terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

13 DE MAIO DE 1888: E O SONHO DA LIBERDADE QUE NÃO ACABOU.

Por: Prof. Alex de J. Oliveira/ Historiador

Ainda tem gente que acredita que a libertação dos escravos foi um bom negocio para os afro-descendentes. Ora, em 13 de maio de 1888 quando a lei áurea foi assinada pela princesa Isabel estava na verdade se iniciando um novo processo de exploração da força de trabalho daqueles que foram e ainda são a grande mão-de-obra do Brasil.
São os negros que constroem as pontes, os edifícios, as estradas, que limpam as ruas, que são as empregadas domesticas dos que se dizem ser genuinamente brancos, são eles que fazem os serviços gerais da sociedade, mas, são considerados por muitos, “como uma escória social”.
O negro quando foi liberto e a ele foi negado tudo, a principio foi dito que o mesmo não era qualificado para exercer funções de trabalho quando no Brasil surgia as primeiras indústrias ( Séc.XIX), desta forma, foi desenvolvido no país uma política de emigração na qual os Italianos, Portugueses e Espanhóis foram, no primeiro momento, beneficiados com terras e empregos nas nascentes fabricas.
O governo afirmava que era preciso “limpar o Brasil” da raça negra. Não obstante, muitos afro-descendentes foram deportados para África, muitos nem se quer se identificavam mais com a terra de onde vieram, pois, já haviam passados 300 anos longe de casa, e o Brasil tinha se tornado sua terra natal.
Para os Afro-descendentes o governo destinou as ruas, os cortiços, e, sobretudo, as favelas. Em meio a tamanha irrelevância por parte do Estado, o negro foi sendo marginalizado na sociedade brasileira, e sua imagem passou a ser confundida com tudo que “temos de pior”, “ser negro é ser ladrão”, “é ser malandro’’, “é ser traficante de drogas”, “ser negro é ser feiticeiro” esses são os estereótipos que o individuo negro passou a ter para a “elite” brasileira.
Com a passagem dos séculos já não se pode negar a presença marcante do negro afro-descendente na sociedade brasileira, o qual, resistiu a todas humilhações e permanece resistindo. O governo começa tentar criar políticas de ações reparativas para os afro- descendentes, projeto este com muitas contradições, e não poderia ser diferente, pois a “elite” econômica justifica a sua posição social, seu status quo, levando em consideração, sobretudo, a questão da cor da pele, mesmo que de forma camuflada.
Sabe-se que a situação do negro no Brasil é legitimada pelo discurso de que o Afro-descendente “vive mal por que é “burro” e precisa estudar para ganhar mais dinheiro e saber gastar”. Assim, cria-se as cotas, para que em um futuro bem próximo se possa afirmar que o negro só chegou a faculdade porque se criou uma possibilidade para o mesmo, uma vez que sem esse sistema o Negro nunca faria um curso superior. Discurso falacioso, pois a historia mostra que o maior escritor brasileiro é um Negro, Machado de Assim.
O que o negro, o homem e mulher pobre precisam no Brasil são de uma Escola menos burocrática e mais atuante, compromissada com a formação dos pobres brasileiros. O Brasil precisa de Escolas de qualidades, escolas prontas para transformar e construir homens e mulheres pensantes, pessoas autônomas e não marionetes, e alienados, coadjuvantes de uma História escrita em bastidores de gabinete por uma “elite” decadente e doente que soluça com seu câncer sem poder sair de casa.
As pessoas são inteligentes e de uma maneira ou de outra resistem e encontram formas de construir para se poderes para alijar o sistema legal constituído e criar para se formas de sobrevivências muitas vezes contraditórias com o que se espera de uma conduta moral digna de "honrarias pela sociedade".
Por conseguinte, temos a certeza que a discriminação em relação às pessoas negras continuará existindo, na medida em que, o preconceito que existe no Brasil foi construído a mais de 500 anos, e não se acabará de uma hora para outra como muitos pensam.
Entretanto, o que se pode ainda dizer sobre o 13 de maio é que os afro-descendentes não devem comemorar nada nesta data, uma vez que, ser livre e viver excluído dos privilégios da sociedade não tendo educação de qualidade, alimentação, vestuário, moradia, saúde, lazer e emprego com um salário digno faz a idéia de liberdade se esvaziar quando se questiona; que liberdade foi dada aos escravos? Como o Brasil contemporâneo procura melhorar efetivamente a vida dos Afro-descendentes? Essas e outras questões incomodam, mas, parece que não houve uma verdadeira liberdade na prática, no sentido das pessoas terem condições materiais para gestarem suas vidas na busca da utopia da felicidade terrena.
Não obstante, juridicamente houve sim a liberdade, mas, o que os afro-descendentes ex-escravos iriam fazer com a sua liberdade? pois, a lei existe, contudo, o que se pode ver é a colocação em prática de um novo modelo de se explorar os afro-descendentes, de modo que, se o mesmo não trabalhar por um salário de miséria – isso quando acha trabalho, normalmente a cadeia( penitenciaria) esta sendo o seu destino. Olhe para os presídios brasileiros quem é a grande maioria dos presos hoje?
Este é o resultado da formação da sociedade brasileira, na qual, os brancos foram e são os dominadores e grande parte dos mestiços e afro-descendentes são os dominados e explorados, mas, o fato de mais da metade da população de afro-descendentes e mestiços viverem na miséria e muitos bem perto dela é apenas o resultado da busca da “elite “ caduca brasileira que busca a todo custo manter o status quo, mesmo vivendo presas em carros blindados e mansões extremamente protegidas.
Não vamos esquecer o 13 de maio, pois, ele representa um novo momento na história da exploração dos africanos que trazidos para o Brasil foram cativos de tamanhas agruras. É preciso dizer que ainda não quebramos totalmente os grilhões, não queremos uma liberdade pela metade, na qual, a infelicidade transparece na maioria dos olhos dos afro-descendentes. Queremos um Brasil verdadeiramente de todos, no qual, a nossa liberdade possa valer a pena.

Um comentário:

  1. Mandou bem, Alex! Lembrar do escritor Machado de Assis como afro-descendente é importante para acabar com a mística que negro no Brasil só serve para desempenhar tarefas manuais. Vale ressaltar que o Estado brasileiro juntamento com a elite branca têm uma dívida histórica para com população afro-descendente que tiveram paes, avós, bisavós etc. explorados pelo trabalho escravo, ampliando a riqueza dos poderosos deste País, mas que, no entanto, nada receberam, até hoje, por isso.
    José Alberto - Mestrando em História Regional e Local.

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