sábado, 21 de novembro de 2009

TERRITÓRIOS DAS MEMÓRIAS

TERRITÓRIOS DAS MEMÓRIAS: “IDAS E VINDAS” AO ESPAÇO URBANO NAS NARRATIVAS DOS TRABALHADORES RURAIS DA VILA DE SÃO JOSÉ DO ITAPORÃ - BA (1970 A 1990).
Por Alex de Jesus Oliveira

O presente artigo busca investigar as prováveis relações entre fronteiras e memórias nas narrativas dos trabalhadores rurais da Vila do São José do Itaporã entre as décadas e 70, 80 e 90 do século 20. A proposta é tentar perceber a partir de suas narrativas referentes à suas “idas e vindas” ao espaço urbano como suas memórias articularam a idéia de fronteira entre o campo e a cidade, bem como os elementos simbólico-culturais que apontavam para prováveis “limites”, que de certa forma constituídos de forma “hibrida” caracterizavam experiências dos mesmos em territórios múltiplos que ultrapassam os recortes determinados geograficamente.
PALAVRAS CHAVES: Territórios, Memórias, Fronteiras.


1- INTRODUÇÃO

A memória é um algo inerente ao ser humano que permiti este, enquanto sujeito social se reconhecer enquanto ser pertencente a uma determinada comunidade ou grupo social, pois, só ela, pode fornecer aos homens, mulheres e crianças a possibilidade de se situar espacialmente, temporalmente e culturalmente.
Neste sentido, para compreender como o ser humano se situa no espaço a partir de um entendimento do conceito de fronteira cultural é importante entender como a academia tem pensado a construção da memória.
A memória é constituída a partir de experiências vivenciadas nas multiplicidades de tempos e espaços por cada “sujeito” social dentro de um campo cultural especifico com os seus valores, costumes e símbolos. Elas se apresentam no presente em formas de lembranças “compostas” de acordo com as intenções que cada sujeito social acredita ser conveniente apresentar no presente .
Para Bergamaschi “A memória, entre lembranças e esquecimentos seleciona a partir dos anseios individuais e coletivos do presente, os fatos que devem e podem ser lembrados e/ou esquecidos.” Portanto, toda memória que se expressa a partir de uma narrativa é carregada de intenções e subjetividades.
As memórias não são construídas exclusivamente por um individuo, elas se compõem em uma relação entre a memória coletiva e as memórias pertencentes a um único “sujeito” social. Portanto, a memória é interior e ao mesmo tempo exterior ao ser humano. Ela nos proporciona o entendimento de que pertencemos a uma determinada cultura, a um determinado tempo-espaço e assim nos faz compreender que temos uma identidade. Para Halbwachs :
A memória individual não está isolada. Freqüentemente, toma como referência pontos externos ao sujeito. O suporte em que se apóia a memória individual encontra-se relacionado às percepções produzidas pela memória coletiva e pela memória histórica.
A idéia de memória em Halbwachs se diferencia crucialmente com as assertivas do filosofo Henri Bérgson em relação à “construção” da memória. Segundo Bérgson a lembrança conserva o passando vivido pelo sujeito social sem nenhuma modificação ou influência externa. É como se o cérebro conseguisse guarda o momento vivido intacto tal qual a percepção do indivíduo vivenciou e em um tempo futuro pudesse lembrar daquele instante o invocando para consciência no presente sem nenhuma influência exterior.
Por conseguinte, para Halbwachs sujeito social recebe influências externas que acabam por reconstruir a percepção que está na memória no momento em que o sujeito social evoca o passado vivido no presente, recebendo assim, inúmeras influências também no contexto do agora vivido.
A memória nunca pode ser entendida de maneira alguma como um produto social individual e coletivo acabado que permanece sem sofrer transformações promovidas pelas vivências dos sujeitos sociais no agora. As memórias individuais e coletivas acabam ganhando novos contornos na medida em que o sujeito vive novas experiências no presente.
A memória permiti a partir de certa “conservação” das experiências sociais e culturais de vida que foram significativas tanto para o sujeito individual como para coletividade construir um arcabouço de elementos culturais que a parti da alteridade possa lhe conferi uma identidade cultural particular. Para Pesavento
A construção da identidade vale-se de imagens, discursos, mitos, crenças, desejos, medos, ritos, ideologias. Em outras palavras, a identidade pertence ao mundo do imaginário, que é esta capacidade de representar o real, criando um mundo paralelo ao da concretude da existência.

É com esse entendimento que acreditamos que a memória enquanto o elemento primordial dentro da construção da identidade de um grupo social pode demarcar ou não uma fronteira para além dos aspectos materiais. Ela permiti, a partir de uma delimitação espacial mental, alicerçada em imagens de um espaço, discursos, mitos, crenças, valores e costumes construir uma linha de demarcação que “separa ” o lugar da expressão peculiar de determinada identidade cultural de outros espaços, que acabam reafirmando a particularidade cultural a partir da alteridade. Pesavento afirma que:
É por esse viés de compreensão da fronteira que confrontam as percepções de alteridade e da identidade, ou que se contrapõem as construções imaginarias de referências, definido-se os “outros” em relação a “nós” e vive-versa.

Neste sentido, acredito que a memória assume uma importância crucial na construção da identidade cultural de um determinado grupo social e, por conseguinte, nos permite pensar a idéia de fronteira cultural visualizando aspectos sigulares de determinados espaços como; símbolos, costumes crenças e valores.
A idéia de fronteira cultural permiti diferenciar grupos sociais de outros a partir do confronto de costumes, valores e crenças, ao tempo que também aponta para o hibridismo cultural evidente em diversos espaços – principalmente em relação ao binômio campo e cidade - na medida em que é evidente os intercâmbios culturais promovidos por deslocamentos, migrações e retorno de sujeitos sociais aos seus espaços de origens que trazem consigo elementos culturais totalmente exógenos. Pesavento ainda diz que:
As fronteiras culturais remetem à vivência, às sociabilidades, às formas de pensar intercambiáveis, aos ethos, valores, significados contidos nas coisas, palavras gestos, ritos, comportamentos e idéias. Basicamente, a fronteira cultural a ponta para forma pela qual os homens investem no mundo, conferindo sentidos de reconhecimento.

Portanto, como a memória é capaz de reter esses elementos culturais e ela é quem da sentido a idéia de fronteira cultural, na medida em que cultura de um povo é o suporte para o seu entendimento buscaremos a partir das narrativas dos trabalhadores rurais da vila de São José do Itaporã entender como se articula essa relação de fronteira cultural entre o campo e cidade em um tempo de tensão e luta pela sobrevivência nas décadas de 70 à 90 do século passado.

1.1-TERRITÓRIOS DAS MEMÓRIAS: “IDAS E VINDAS” AO ESPAÇO URBANO NAS NARRATIVAS DOS TRABALHADORES RURAIS DA VILA DE SÃO JOSÉ DO ITAPORÃ - BA (1970 A 1990).

A Experiência do trabalhador rural de São José de Itaporã - BA nunca esteve circunscrita apenas ao campo. O seu contato com as cidades vizinhas, principalmente Santo Estevão-BA, Cruz das Almas - BA, Sapeaçu - BA, Muritiba - BA e São Felix -BA era constante.Os Agricultores se dirigiam para estas cidades a fim de venderem seus produtos, comprarem mantimentos, remédios, roupas, utensílios domésticos e se consultarem com médicos em clinicas e hospitais.
Na década de 1970 não existia linha de transporte que fizesse a condução dos trabalhadores para as cidades próximas ― “naquele tempo era tudo na canela” ― e a única forma existente de locomoção para outros municípios se dava por meio de cavalos ou de burros, como nos relata Sr. Osvaldo .
O nosso pai ia em Muritiba, ia montado de animal, eu me lembro que pai tinha um burro, que o burrinho quando chegava até no casco tava pingando de suor, de lá pra cá, na paleta.

Deslocar-se das proximidades da Vila de São José do Itaporã para as feiras das cidades vizinhas levando consigo a produção de farinha, amendoim e laranja só era possível indo montado em um animal. Em cima de um cavalo ou de um burro, vestido em um colete de couro e tendo sobre a cabeça um chapéu de palha, o trabalhador rural se dirigia à cidade na ânsia de vender seus produtos a fim de adquirir o mínimo necessário para o sustento da sua família.
Muitas vezes para se chegar a um determinado destino a viagem durava mais que um dia, como expressa a narrativa de D. Angélica :
Para Santo Estevão, meu pai e meus irmãos cansava de sair dia de Sexta-feira, nós torrava farinha, eles botava o quê? Era dez, doze animal de carga de farinha para levar para vender em Santo Estevão! ia de pé! Quando chegava era dia de Sábado meia noite.

D. Angélica além de esclarecer sobre o tempo gasto em algumas viagens traz a evidência de que seu pai levava sua produção de farinha para Santo Estevão em uma tropa de burros. Segundo ela “era dez, doze animal de carga de farinha para levar, para vender em Santo Estevão, ia de pé!”. Provavelmente muitos dos trabalhadores rurais de São José levavam sua produção para cidade a pé e puxando os animais, o que caracterizava, de certa forma, a prática dos tropeiros que só iriam deixar de existir após a implantação das rodovias por toda a Bahia.
A cidade representava para os trabalhadores rurais o “lugar de dinheiro ”. As casas sofisticadas e os pequenos edifícios não causavam tanto espanto aos agricultores na medida em que a dinâmica do deslocamento dos mesmos para as cidades vizinhas se dava constantemente devido terem que comerciar seu excedente de produção (Farinha, legumes, raízes, laranja) nas feiras da região.
A dinâmica das “idas e vindas” dos trabalhadores rurais entre o campo e a cidade aparece nas memórias dos lavradores como um tempo de trocas tanto matérias como simbólicas. Ir a cidade significava muito mais que vender seus produtos ou consultar-se com um médico, mas permitia que o trabalhador confrontasse a sua cultura com o diferente ao tempo que reafirmava a sua identidade, mesmo que assimilasse aspectos da cultura da cidade.
Entretanto, é preciso ressaltar que normalmente quem se dirigia à Cidade ― aos sábados ou aos domingos, dependendo do dia das feiras ― era o chefe da família, como nos relata D. Francisquinha .“Há meu filho, quem ia para feira era Noca (Agenor, seu Marido), era. Ele ia vender farinha, outros não ia, eu ia às vezes, era, mas era Noca (marido) quem ia. Fazia a feira, trazia a carne”.
As mulheres não tinham o costume de se deslocarem constantemente para as cidades e ficavam em casa cuidando do lar. Os maridos eram os responsáveis pela feira. O fato de não se deslocar sempre com o marido para as cidades da região não incomodava muito a mulher, o importante era que o marido “trouxesse a carne”, ou seja, o alimento dos filhos.
Muitas vezes, quando a feira estava movimentada e vendiam toda sua produção eles compravam algum alimentos extra, como maçã para as crianças. Segundo Isabel Ribeiro “quem comprava maçã era tido como quem tinha dinheiro naquela época”. Aqui aparece um elemento importante na construção da fronteira cultural, a maça sendo um alimento característico do espaço urbano na época, não fazia parte da cultura alimentícia dos agricultores, mas era desejada pelas crianças, porque é evidente que quando se dirigiam a cidade tinham contato com esse alimento. Sendo um alimento caro, ou supérfluo, era tido como símbolo de status econômico para o trabalhador que consumisse a fruta.
Quando, porém, a feira era “fraca” e não vendiam o bastante para comprarem todos os mantimentos, eles sempre davam um jeito para que os seus filhos não passassem necessidades. O relato de D. Angélica é esclarecedor sobre este aspecto:

Com qualquer tantinho que eles arrumassem, fazia (a feira) e trazia. O que arrumasse trazia, arrumava uma jabá (carne de sertão) um feijãozinho e trazia. Antigamente era tudo difícil (tristeza) hoje em dia que é a riqueza.

O semblante de D. Angélica ao relatar a experiência da volta de seu marido para casa quase sem alimentos no panacum do animal traduz um passado constituído no labor pela sobrevivência no campo do Recôncavo Sul. As feiras do Recôncavo, além de se organizarem como ambientes de intercâmbios de produtos negociados pelos agricultores tornavam-se, também, espaços que propiciavam aos trabalhadores rurais a possibilidade de auferirem mais algum “dinheiro” criando, assim, uma alternativa para se manterem e se sustentarem no campo.
Entretanto, quando a roça não produzia satisfatoriamente ou as suas mercadorias não eram vendidas na feira , a vida dos trabalhadores rurais continuava com as mesmas dificuldades, como deixa transparecer no seu relato D. Angélica :

Quando não vendia nada na feira, era batata, aimpim, abóbora, feijão, milho, minha mãe botava milho de molho para agente pisar para fazer o cuscuz, nós batia no pilão, ó! Era assim que agente vivia.

Com as dificuldades constantes na roça ― quando a colheita de fumo não prosperava e quando o preço da farinha estava defasado ― os trabalhadores se voltavam para as culturas de subsistência numa luta diária contra a fome. Apesar de toda dificuldade no campo, quando a feira proporcionava alguma renda para estes trabalhadores, os mesmos sempre compravam algo a mais: uma sandália para um filho, uma flor de plástico para o oratório do “santo ”, um “pedaço de pano ” para a mulher fazer um vestido, enfim, o trabalhador consumia muito da produção material existente e vendida nas lojas da cidade, ao passo que a cidade consumia, também, toda a produção do agricultor.
O intercâmbio entre a cidade e o campo não se dava apenas na esfera material, pois havia, ao mesmo tempo, o intercâmbio cultural e simbólico ― tendo em vista que nas feiras o lavrador se informava sobre o que se passava no Brasil e o citadino, por sua vez, se informava sobre o que acontecia no campo: uma relação de complementação entre o campo e a cidade.
As narrativas dos agricultores apresentam memórias que apontam para uma relação de complemento entre o campo e a cidade. A fronteira cultural entre o campo e cidade no Recôncavo Sul não se apresentava como algo hermético, mas se mantinha aberta a todo instante para receber influências da cidade e influenciar a mesma. D`Almeida ao se referir as mudanças dos costumes e valores no campo afirma; “as tradições são “inventadas”mostram-se mais como reinvenções graças ao peso da continuidades de elementos e traços anteriormente existentes.” Isto demonstra que apesar da influencia da cultura urbana no campo esta ainda se mantém a partir de elementos tradicionais de sua cultura que permanece existindo, porém de um modo reinventado.
A feira de São José de Itaporã surgiu nos primeiros anos da década de 70, do século passado. Segundo Sr. Osvaldo , se deu da seguinte forma: "foi assim, juntou um e outro, colocaram uma lona no chão e aí começou a vender, o povo começou a vim de Cruz, das outra roça aí pra cima. Aí pronto, a feira do São José tava aí". Sem planejamento, a feira de São José do Itaporã surgiu modificando todo o cotidiano das pessoas que residem na Vila. Realizada aos domingos ― já que aos sábados alguns trabalhadores rurais se dirigiam para as feiras das cidades vizinhas ― tornou-se um novo espaço para os agricultores negociarem seus produtos e realizarem suas “trocas simbólicas”.
A fotografia abaixo mostra um fragmento do cotidiano da feira aos domingos em São José de Itaporã. Os trabalhadores se aglomeravam em meio ao lamaçal vendendo laranja, amendoim e outros produtos. Observa-se no segundo plano da fotografia a exposição de baldes de plásticos e de bacias de alumínio. Isto mostra que muitos vendedores da região se dirigiam para feira de São José a fim de venderem suas mercadorias. A fotografia traz inúmeras evidências de que no passado a feira em São José era próspera, bem-sucedida, no entanto, não podemos esquecer que "as imagens fotográficas não se esgotam em si, antes são feitas para desvendar o passado ".
Na tentativa de compreender "a representação fotográfica, seus significados e suas finalidades " percebemos que a imagem agora analisada, por se tratar de uma foto pertencente à Associação dos Moradores da Vila São José de Itaporã, parece denunciar a situação de abandono em que se encontrava o espaço destinado à feira livre da Vila.













FOTO 01 – cedida pela Associação de Moradores da vila São José de Itaporã.

As feiras nas cidades vizinhas ou na Vila de São José do Itaporã, além de propiciar uma alternativa de vida para os trabalhadores rurais, era também um lugar significativo para os Agricultores, pois nela tinham a oportunidade de ficarem informados e de encontrarem amigos de outras localidades. Era na feira que o agricultor rural ficava sabendo “das novidades” na política e na economia do Brasil, da Bahia e do seu Município, a saber; Muritiba-BA, ou seja, era este o local possível para o intercâmbio de informações, de culturas e de modos de vida que se imbricavam e se completavam.
As feiras da região acabavam funcionando como espaços em que os trabalhadores rurais obtinham informações sobre o seu país, como já dito. A ida à feira aos sábados e aos domingos possibilitava aos agricultores se informarem sobre os políticos como relata Mauro ": "quem era o prefeito de Muritiba, era Geraldino Almeida, Getulio Vargas que era homem meu filho, naquele tempo os homem vestia calça boa, de tergal, era, era! Ganhava dinheiro!”.
Os Trabalhadores rurais, longe do que apregoam muitos discursos sobre o homem e a mulher do campo no Recôncavo Sul, portanto do Nordeste , que tentam construir um arquétipo de homem rural extremamente ignorante e desinformado aos moldes do personagem dos quadrinhos “Jeca tatu ”, tinham interesse a respeito de seus representantes políticos. Nas vendas ou nas barracas que comercializavam comidas e bebidas, os trabalhadores se reuniam e conversavam sobre diversos assuntos, como relata Sr. Osvaldo :
Era a gente pegava aquele feijão naquelas barracas, era tira-gosto e cachaça. Eu mesmo muitas vezes fiquei bêbado. A gente conversava, falava de muito assunto, da roça, de vereador que não faz nada e outras coisas.

Observa-se que a memória do Sr. Osvaldo não deixa dúvidas quanto às discussões entre os trabalhadores rurais sobre política, pois se falava dos plantios na roça, das ações dos vereadores e do prefeito do seu município. Junto ao balcão da venda os lavradores de várias localidades da região se aglutinavam e conversavam sobre diversos assuntos ― falavam das namoradas, do preço da farinha, do valor da arroba de fumo, dos amigos distantes, enfim, a feira era um espaço de socialização da informação entre os trabalhadores.
Para D'Almeida "tão importante quanto o mercado, os encontros nas feiras destacavam-se na vida dos lavradores". Nesse sentido, pode-se afirmar que as feiras do Recôncavo tornaram-se espaços singulares para a constituição e elaboração de modos de vida dos trabalhadores rurais bem como um lugar que mediava às trocas simbólicas entre o campo e a cidade. Na feira a fronteira cultural é suplantada pela necessidade de coexistir com o diferente, pois ir a feira fazia parte do viver dos agricultores dentro da dinâmica de “idas e vindas” à cidade.

1.2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O encontro do trabalhador rural do São José do Itaporã - BA com as cidades da região se dava em diversos momentos e com objetivos diferenciados. Buscava o trabalhador, na esfera urbana, uma alternativa para adquiri algum dinheiro com a venda de suas mercadorias nas feiras com a finalidade de ao voltar para casa trazer o alimento para sua família.
Para além das questões de ordem econômica o agricultor buscava se informar em relação à economia e política do seu Município, do seu Estado e do seu País. O que demonstra que o trabalhador rural procurava na medida do possível se manter informado sobre os encaminhamentos políticos do seu município e país.
As memórias dos agricultores, mesmo que ressiginificadas pelas demandas do presente, definem o campo como o lugar do trabalho duro, da falta das condições de sobrevivência e a cidade como o lugar do dinheiro, da prosperidade.
Olhando as memórias a partir da economia percebe-se que o limite do campo, o lugar da Escassez, era a chegada à cidade, o lugar da abundância, local onde o agricultor poderia vender seu excedente e consumir aquilo que a cidade poderia lhe oferecer.
Na década de 1970 e 80 o lugar das trocas matérias e simbólicas entre o campo e a cidade eram as feiras, lugar democrático onde o trabalhador rural e o homem da cidade se comunicavam e trocavam informações sobre seus respectivos espaços.
As conversas nas barracas, nos negócios quando se vendia os produtos, as conversas na praça, nos bares permitiam que elementos culturais pudessem ser socializados entre o agricultor e o homem da cidade.
A fronteira cultural é evidente que existia e se limitava ao espaço onde vive o homem do campo e o homem da cidade. Não obstante, não podem existir sem alteridade, sem que cada cultura dê sentido a existência da outra. Elas se ressiginifam a todo o momento com trocas constantes nas “idas e vindas” dos trabalhadores rurais ao espaço urbano. As fronteiras tanto cultural como material não significam um limite fechado, mas “é um limite sem limites, que aponta para um além”











REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. A invenção do nordeste e Outras Artes. Rio de Janeiro: Cortês, 2009.

BERGAMASCHI, Maria Aparecida. Narradores de Javé: a memória entre a tradição oral e a escrita. Disponível em: www.google.com.br – Acesso: 06/01/2007.

FIGUEREDO, H. G. Coord. Imagens de São Gonçalo: Fotografia e História. Laboratório de Pesquisa História 2001.

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Ed. Centauro, 2004:

KOSSY, B. Estética, memória e ideologia fotográficas: decifrando a realidade interior das imagens do passado”In: Revista Acervo, Arquivo Nacional, v.6, nº 1-2, 1993.

PESAVENTO, Sandra Jathay. Além das Fronteiras. IN: MARTINS, Maria Helena (org.) Fronteiras Culturais: Brasil, Uruguai, Argentina. Editora Ateliê, São Paulo: 2002

ROGER, Chartier. O mundo como representação. In: estudos Avançados 11 1991. Disponível em http:// www.scielo.br/pdf/ea/v5n11/v5n11a10.pdf

SANTANA, Charles D`Almeida. Fartura e Ventura Camponesas: Trabalho, Cotidiano e Migrações - Bahia: 1950 – 1980. SP: AnaBlume. 1994.p.133

SANTOS, Miguel Cerqueira. O domínio urbano e suas implicações regionais: o exemplo de Santo Antonio de Jesus-Ba – Salvador. Ed. UNEB. 2002. p.91.

THOMSON, Alistar. Recompondo a Memória: Questões sobre a relação entre a História Oral e as Memórias. Projeto História, São Paulo. 1997.

FONTES:

 Osvaldo da Silva, 47 anos residente na lagoa suja, próximo a Vila do São José do Itaporã.Entrevista Realizada em 23/06/2002
 Angélica Vituriana da Silva. 49 anos residente na lagoa suja, próximo a Vila do São José do Itaporã.Entrevista Realizada em 23/06/2002
 Francisquinha Filha Virgilio. 68 anos, residente na Pidobeira próxima da Vila de São José de Itaporã – Entrevista realizada 22/04/2002
 Mauro Machado, 66 anos, residente na localidade do tabuleiro, próximo da Vila do São josé do Itaporã, entrevista realizada 28/06/2002.
 Isabel Ribeiro, 30 anos, residente na pidobeira próximo da vila do São José do Itaporã. – Entrevista realizada 25/08/2002.

FOTOGRAFIA:

 Arquivo de fotos da Associação de moradores da vila do São José do Itaporã-BA

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