em dia com a Tia, Tiara estava feliz, pois, além ter conseguido fazer uma boa viagem sentia que tudo iria dá certo, não obstante, ela também imaginava que poderia encontra Otavio e lhe apresentar o seu filho.
Os dias se passaram, Titi levou o filho para fazer os exames, realmente a criança Precisava da cirurgia, desta forma, os médicos marcaram o dia da realização da mesma. Tiara estava muito apreensiva, chorava pelos cantos com medo de perder o seu filho, ela também sempre ligava para o posto telefônico da Vila para mandar noticias do menino e saber como todos estavam, uma vez que, a saudade do seu lugar também lhe maltratava o coração. Ela não entendia como a vida transcorria em São Paulo, uma vida onde as pessoas são sempre estranhas, onde tudo se passa sem um aperto de mão, ela não entedia aquele viver, assim, se fazia de lagrimas, pois, fazia um mês que ela estava fora de Monte Formoso.
Chegou o dia da cirurgia, todos estavam nevorsos, pois, a Cirurgia era delicada. Tiara se mostrava bastante atarantada, tremia as mãos e não controlava as lagrimas, vendo a sua condição, o seu primo Mascarenhas disse que tinha uma supressa para ela, de imediato ela imaginou:
- Será que é o Otavio? – Em seguida ela fez a mesma pergunta a Mascarenhas, este, no entanto, disse que ela seguisse para o saguão do hospital que encontraria a resposta. Com passos ligeiros e como o filho nos braços Tiara foi à sala de espera e quando lá chegou encontrou o grande amor de sua vida, sua pernas bambearam, os olhos escureceram, a garganta se fechou e ela quase desmaiou, após respirar fundo, ela se recompôs e disse:
- Otavio ! Como está você? Esta muito bonito e forte!.
- Que nada Titi, Você é que continua linda, que pena que nos encontramos neste momento tão triste, mas tudo vai dá certo com fé em Deus! Quanta coisa aconteceu Titi, tudo mudou, só uma coisa não... – De repente Tiara foi chamada para levar o filho para se preparar para Cirurgia. Em prantos ela dizia:
- Sr. Medico cuide do meu filhinho, pelo amor de Deus salve! salve o meu filho, salve o meu filho – o medico respondeu:
- Fique tranqüila Senhora tudo vai dá certo. – assim, as enfermeiras tomaram a criança a qual foi chorando e gritando o nome da mãe, Tiara não suportou aquela situação e desmaiou nos braços de Otavio.
As horas passavam e nada, nada de noticias, Tiara foi medicada e estava mais calma, ela percebeu que Otavio estava ali perto dela desta forma começaram a conversar:
- Vinho você não mim esperou, eu sofri tanto, mas tanto que você não imagina! – Falava Tiara com os olhos cheios de lagrimas preocupada com o filho e também pelo fato de ter encontrado o seu grande amor, olha Badega, dizem que não se chora por duas coisas ao mesmo tempo, mas, Titi Chorou. Assim, Otavio respondeu:
- Eu imagino Titi que você tenha sofrido muito com minha partida, mas, tinha que ser assim, eu não tinha naquela época dinheiro para manter nós dois aqui, você sabe tudo aqui é pago, e eu estava estudando ainda. Titi então disse:
- Você nem se quer mandou uma carta para mim, escondido por alguém.
- Não tinha como Titi, e agora não dá para chorar pelo passado.- Otavio tentava acaba com a conversa evitando os pormenores dos ressentimentos, pois, para ele não valia a pena tal discussão. Por conseguinte, Tiara respondeu:
- Você tem razão, mas, minha vida mudou por sua causa, hoje tenho dois filhos, sou casada, tivi que casar ligeiro.
- Casar ligeiro por quê? – indagou Otavio.
- Há você não sabe, é mesmo, mas é hora de saber, é uma boa hora de você saber! – As lagrimas de Titi escorriam fortemente na sua bela face.
- Saber o que tiara? – Questionou novamente Otavio.
- Bom Otavio, quando você foi embora, após um mês eu comecei a enjoar, não queria ficar falada e acabei pressionado o bom homem do Antonio para casar comigo, o que veio a acontecer.
- Você está querendo mim dizer alguma coisa Titi? – Perguntou Otavio meio desconfiado e imaginado a provável resposta que Tiara lhe daria.
- Não! Claro que não, eu já disse, você é que não entendeu, num sabe, esse menino que esta agora entre a vida e a morte chama-se Antonio Otavio, ele esteve comigo desde que você se foi, foi um pedaço de você que ficou em mim, que não mim deixou te esquecer ate hoje, ele é seu filho Otavio, seu Filho. – Otavio não conteve as lagrimas abraçou fortemente Tiara e pediu perdão. Ele ficou desesperando ao imaginar que poderia nunca mais ver seu filho, o filho do seu grande amor, ele pediu empenho dos médicos, corria de um lado para o outro, ele queria conversar ainda com seu filho que tinha apenas três anos.
Enquanto isso na venda, o Véi Boca de Pimenta parou à narrativa tirou um lenço do bolço de sua camisa e enxugou duas lagrimas que escorria no seu rosto, em minha mente se passaram novamente mil questões referente a ele, mas, preferi acreditar que ele era um homem bastante sensível. Depois das lagrimas Pimenta levantou foi para porta da venda, olhou para o sol, saldou um rapaz que passava, em seguida retornou, pediu água e enquanto bebia continuou a história.


VII- CAPITULO – LAGRIMAS MATERNAS.


Os minutos pareciam intermináveis, as horas pareciam dias, Tiara esperava ansiosa por noticias do filho que estava sendo operando, já cansada, cochilava no ombro de Otavio, mas, quando ouvia a fala de algum enfermeiro subitamente acordava assustada pedindo noticias do Toizinho, normalmente ouvia uma resposta evasiva como “ta tudo bem” ou “tenha calma”, ela chorava e o seu consolo era vê e não acreditar que Otavio estava ali bem pertinho dela.
Após cinco horas de longo sofrimento apareceu um medico com cabelos grisalhos e olhos azuis que demonstrava um pouco de abatimento, ele se aproximou da sala de espera e disse:
- Dona Tiara Freitas de Oliveira a mãe de Antonio Otavio Freitas de Oliveira comparece ao meu escritório. – De imediato Tiara se levantou, abraçou Otavio que cabisbaixo falou no seu ouvido:
- Tudo vai dá certo Titi, Boa sorte.- Titi foi largando a mão de Otavio vagarosamente e se dirigiu para a sala do doutor muito apreensiva, quando já estava na sala do medico disse:
- Como esta meu filho doutor? Como ele está? – O medico demonstrado cansaço refletia no seu rosto um ar de que o fausto havia acontecido, mas, ele pediu para Tiara sentar-se, e também pediu calma, em seguida falou:
- Bom D. Tiara a operação foi muito delicada, tivemos muitos momentos de dificuldades na cirurgia, porém, o seu filho ressitiu como um leão e passa muito bem. Ele vai ficar bem. – Tiara não se conteve abriu a porta a saiu chorando de felicidade, abraçou Otavio e disse-lhe:
- Nosso filho esta bem Vinho, Nosso filho esta bem. – os Dois em prantos se abraçaram e se beijaram. Algum tempo depois chegou o primo Mascarenhas com a mãe Cremilda, todos chorando de felicidade pelo sucesso da operação. A principio D. Cremilda chegou ate a pensar que Tiara estivesse namorando o amigo do filho, pois, os dois estavam abraçados de modo que demonstrava uma certa intimidade, no entanto, ela preferiu ficar com a hipótese de que foi um abraço de comemoração pelo bem esta do menino. D. Cremilda, uma mulher maliciosa e vivida não sabia da aventura amorosa de Tiara com Otavio.
Os dias passaram e Toizinho foi se recuperando, o pai ia brincar sempre com ele, mas, ele dizia que o pai dele era Antonio o que machucava muito Otavio. Titi ligou para a família em Monte Formoso para falar da recuperação do Menino, todos ficaram felizes. No entanto, em São Paulo ela continuou se encontrando com Otavio, chegaram ate a irem ao cinema e em locais que ficassem mais à vontade. No entanto, Tiara não imaginava o que estava por vir, ela não sabia que Otavio tinha uma namorada, o que era normal para um jovem de vinte e oito anos, entretanto, este fato seria para ela uma grande decepção, pois, ela acreditava que Otavio estava sozinho.
Otavio estava prestes a acabar com o relacionamento que tinha com uma ex-colega de faculdade, mas, não tinha coragem, pois, já namorava a moça a mais de dois anos, e esta esperava que ele ficasse noivo, não obstante, com a chegada de Tiara, o seu amor do passado estava bem presente o que reacendeu sua paixão e ele não queria novamente deixar para trás o seu grande amor, afinal, ele tinha um filho com Titi, e neste sentido, ele queria educa-lo e vê-lo crescer.
Aproximava-se o retorno de Tiara, Toizinho já estava bem, Titi agora sofria não mais com a doença do filho, mas, com o fato inexorável de ter que se separar de Otavio, ela não entendia por que a vida separa duas pessoas que se amam de verdade.
E por falar de amor de verdade, viajante, você já teve um amor de verdade? - Mim questionou Boca de Pimenta e de imediato respondi:
- Acredito que sim pimenta, e hoje eu aprendi que o amor é o que nos deixa mais feliz, mais construtivo, mais inventivo, porém, não há nada, nada que nos faça sofrer com tanta intensidade, e o pior é que quando se sofre por amor nada pode aliviar a dor, você não acha Badega? – este sorriu e respondeu:
- Acho que sim, mas, você também dá um bom contador de história em ?! Fala bonito nu é Boca? – o véi pimenta respondeu.
- Claro! Ele falou muito bem. Eu também já tive um grande amor que ate hoje não morreu. Eu sei muito bem que um amor verdadeiro não morre, amor que é amor tem que ser eterno. Mas, voltemos a Tiara.
Titi resolveu fazer uma supresa à Otavio, pegou o Ônibus e se dirigiu a faculdade que Otavio estudava, antes comprou uma camisa para ele, e junto colocou um cartão que dizia:” te amo e quero ficar para sempre contigo. Titi” . Quando chegou na faculdade foi ao encontro de Otavio, Antes ficou impressionada com a cidade universitária que é a USP, quando ela em fim chegou na sala que Otavio estudava o seu coração partiu, ela se deparou com uma cena que jamais imaginava vê, o seu coração se dilacerou, pois, Otavio estava aos beijos com uma linda garota. Tiara calou-se, não fez escândalo, deu as costas à cena, as lagrimas eram infindas, a dor igual a da morte, o sentimento de ódio se manifestava como uma simbiose de paixão, pecado, amor e raiva. Tiara era uma multiplicidade de sentimentos e incertezas.
Ela chorou todo amor por Otavio e quando chegou em casa arrumou suas coisas e também sorriu da vida, disse a Tia que iria embora no outro dia, D cremilda não questionou sua intenção de ir embora, pois, Tiara protelava sua volta alegando que o menino não estava totalmente recuperado o que era mentira, pois, o que lhe mantinha em Sampa era a presença de Otavio na sua vida. A Tia já estava desconfiada que ela estava tendo um caso, mas, não sabia com quem, apenas fazia conjecturas, por isso, disse com uma certa frieza “não vai não Titi.” Como quem quer dizer “tá passada de ir embora” . Titi que não era burra decodificou a mensagem da Tia e partiu no dia seguinte bem cedo.
Quando Otavio ficou sabendo que Titi iria embora no outro dia, ficou atarantado, seguiu cedo para a rodoviária na madrugada, louco para vê o filho e dizer a sua amada que queria ficar com ela. Quando chegou, Tiara já estava dentro do Ônibus em movimento com os menino, sendo assim, Otavio se pós a gritar:
- Eu te Amo!, meu amor! , amor da minha vida! não vá embora, eu quero ficar com você. – Tiara soluçando, pegou um lápis e um pedaço de papel e escreveu rápido, pois, o ônibus já estava saindo do terminal:
- “Otavio a esperança morreu, te amo, magi, o sonho acabou, fique cum sua lora” – Em seguida jogou o bilhete pela janela, o qual, Otavio se esforçou correndo atrás do ônibus conseguindo pega-lo, após a leitura, ele de imediato se lembrou que um colega havia lhe dito que uma moça tinha lhe procurado na faculdade, ele logo concluiu que Tiara havia lhe visto com Sâmara, sua ex-namorada, pois, ele já havia acabado o relacionamento. Otavio chorou de saudade por mais um ano, só que agora ele mandaria cartas para Titi mesmo sem esperanças de te-la novamente nos seus braços.


VIII – CAPITULO – DE VOLTA PRA CASA


A viagem para Monte Formoso não foi muito tranqüila, Tiara estava muito mal, ela culpava a se mesma por ter sido relutante e não ter decido do ônibus para ouvir as explicações de Otavio, ela pensava em desembarcar na rodoviária mais próxima, tomar um novo ônibus e retornar para São Paulo, no entanto, ela sabia que se voltasse a Tia notaria as suas intenções e a convivência com ela não seria das melhores, Titi já estava sem dinheiro, desta forma, ela só poderia seguir viagem para Monte Formoso, Tiara também morria de saudades de sua terra natal.
Após muito choro, rompeu no rosto de Titi aquele lindo sorriso que encantava todas as pessoas que com ela tinham contato, a causa da alegria era Monte formoso que já estava ao alcance de sua visão. A Vila como você pode observar viajante é pacata – Afirmava boca de Pimenta -, tem um povo manso, e hospitaleiro, o comercio esta crescendo, mas, a maior beleza desta Vila além de Tiara são arvores seculares, olhe viajante, chegue aqui na porta da venda, esta vendo na frente da casa do Sr.Tadeu aquela árvore? – indagou o Véi Boca de Pimenta.
- Sim! Estou vendo.- respondi com curiosidade.
- É um pé de tamarino que tem mais de duzentos anos, é uma relíquia da Vila. Voltemos a Titi.
O seu coração pulsava forte, ela queria vê todos amigos, abraçar todos, os seus olhos lagrimejavam de felicidade, por um instante Tiara não pensava nos problemas que tanto lhe machucava, ela deixava o vento que soprava em seu rosto levar as memórias tristes. Em um piscar de olhos o carro parou na Vila e Tiara se viu na praça deslumbrada com o seu lugar, pouca coisa havia mudado, um exemplo era a casa de D. Maria, uma amiga de sua mãe, estava no mesmo local, apenas tinha mudado de cor, pois, era azul e tinham pintando a mesma de amarelo, isto parecia uma mudança singela na Vila, mas, quando as coisas mudam devagarzinho em um lugar pequenino no cantinho do mundo, o simples fato de se pintar à fachada uma casa transformar toda uma paisagem cultural e impressiona quem esta retornando de uma viajem.
A Vila estava a “mesma” coisa, com suas arvores enormes que enfeitavam a praça, o parquinho das crianças estava ali no mesmo lugar, os idosos continuavam jogando dominó perto de um quiosque que ficava próximo ao ponto das rurais, e o pequeno mercado da Vila demonstrava a dinâmica e a prosperidade econômica de Monte Formoso. De repente, Tiara tomou um susto, muitos homens estavam trabalhando próximos a Igreja de Santo Antonio, as pessoas disseram a Titi que estavam construindo uma quadra de esportes para incentivar a pratica de atividade físicas na Vila, Tiara ficou muito feliz, pois, pesava que estavam destruindo a igreja.
Tiara estava muito cansada, e não tinha tempo para visitar os parentes que moravam na Vila, ela imediatamente pegou uma rural e se dirigiu para sua casa no povoado de Pirorá. Titi lembrou que teria que da um novo rumo a sua vida, ela não queria ficar mais enganando Antonio, portanto, iria lhe propor a separação. Em relação a Otavio, a sua razão dizia-lhe para esquece-lo, mas, o coração, o qual é mais forte, não deixava. Tiara havia passado três meses fora e teve muito tempo para repensar sua vida. Quando chegou em casa foi recebida aos abraços e beijos pela família; Antonio abraçando-lhe dizia:
- Meu benzim qui saudade, Eu te amo – Antonio chorava de felicidade por esta com os filhos e a mulher. Titi respondeu:
- Eu também estava com saudade de você Tonhi. – Enquanto abraçava Antonio Tiara divagava - agente não escolhe quem amar, eu deveria amar este homem, ele mim ama tanto. – A mãe D. Raimunda estava louca de tanta alegria, ela chorava e gritava:
- Minha fia, minha fia te amo, tu ta é bunita em? – Tiara disse:
- Bença mainha! ta tudo bem com todos, não esta? – a mãe disse:
- Óia só! tá ate cum sutaque de paulista, qui coisa – Risos de D Raimunda -, tá tudo bem minha fia, teu irmão João qui a jararaca mordeu, magi já tá tudo bem.
Após entregar os presentes, e relatar como estavam todos em São Paulo, Tiara tomou um banho, comeu uma farofa de ovo de quintal e sentou-se embaixo de um pé de maga espada à degustar o fruto, Tiara era louca por manga, enquanto se deliciava o semblante de Otavio a chorar no terminal lhe perturbava mesmo ela fazendo força para esquece-lo.
A noite chegou e com ela a trovoada do verão de setenta e dois, com seus relâmpagos intermites e trovões escandalosos foram à trilha sonora do sono de Titi com os filhos, pois, Antonio resolveu não incomodar a esposa, a qual, disse que estava muito cansada. Tiara tinha apenas vinte e dois anos, Otavio vinte e Oito e Antonio trinta e um, vidas diferentes, experiências diversas, anseios e planos para transpor as portas do presente para o futuro antagônico, no entanto, estavam todos ligados pelo amor e pelo desejo, não obstante, ninguém esperava que mais uma pessoa entrasse nesse triangulo amoroso, porém, Efraim, um comerciante que tinha em torno de quarenta e cinco anos, era casado e tinha um casal de filhos, ele era um coroa malhado, falava bem e tinha fama de conquistador, praticava corrida todas as manhas, ele dizia ter servido o exercito, Efraim tinha morado em São Paulo, e como afirmava; - fiz a vida por lá, meu pé de meia, não sabe meu chapa? - Este homem entraria em cena na vida de Titi para mudar o curso de toda historia e do suposto “equilíbrio” do triangulo amoroso.



IX – CAPITULO: JOVENS REBELDES, PORÉM COM CAUSA.

A vida de Otavio em São Paulo não era fácil, ele era filho de um casal de proletários, seu pai, o Sr.Tarcisio Fernandes trabalhava em uma montadora de automóveis, sua mãe, a Sr. Lucia, era professora do ensino médio, diríamos que Otavio pertencia à classe media baixa, ele tinha duas irmãs, Rafaela e Otília, esta ultima era a casula, todos descendentes de espanhóis.
Otavio não passava fome, nem lhe faltava roupas e calçados como faltava para muitas pessoas de Monte Formoso, não obstante, Otavio era um militante que lutava para acabar com a ditadura militar, como muitos colegas, ele era idealista, sonhava com um Brasil mais justo, onde no mínimo as pessoas pudessem viver com dignidade, tendo um teto para viver, o pão de cada dia, saúde e educação de qualidade.
Otavio sonhava com o fim da corupção no seu País, ele era um marxista que valorizava a cultura, o seu pensamento se norteava nos postulados de Levy strauss, Marx, Lênin, Max Weber, gostava de lê tudo, amava poesias e prosas bem compostas como os livros de Aluiso de Azevedo, Lima Barreto e Machado de Assim, ele também gostava de musica popular, era fã de Raul Seixas, Otavio também se identificou muito com o movimento da Tropicália, movimento este que teve como grandes expoentes Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Com toda essa carga teórica, Otavio era líder por essência de movimentos contra a ditadura. Quando os militares decretaram o AI-5, ele foi preso e rancaram um pedaço do seu dedo indicador para que ele confessa-se que participava de uma guerrilha urbana, contudo, não o mataram, pois, um milagre aconteceu, um amigo do seu pai era sargento e o reconheceu, o que facilitou sua soltura. Otavio viveu intensamente a sua vida universitária, como um homem fruto de sua época, Otavio lutou pelos seus valores, lutou por tudo que ele acreditava ser verdadeiro, ele não morreu como muitos jovens tão inteligentes quanto ele que foram decapitados, metralhados, enterrados vivos, que ficaram malucos de tanta tortura psicológica, Otavio viveu para ser testemunha de uma das paginas mais escuras e tenebrosas da história do Brasil.
- Pimenta! o Senhor fala desse rapaz como se conhecesse ele pessoalmente. Você o conheceu? – Eu indaguei o Véi Boca de Pimenta que ficou um pouco espantado.
- Bom, digamos que sim, e acho que você viajante vai conhece-lo também? – Sorriu pelo canto da boca o Véi Pimenta
- Por que falas isto? – Novamente resolvi questiona-lo.
- Por que todos que ouvem a Historia de Tiara resolvem conhecer Otavio. – Com respostas evasivas, Pimenta se escorregava com frases simplórias e bem objetivas, parecia querer esconder alguma coisa.
- Há entendi. – neste estante preferi não dá prosseguimento às questões que surgia em minha mente, assim, o Véi Zé Boca de Pimenta continuou sua narrativa.
Quando Tiara foi embora, Otavio se meteu de vez nos movimento com o fito de acabar com a ditadura militar, ele sofria com saudades do filho e do seu amor, Otavio imaginava o menino crescendo longe dele, sem reconhece-lo como pai, tudo isso lhe machucava muito, Ele se preocupava com a educação de Antonio Otavio e nas cartas que escreveu para Titi sempre pedia para que ela colocasse o menino na escola. O tempo passou, Otavio terminou a faculdade de Antropologia, fez pós-graduação e escreveu livros que lhe deram notoriedade nacional, mesmo com todo sofrimento Otavio ficou três anos sem vê Tiara e o filho, apenas mandava cartas e recebia poucas, para ser preciso, neste intervalo de três anos ele só recebeu três, em uma destas, Tiara pediu-lhe que mandasse uma foto.
Apesar do tempo, Otavio sonhava em reencontrar o seu amor e seu querido filho, Otavio estava construindo o seu futuro, ensinando em algumas universidades particulares de Sampa. Em uma Natal ele mandou presentes para Otavinho e Tacilinha, os meninos ficaram muito felizes, Tiara disse aos filhos que foi o Tio Otavio de São Paulo que mandou, o marido Antonio nem ligou. Otavio estava se preparando para vim embora para Bahia, ele prestou concurso para ser professor da UFBA, passou e se preparava para vim morar em Salvador, a distância da capital da Bahia para Monte Formoso eram só Cento e sessenta quilômetros, Otavio não via a hora de efetivar a mudança.

X – CAPITULO: O DESEJO DO NOVO

O tempo passou Badega, como passa sempre, aliás, já é meio dia Badega, tem o quê pra gente “papa” ai? – perguntou Boca de pimenta sorrindo com seu amigo quitandeiro que imediatamente lhe respondeu:
- Bom! Pensei que iam ficar conversando a tarde toda sem se quer beber água. Eu fiz uma feijoada, tem arroz e carne assada com salada de tomate. Já ia esquecendo! Também tem salada de maionese. Vai querer viajante? Tu nem precisa responder Pimenta. – Eu disse a Badega que queria experimentar os seus dotes culinários, assim sendo, sentamos nos tamboretes bem pequenos que circundavam a mesa rústica que ficava no lado direito do balcão, a mesma estava cheia de nomes de pessoas, tais nomes estavam riscadas nas tabuas da mesa, os riscos foram feitos provavelmente de faca pelas pessoas que por ali almoçavam, normalmente eram Viajantes, eu meio sem “querer querendo”, ou simplesmente levado pela força da tradição escrevi de forma bem tímida no cantinho da mesa o meu nome; Alex D’Jesus.
Na parede tinha uma folhinha de mulher nua, estava cheia de casas de aranha, a venda era escura, tinha apenas uma janela miudinha que deixava entrar um pouco a luz do sol, a mesma tinha uma lâmpada pequena que contrastava com o telhado escuro, mas, contudo ela melhorava a visão, principalmente do quadro da Primeira Santa Ceia que ficava em frente à folhinha de mulher nua criando um contraste entre “pecado” representado pela folhinha em relação à santidade representado pelo quadro da Santa Ceia.
Almoçamos, a comida estava deliciosa, o Véi Boca de Pimenta comeu mais da metade do molho de malagueta, tomou durante o almoço três cachaças, sorria sem dizer o por quê, eu não imaginava o motivo de tanto sorriso, perguntei a Badega por que ele sorria tanto, Badega disse-me que era sempre assim, Badega afirmou que nunca havia lhe dito o motivo das gargalhadas. Depois do almoço, “sem mais nem menos”, Pimenta começou a continuar a narrar a história de Tiara:
- E assim se sucedeu Viajante, como havia dito, o tempo passou e todas as esperanças de Tiara se perderam no ar, ela não se separou de Antonio, resolveu não lhe machucar, pois, acreditava que Pé de Chumbo poderia se matar se a perdesse, ele fazia qualquer coisa por ela, entretanto, mesmo tendo dentro de se aquela semente de amor por Otavio, Tiara não resistiu às inúmeras cantadas do comerciante Efraim.
Como já disse, era um homem educado e vistoso, Titi sempre se dirigia ao seu mercadinho para comprar as coisas que faltava em casa, e ele sempre soltava um galanteio, um dia deu-lhe ate flores, outro dia um par de brincos, na primeira vez que Efraim lhe “cantou” Tiara vançou nas barbas do mesmo e disse que iria contar tudo para o marido, porém, com o tempo Titi foi gostando da forma carinhosa que Efraim lhe tratava, Antonio não sabia de nada, Titi dizia que tinha comprado os brincos e as flores que ganhava ela deixava na casa de uma amiga, o fato é que Tiara já estava abalada e atraída pelo jeito meigo e ao mesmo tempo másculo de Efraim.
Não tardou para acontecer o primeiro beijo e o primeiro abraço, era apenas uma questão de tempo o desenrolar de uma paixão marcada apenas pelo saciar do tesão que ambos sentiam um pelo outro, pois, amor, amor de verdade, destes que nos deixa como essa cerveja bem gelada quando vemos quem amamos, Tiara só sentia mesmo era por Otavio.

XI – CAPITULO: ASSIM TAMBÉM SÃO AS PESSOAS.

Efraim tornou-se amigo de Antonio, pois, este ultimo quando acabava os seus afazeres sempre se dirigia a venda do quitandeiro para tomar alguns “Jilós” e jogar conversa fora. Efraim era comunicativo e sempre estava informado, ele esclarecia para os fregueses questões de política e economia, afinal Viajante, a venda também é um lugar muito especial, pois, nela se dá a informação.
O comerciante acabou conquistando Antonio, tornou-se amigo, começaram a marcar almoço e churrasco em suas residências, eles sempre alternavam as casas. Antonio acabou dando a filha para Efraim batizar para enlaçar mais ainda a amizade, em fim, tornaram-se compadres.
Os almoços e churrascos eram marcados pela alegria das famílias, mas, quem estivesse presente não precisava fazer muito esforço para ver como Efraim olhava para Titi, não obstante, a recíproca era a mesma. Quando Tiara se dirigia a cozinha Efraim dizia ir ao banheiro verter água, eles se encontravam entre os corredores da casa e ali mesmo se beijavam rapidinho para ninguém vê. Antonio, coitado, se percebia os olhares entre os dois fingia não vê, se não via era vitima da mais leviana traição. Em um desses churrascos quando Tiara foi ao encontro de Efraim na cozinha de sua casa, Antonio ouviu alguns gemidos, ouviu também um copo se quebrar, assim ele se dirigiu para cozinha, chegando lá, encontrou Tiara e Efraim conversando, imediatamente ele disse:
- O quí ta acontecendo aqui Tiara – Um pouco desconfiado, ele não queria acreditar que estava sendo traído e esperava uma resposta convincente da esposa, desta forma Titi respondeu:
- Foi nada não Tonhi, o Gato qui quebrou o copo, tava atrás da carne Fresca. – Antonio interpelou-a:
- Magi eu ouvi uns gemido diferente, de muié no sió, foi sim! – Tiara respondeu:
- Tu ta ouvindo demais, parece qui ta ficando maluco, pogi de muié só tem eu aqui com compadre Efriam, só se ele tivesse mim agarrando, nu é compadre? – Efraim respondeu as gargalhadas:
- Claro que sim ra, ra, ra, ra, onde já se viu Antonio, vamos tomar mais uma. – Assim, todos saíram sorrindo e bebendo da cozinha, parecia que nada estava acontecendo, mas, Antonio tinha percebido algo diferente, talvez fosse hora de mudar.
Tiara continuou traído o marido, quando Antonio viajava para vender sua produção nas cidades vizinhas Tiara dava show, se emperiquitava toda, colocava a roupa mais sensual, deixa os filhos com uma amiga dizendo-lhe que ia a uma reza. Na verdade, Titi esperava chegar a hora da venda de Efraim fechar, pois, ele já estava a lhe esperar lá dentro, quando ela chegava batia suavemente na porta, ele imediatamente abria e lhe arrastava para dentro como um leão feroz que estava sem comer há dez dias. Uma vez lá dentro faziam loucuras.
Tiara vivia aquele relacionamento sem sua consciência lhe condenar, uma vez que, quando ela falava a palavra separação Antonio saia e nem se quer lhe dava ouvido. Tiara tinha um carinho para com Antonio, pois, ele era um bom pai, brincava com as crianças, levava elas para passer no rio, fazia casa de palha para eles, ele era muito feliz com as crianças, e Titi lhe admirava muito, mas, a sua admiração não era bastante para lhe ser fiel, pois, ela estava decepcionada com o seu grande amor o que tirou o sentido de sua vida, sendo assim, o seu relacionamento com Efraim era uma forma de esquecer por alguns instantes Otavio.
Apesar de sua atração por Efraim, o coração de Tiara era de Otavio, um dia quando ela estava no rala e rola com o amante ela disse:
- Ai, Otavio mim beija, mim beija neguinho.
Efraim imediatamente perguntou:
- Tiara tu ta com outro nego, mulher? Eu te mato! Quem é Otavio?
Vendo Efraim muito nervoso Tiara se pós a contar a sua vida a ele, que logo se acalmou quando Titi disse que não tinha mais volta o relacionamento com Otavio.
O que Tiara não sabia é que a vida tem suas supresas, e ela não esperava que um certo Dr. Fernandes viesse a comprar uma fazenda em Monte Formoso. O grande amor de sua vida estava de volta.

XII – CAPITULO: ENTRELANCANDO O AMOR, O DESEJO, A BONDADE, E A BELEZA .

Otavio estava de volta, arrumou a fazenda colocando estacas e arame novo, na Vila não se fala em outra coisa, diziam:
- Tem um novo Doutorzinho aqui, comprou a fazenda de Ambrosio casquinha e ta reformando tudo, ele disse que vai plantar limão e criar gado de leite. – O povo dizia que Otavio era dentista, outros doutor de maluco, ninguém sabia que ele era antropólogo, quando alguém se habilitava a pronunciar a palavra diziam:
- Ele é Astrogo, Antogulu, atopilogu, diz ele qui estuda gente, qui gente eu nú sei - falavam muito, do seu modo, com sua gramática peculiar que caracterizava o seu espaço, era assim quando chegava um forasteiro todos falavam bem e mal sem se quer conhecer a pessoa.
Muitos camponeses foram pedir trabalho a Otavio, este acabou contratando alguns lavradores, Otavio tratava de forma diferenciada os seus empregados. Eles mesmos diziam que os fazendeiros da região eram pessoas ruins, pois, nem se quer olhavam para eles para lhes desejar um bom dia de trabalho, queriam apenas vê verter a ultima gota de sangue dos homens, mulheres e crianças que trabalhavam nos seus laranjais e na criação de gado. Otavio era diferente, falava com todos, queria saber a vida de cada um, suas histórias e anseios de vida, ele mandava servir para seus trabalhadores mingau toda manhã, sempre fazia churrasco e fazia questão da presença de todos. Otavio também ia nas casas de seus empregados, principalmente nas rezas de São Cosme e São Damião, ele comia caruru, batia pandeiro, sambava, bebia. Otavio conquistou a todos, sua fama correu e todos queriam trabalhar para ele, assim, Otavio conquistou muitos amigos, mas, inúmeros inimigos poderosos, como os fazendeiros e políticos da região.
Os “coronés” estavam com medo de Otavio torna-se uma referencia na Vila, tornado-se um homem muito poderoso, pois, Otavio era estudado e sempre estava esclarecendo o povo dos seus direitos e deveres. Eles matavam cabeças de gado de Otavio, o criticavam chamado-lhe de idiota, diziam:
- É idiota mesmo esse tal de Otavio, em vez de se juntar com nogí, ele se preocupa com a negada, com os Pé rapado, só nú quero quí se meta nós meus negócios. – afirmava um fazendeiro conhecido por Coroné Raposino, famoso por batiza os filhos dos pequenos proprietários de terra, para estreitar os laços de parentesco, o que facilitava a grilagem das terras dos compadres.
Quando Otavio chegou Tiara logo ficou sabendo da noticia da chegada de um novo fazendeiro chamando de Fernandes, isto não despertou o seu interesse, mas, quando sua mãe chegou da Vila e lhe disse que o novo fazendeiro era um tal de Otavio Fernandes, Tiara disse:
- É ele mamãe, com certeza é ele, Vinho veio embora! – Tiara sorria escandalosamente. A mãe falou:
- O que é isso muié? Ta doida? Quem é esse Otavio?Tu cunhece ele menina? Tiara respondeu:
- Ele mamãe, aquele rapaz qui veio cum Mascarenhas naquele São João, aquele qui foi imbora sem Avisar. – D. Joana respondeu desconfiada:
- Rum, já sei! E mode que tanta alegria? Ficou ate asanhada. – Tiara respondeu:
- Não mamãe, eu to feliz pur ta mesmo, né por isso não, magi é bom rever amigos, nu é? – D. Joana respondeu torcendo a boca como se estivesse sussurrado:
- É...
Muitas pessoas falavam mal de Tiara, diziam que ela era uma Gandanga, Raposa, Vassoura, Rapariga do Comércio, este ultimo fazendo alusão ao seu romance com Efraim. Titi estava defamada, um dia Antonio chegou na venda e um colega disse:
- Quem tem muié bunita em casa tem qui toma conta, principarmente quando vai pá cidade e deixa ela em casa.
Antonio ficou todo desconfiada e resolveu pagar um adolescente chamado José Língua de Sapo, para vigiar Titi quando ele estivesse viajando.
Ê! ai Badega bota mais uma que a prosa esta ficando boa, imaginou viajante, agora a cobra iria fumar. Olha viajante, se a vida é um castigo com certeza o erro dos homens em outro mundo foi a traição. Não há nada mais leviano que a traição, principalmente entre casais. E o pior que nós seres humanos somos aqueles que tem consciência disso, mas, estamos sempre traindo. Parece que trair esta no gene humano. Eu odeio a traição. E tu Badega o que acha?
- Eu? eu nu acho certo, quem quer outra pessoa larga a pessoa que esta, não é o correto viajante?
- Acredito que sim Badega, mas, às vezes não é tão simples assim, pois, a vida é muito complexa.
- É isso mesmo Viajante – afirmou o véi Zé Boca de Pimenta que continuou sua história.
Tiara reencontrou Otavio, ele ficou muito feliz em revela, ela nem se fala, delirava em suspiros, pois, ninguém esquece um grande amor. Otavio perguntou pelo filho ela disse que estava tudo bem com ele, Otavio então pediu que ela quando voltasse na fazenda trouxesse o seu filho que ele queria tanto vê.
No primeiro encontro apenas conversaram, mas, no próximo encontro Otavio e Tiara não resistiram e começaram a namorar, é, como diria o poeta “o amor nunca morre”. O tempo passou e Tiara já não procurava mais Efraim, este estava desconfiado de que algo estava errado, portanto, colocou um espião para saber para onde Tiara se dirigia toda vez que o marido viajava. Entretanto, José Língua de Sapo já havia passado o relatório para Antonio, ele havia dito que Tiara ia sempre a venda de Efraim quando a mesma estava fechada, o que tudo indicava que Titi estava com caso com o comerciante. Antonio ficou nervoso, e sem saber o que fazer, pois, a Vila inteira sabia do caso e como era de costume ele tinha que limpar a sua honra com sangue, pois, se não executasse o casal era tido como covarde por todos.
Efraim contratou os serviços do mesmo menino, o tal de Língua de sapo, este fez o trabalho certinho, após um mês, ele disse a Efraim que Tiara se dirigia sempre para casa do novo fazendeiro chamado de Otavio Fernandes. Efraim ficou furioso e prometia que ia vingar-se de Titi. Quando Efraim via Titi fingia esta tudo bem, meticuloso, planejou tudo para da fim na vida de Tiara, pensava em mata-la envenenada, em outros momentos pensava em mata-la a tiros com o ”novo” amante, pensou, pensou e chegou a uma conclusão:
- Vou contar tudo a Antonio, vou dizer que a mulher dele esta com caso com um fazendeiro, assim, não sujo minhas mãos com aquela cadela sem vergonha, não é possível que ele não tome as devidas providencias. É, ela vai ter o que merece. – falava sozinho Efraim divagando em pensamentos, na busca de aliviar a sua dor com o fim de Titi.
Enquanto Efraim tramava como destruir Tiara, pois, ele se sentia traído, Antonio também pesava no que fazer com Titi, ele divagava:
- Vou pegar meus fí e vou imbora, deixo essa puta, magi eu gosto dela, ò meu Deus o que vou fazer? – Mesmo sofrendo Antonio não se deixava levar pelo sentimento machista, no fundo ele nunca teria coragem de matar Tiara, mas, o inesperado sempre acontece. Antonio não esperava que Efraim viesse falar com ele, talvez esse fosse o tiro pela culatra do comerciante.
Inocentes, no sentido de não saber o que estava se passando, Titi e Otavio se amavam loucamente, eles esperavam o momento certo para ficarem juntos, Titi já se preparava para ir embora com Otavio e os filhos, tudo estava planejado. Os dias em que ficaram juntos na Fazenda Princesa Nordestina, mesmo que escondido, foram os momentos mais felizes que Titi e Vinho viveram.
Por conseguinte, em um desses dias que o sol nasce de uma forma esplendorosa, Titi resolveu passer, ela pegou a bacia, fez uma rodilha com um lençol velho, colocando a rodilha na cabeça e a bacia cheia de roupa em cima da rodilha, e foi na lagoa lavar roupas, chegando lá encontrou o jovem Língua de Sapo, este logo se aproximou de Titi e disse:
- Olha a senhora ta correndo perigo de vida visse. – Tiara respondeu.
- Qui maluquice é essa menino?- Língua de Sapo abaixou a cabeça, respirou fundo e disse:
- Olha dona Titi o seu marido sabe de tudo, do fazendeiro e de Efraim.
- De que tu ta falando moleque? - Questionou Tiara já nervosa.
- De nada, de nada se cuida viu! - Língua de Sapo estava com medo de algo ruim acontecer e ele ficar com remoços, assim, ele alertou Titi depois saio correndo pelos campos de Pirorá.
Tiara ficou nervosa, não sabia o que fazer, apenas disse a Otavio o que havia acontecido, Otavio disse para ela tomar cuidado e fingir que não estava acontecendo nada, formava-se assim um quarteto amoroso mesmo que provisório, pois, Tiara temerosa resolveu de vez em quando visitar Efraim, ele ficava feliz, mas, ela não se entregava para ele como antes, pois, seu coração tinha dono, ela queria ganhar tempo, contudo, Efraim não conseguia esquecer a traição, Antonio, por sua vez, agia como se nada tivesse acontecido, mesmo o coração sangrando, pois, ele sabia de tudo, ate mesmo que ele tinha registrado um filho que não era seu, o que lhe incomodava era passar na rua e ver o povo sorrindo dele, fazendo gozação de sua atitude, diziam:
- Olha o corno conformado passando!.
- É Viajante vamos retomar o caso amanhã, estou muito casado, mas, vá imaginando o como essa história vai se desenrolar no final. – afirmou Boca de Pimenta que após tomar mais uma dose secou o litro de cachaça do Pernambuco que Badega havia comprado. Quanto a mim, estava tão curioso para saber o final da história que nem consegui dormi direito, fiquei imaginando como ele sabia narrar o acontecimento com tanta precisão, como ele sabia tantos detalhes da vida de Titi, sem duvida Boca de Pimenta era um homem especial.

XIII – CAPITULO: A LEI DA SEMEADURA.

O sol nasceu, eu sentei na cama e fiz minha oração matutina, levantei, e fui ao banheiro, tomei um banho, em seguida liguei para meus filhos Acainan e Caiala, disse que estava tudo bem, que não iria demorar muito, disse também que no dia seguinte chegaria em casa, eles mim disseram que tudo estava bem. Ufa! Filhos são maravilhosos sem hipocrisia, mas, agente só vive preocupado com eles, não é amigo leitor?
Após fazer a pesquisa para qual fui designado, fui para a venda de Badega imediatamente, Boca de Pimenta não havia chegado, naquele dia ele havia se atrasado e todos que freqüentavam a quitada logo sentiram sua falta. Já era dez hora quando chegou na venda um homem vestido com palito preto, barba bem feita, cabelos cortados e bastante elegante, sentou-se no banco que fica em frete do quadro da santa ceia, retirou um lenço do bolso do palitó, enxugou o rosto e de repente disse:
- Badega hoje não irei tomar cachaça, quero apenas café, tenho que ir matricular os meninos. – Badega assustado respondeu:
- Boca é tu mesmo ou tô sonhando? Que milagre foi esse? Nunca te vi assim todo bem cuidado. – Pimenta respondeu com a serenidade dos filósofos:
- Olha Badega na verdade a vida foi feita para agente aprender, e apreender pressupõe transformar, eu apredi com meu destino, se é que ele existe mesmo, hoje sei mais do que ontem, pois, toda dor destila os homens, faz eles aprenderem que viver é a busca infinita por uma felicidade utópica que em diversos instantes desta mesma vida torna-se real. Eu mim transformei para buscar novamente a minha felicidade. - Bom eu fiquei atônito, O véi Boca de Pimenta havia rejuvenescido uns dez anos, ele estava totalmente diferente, irreconhecível, fiquei impressionado como as pessoas que se cuidam tornam-se tão transmissoras de energias positivas, Pimenta naquele dia radiava alegria, ele estava feliz. Como sem esperar ele começou a narrar o desfecho da história de Tiara:
- E foi assim viajante, Otavio ficou sabendo do caso de Titi com Efraim, ele ficou muito triste, na verdade ele sofria muito com o fato de se relacionar com Tiara sabendo que ela continuava casada com Antonio. Otavio sabia que poderia acontecer algo de ruim com essa história, ele pesava em largar Titi, mas, seu coração não deixava. Nestas circunstâncias só restava planejar uma fulga, mas, as coisas não estavam nada fáceis, pois, a mãe de Titi havia ficado muito doente e ela não queria deixar a mãe sozinha em uma hora tão delicada.
Enquanto Tiara tentava fingir que estava tudo bem, ela começou perceber que Antonio já não lhe procurava mais na cama, e o Tal de Efraim nem se quer lhe mandava um recado marcando encontro, ela sabia que alguma coisa estava diferente.
Efraim estava revoltado, ele pagava para os vagabundos de Pirorá gritarem quando Antonio passava indo para casa: “Olha o Corno”, “ Lá vai o corno manso, quando chegar em casa olha o guarda roupa”, “Antonio Chifre de Antena”. Tudo isso magoava muito Antonio Pé de Chumbo, ele apesar de parecer valente, era um homem muito sereno e emotivo, queria apenas viver sua vidinha. Antonio poderia ter largado Tiara logo quando ficou sabendo que ela se entregou para Otavio, pois, Antonio sempre soube de tudo, apenas fingia não saber para ficar com seu grande amor, mas, preferiu esquecer tudo, ele queria viver o que tinha programado para sua vida interia, mas, parecia que não seria possível.
Antonio estava sofrendo muito, os colegas puxavam o assunto de traição nos bate-papos na venda e normalmente condenavam o homem que não matasse a mulher traidora e se possível o traidor também. Um tal de Casimiro sempre dizia:
- Se uma muié mim trair o distino dela é a morte, e ainda corto a cabeça e penduro no poste com uma placa “ A traidora” – Os homens de Monte formoso de modo algum aceitavam o homossexualismo e a traição. Fazia parte da cultura local matar a mulher se ela traísse o marido. As mulheres eram educadas para viverem para sempre com um único homem, Titi era uma exceção.
Antonio sofria tanta pressão de familiares e amigos que não sabia o que fazer, mais, tudo lhe levava a tomar uma decisão que poderia marcar definitivamente as vidas envolvidas no quarteto amoroso.

XIV – CAPÍTULO: UM DIA ECLIPITICO.

Olha viajante o amor de um casal de seres humanos deveria ser como o amor dos casais de Araras azul que nunca se traem, são fieis, mesmo quando brigam, ate os animais nos dão a prova de que o amor verdadeiro é possível.
Na verdade não se pode jugar ninguém, pois, a vida humana é dolorosa e nos leva a tomar decisões impesavéis e praticar certos atos que nós faz pagar para sempre por eles.
Bom, os dias se passaram e a pressão continuou em relação a Antonio, um dia ele amolou bastante o facão e colou o mesmo em baixo da cama para esperar Titi dormir para então mata-la, mas, quando viu as crianças, resolveu não fazer aquela besteira, na verdade ele não tinha coragem de matar seu grande amor. Antonio estava para enlouquecer.
Um belo dia, Efraim que não via Antonio tomar uma decisão, resolveu fazer uma visita ao compadre, era domingo, Tiara havia ido visita a mãe que já estava bem melhor da pressão, na verdade D. Joana ficou doente por que a filha estava difamada, o que lhe fazia sofre muito, já os irmão de Tiara nem se quer lhe dirigiam a palavra, quando as pessoas perguntavam a eles por Titi eles diziam “não temos irmã”.
Quando Efraim chegou na casa de Antonio este estava chorando, quando ouviu a voz do compadre falso enxugou as lagrimas e foi ao seu encontro, abriu a porta mandou que ele entrasse e assim começaram a conversar:
- É compadre você sabe que sou seu amigo, não sabe? – dizia Efraim com a maior cara de pau. Antonio respondeu:
- Claro que sei – A vontade de Antonio era puxar o revolve que estava escondido em baixo da camisa e descarregar na cabeça de Efraim. Desta forma, Efraim continuou:
- Meu compadre, você sabe o que todos estão dizendo, olha eu vou direto ao assunto, dizem por ai que... Que Tiara está lhe traindo. Ela esta lhe traindo com o tal de Otavio, Você precisa fazer algo urgente, sua moral esta abalada compadre – Antonio excomungava o infeliz do Efraim lhe xingando de todos os piores nomes em pensamentos, na verdade Efraim não sabia que Antonio tinha conhecimento de que ele tinha um caso com Tiara.
- Bom meu cumpadre, o povo diz o que quer, num sabe?Eu acho que isso é mentira. – Respondeu friamente Antonio com uma vontade imensa de da cabo na vida de Efraim.
- Mas compadre é verdade, eu tomei a liberdade e coloquei um pesquisador que mim deu um relatório completo, é verdade, e o senhor tem que lavar sua honra com o sangue daquela cadela. – Efraim se deixou levar pelo seu desejo de vingança o que acabou levando o mesmo a xingar Tiara de Cadela na frente de Antonio, este foi o seu erro mortal. Antonio olhou para os olhos de Efraim, foi na cozinha dizendo que ia beber água, quando voltou estava com o revolver nas mãos falando bem alto:
- Ela é cadela mesmo Efraim, e vou da fim na vida dela, magi ela é cadela pur que ocê teve ela, fegi o qui quis e agora só sabe esculhabar ela. Eu sei de tudo, do seu Romaçe cum ela, Desde aquele dia que peguei ocês na cuzinha, seu infeliz, ainda vem pá qui mim infernar. – Efraim tremendo sem saber o que fazer dizia:
- Compadre cuidado com essa arma isso não é brinquedo. Antonio disse:
- Claro que não, e eu sei, vá para o inferno mardito! – Antonio fechou os olhos e deu três tiros em Efraim, quando ele olhou para a protona estava toda ensaguetada e a face do Compadre estava desfigurada, Antonio Havia matado Efraim. – Mas viajante o pior estava por vim. – Neste momento Boca de Pimenta respirou fundo, enxugou o suor do rosto, bebeu um pouco de água e continuou sua história:
- Quando Antonio havia acabado de efetuar os desparos em Efraim logo entrou na sala Tiara que estava de volta da casa da mãe, quando ela viu o corpo de Efraim se pós a chorar e a gritar, Antonio tremendo sem saber ao certo o que havia feito, naquele momento a vida tinha perdido o sentido para ele e quando ele viu Tiara chorando, imediatamente pensou que ela estava desesperada por que ele havia matado Efraim, sendo assim, Antonio disse:
- Tiara quanto te amo, minha vida toda foi pá te amar, te amei cumo ninguém te amou e vai te amar. Acethei tudo, tudo! Tudo qui ocê mim fez. Óia, eu sempre subi que Antonio Otavio não é meu Fí, qui ocê fez ele cum o forasteiro naquela noiti de São João. Se lembra do Casaco? Quando chequei no mato naquela noiti ocê já ta vestindo a roupa, eu tava bêbado, magi vi tudo, eu não quis te largar, eu ia Matar o Mardito, magi ele fugil, casei contigo, não por que era Otário, eu te amava e te amo, magi, óia onde tudo chegou. – Antonio estava desesperado, naquele momento algo lhe fez olhar de forma diferente para Tiara, um sentimento de ódio, amor e revolta se misturavam no coração de Antonio em relação a Titi, sendo assim, quando Antonio parou de falar ela disse:
- Desculpa por tudo, eu te admiro muito, mas, nunca te amei, você sempre soube disso, o meu grande amor foi Otavio e esse qui ocê matou foi o maior erro de minha vida. – Antonio fixo em Tiara como se estivesse vendo aquela beleza pela ultima vez foi ao seu encontro abraçou-a e por debaixo apertou o gatilho, a bala foi certeira no coração de Titi, ela apenas disse com as ultimas forças que lhe restavam:
- Diga a Otavio que eu amo ele eternamente, e dou minha vida como o pagamento pur esse amor, cuide dos meus fí, - Foi assim Viajante que Tiara suspirou e uma nova estrela nasceu no firmamento. Antonio chamou um caseiro que sabia escrever ditou as palavras de Tiara para ele, e pediu que o mesmo entregasse o bilhete a Otavio. Antonio não deixou os meninos entrar em casa, quando retornavam da escola interceptou-os no caminho e levou-os para casa da avó. Depois foi para casa, pensava em fugir, mas, sua vida tinha perdido o sentido, pois, sua amada estava morta. Ele bebeu bastante e na madrugada suicidou-se com um tiro na cabaça junto ao corpo de Tiara. Tudo havia terminado, e só o siêncio reinava na casa de Titi, pela manhã, um trabalhador sentiu o mal cheiro, rombou a porta e encontrou os corpos.

XV – CAPÍTULO: A BELEZA NAS ESTRELAS.

Otavio recebeu o bilhete, nele estava escrito o seguinte:

“ Tiara morreu dizendo que te amava, você foi o grande amor da vida dela, eu sempre soube disso, eu sempre soube de tudo, cuide de minha filha como cuidei do seu filho, eu o amei e o amo como um filho, vou ter que partir também, mas, de você, apesar de tudo não levo magoas. Adeus! Antonio Oliveira”

Otavio chorou, chorou, chorou muito,quase que o restante da vida, ele não suportava a idéia de saber que nunca mais veria Tiara. Ele mostrou o bilhete a mãe de Tiara que estava muito doente e conseguiu a guarda dos meninos que sempre perguntavam: - Cadê a mamãe e o papai, Painho Otavio? – isto era o que mais machucava Fernandes.
O tempo passou e Otavio não conseguiu esquecer Tiara, no seu quarto tinha um quadro dela que ele passava horas a olhar, porém, quando ele olhava para o céu toda noite parecia que tinha uma estrela que olhava para ele, na verdade Otavio sabia que aquela linda estrela era Tiara no seu estado mais puro de beleza e simplicidade.
E ai viajante! O que foi que marcou todo Povo de Monte Formoso? Você é inteligente e já sabe, não é? – Acredito que foram os assassinatos e o suicídio.
– Em parte você esta certo, mas, não teve nada pior que aquele enterro, três caxões um atrás do outro. As pessoas choravam, muitos comentavam o motivo do acontecido, mas, os julgamentos não tinham cabimento, pois, a tragédia fez todo povo chorar em Monte Formoso levando as pessoas nunca mais esquecerem aquela tragédia, e como se fosse um aviso, todos viajantes que chegam aqui é quase obrigado a ouvir esta história.
Bom Viajante esse foi o acontecimento que mais marcou a Vila que você visita agora. Neste momento mim desculpe, mas, tenho que ir matricular meus filhos e dá um novo sentido para minha vida, ate um dia Alex – Não sei como ele sabia o meu nome, porém quando perguntei a Badega ele mim disse que Boca de Pimenta lia todos os nomes escritos na mesa, ele sabia todos os nomes que estavam rabiscados na rústica mesinha que os viajantes almoçavam. Fiquei triste com o fim da história, com a morte de Tiara, mas, algo mim incomodava muito, seria uma mera invenção aquele causo? Quem verdadeiramente seria aquele homem? De repente quis tirar uma duvida que se não fosse contemplada naquele momento talvez nunca mais fosse, assim, antes que o Véi Boca de Pimenta se fosse perguntei :
- Pimenta qual o seu verdadeiro nome? – Timidamente o questionei buscando olhar dentro dos seus olhos. Boca respondeu:
- Eu sou aquele que viveu tudo isso, meu nome é Otavio Fernandes, venha aqui! Veja - Cheguei na porta da venda e ele mostrou-me uma moça linda e um rapaz muito elegante.
- Ta vendo aquele rapaz é Antonio Otavio, e Aquela moça linda, é a cópia da mãe, é Tacíla Maria, poderia chamar–se Tiara, pois, é idética a genitora, em fim, são meus filhos, minha vida.





fim

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