domingo, 29 de março de 2009

TRAJETÓRIA DO INTEGRALISMO NO RECÔNCAVO SUL: SUSSURROS DE TEMPOS DE TENSÕES POLÍTICAS – 1933 A 1937.

Por Professor Alex de J. OLiveira

Lex.jesus@hotmail.com

RESUMO:
Sabe-se que o Brasil das primeiras décadas do século XX é marcado por significativas disputas ideológicas e confrontos políticos além de transformações profundas em sua economia e nos encaminhamentos filosóficos dos movimentos sociais. Neste universo marcado por disputas políticas e crises econômicas, as disputas ideológicas sofreram um acirramento nos primeiros anos da década de trinta do século passado quando Integralistas e Comunistas confrontavam suas idéias e militavam ardilmente no cotidiano. O movimento dos “camisas verdes” foi bastante difundido nas cidades do Recôncavo Baiano, existindo uma memória pouco explorada pela academia. Neste sentido, a presente pesquisa tem como objetivo central investigar a trajetória do Integralismo no Recôncavo Sul Baiano a partir de uma reflexão sobre o discurso dos jornais que circularam no Recôncavo entre os anos de 1933 a 1937, temporalidade que abrange o apogeu e o declínio do Integralismo no Recôncavo Sul. A partir da analise de narrativas e de jornais pode-se verificar diversos aspectos do integralismo em cidades do Recôncavo como Cruz das Almas, Maragogipe e Cachoeira.
Palavras Chaves: Integralismo, Recôncavo Sul, Memória.




1-Introdução:


A Ação Integralista Brasileira (AIB) tem origem com a fundação da Sociedade de Estudos Políticos (SEP), centro de reflexão política e sociológica criado em março de 1932 por Plínio Salgado quando este trabalhava no jornal “a razão” (TRINDADE, 1974, p.124). A SEP visava congregar intelectuais e lideranças políticas contrárias aos modelos de cunho liberal ou socialista (BARBOSA, 2006, p.67). Desta forma, a AIB se constituiu como um “produto” do contexto de radicalização da esquerda e da direita na década de 1930, caracterizando-se como um movimento de modelo “fascista” (MERG, 2006, p.1).
Não obstante, a Ação Integralista Brasileira só seria fundada em 24 de maio de 1932 quando Plínio Salgado propôs, em assembléia na SEP, a criação de uma nova comissão técnica, denominada Ação Integralista Brasileira (AIB), com a finalidade de transmitir ao povo, em uma linguagem simples, os resultados dos estudos e as bases doutrinárias da organização. Em junho do mesmo ano Salgado redigiu o Manifesto para a divulgação da AIB, porém, a sua publicação foi adiada em virtude do iminente confronto armado entre o Estado de São Paulo e o Governo Provisório de Getúlio Vargas. (BARBOSA, 2006, p.68).
Com a derrota dos insurgentes pelas forças federais, em 7 de outubro de 1932, foi fundada oficialmente a Ação Integralista Brasileira(AIB) quando foi realizada a leitura do documento que ficou conhecido como Manifesto de Outubro(BARBOSA, 2006, p.69) em reunião solene no Teatro Municipal de São Paulo. A partir de então diversos núcleos do movimento foram fundados em todo Brasil.
Neste sentido, o Integralismo logo alcançou diversos estados da Federação. Segunda Ferreira “a trajetória do integralismo na Bahia se iniciou com a instalação do núcleo provincial da Ação Integralista Brasileira em junho de 1933, por iniciativa de estudantes da Faculdade de Direito da Bahia e profissionais liberais” (FERREIRA 2006, p.56).
O integralismo alcançou de imediato à classe média desejosa de contrapor os valores que fossem de encontro aos seus interesses e projetos de construção da “Nação”. Diante da expansão do Comunismo no Brasil e dos movimentos antiliberais muitas pessoas viram no Integralismo uma proposta de construir uma “nação” pautada, sobretudo, nos valores tradicionais da Igreja Católica, e no Nacionalismo, pois o lema do Integralismo era “Deus, Pátria e Família” (CAVALARI, 1999, p.72).
Em dezembro de 1937 AIB foi extinta como as demais agremiações políticas. Contudo, para continuar na legalidade devido a nova conjuntura imposta pelo Estado Novo de Getulio Vargas a AIB organizou-se novamente como uma sociedade civil (como a antiga SEP), que teve a denominação de ABC, ou seja, Associação Brasileira de Cultura (CALIL, 2001, p.54).
Por conseguinte, durante o período de legalidade diversos núcleos do movimento Integralista foram fundados na Bahia. Segundo FERREIRA (2006, p.56):
Em Salvador, vários núcleos distritais foram fundados por toda a cidade, mas foi no vasto interior baiano que a AIB conseguiu maior êxito em seu processo de expansão. Numa atuação intensa, a AIB fundou núcleos municipais por todo o interior, inclusive em cidades importantes como Ilhéus, Itabuna, Jequié e Feira de Santana. No pequeno município de Tucano, localizado no nordeste da Bahia a Ação Integralista conseguiu a adesão da esmagadora maioria da população. Segundo dados da própria AIB, em meados de 1936, haveria aproximadamente 46.000 integralistas no estado, distribuídos por mais de 300 núcleos municipais e distritais.

Percebe-se que diversos núcleos do movimento Integralista foram fundados em diversas cidades do interior da Bahia, onde o movimento acabou se tornando expressivo obtendo adesão em massa de diversos “sujeitos” sociais. Pessoas de diversas posições sociais acabaram optando pelo projeto de Nação formulado pela AIB e durante a primeira metade da década de trinta militaram na tentativa de colocar em prática o projeto ideológico de estado formulado principalmente por Plínio Salgado.
Sendo assim, o interesse desta pesquisa visa refletir e analisar a trajetória deste movimento no Recôncavo Sul em especifico nas cidades de, Maragogipe-BA, Cruz das Almas-BA, Cachoeira-BA entre os anos de 1933 e 1937, uma vez que durante esses anos o movimento se mostrou expressivo, sobretudo entre nos anos de 1933 a 1936 quando foi fundado em diversas cidades da Bahia núcleos Integralistas (FERREIRA, 2006) que tinham como objetivo difundir suas ideais nas cidades.

1.2 - Reflexões sobre a trajetória do integralismo no Recôncavo Sul baiano.

A presente proposta de estudo se pauta basicamente em analisar a trajetória do Integralismo no Recôncavo Sul em especifico nas cidades de Maragogipe-BA e Cruz das Almas-BA entre os anos de 1933 a 1937 quando houve uma difusão das doutrinas do Sigma em todo Brasil, por meio da fundação de Núcleos em diversos municípios da federação.
Neste sentido, busca-se enfocar os discursos em relação ao Integralismo nos periódicos que circulavam no Recôncavo Sul baiano nos primeiros anos da década de 1930, bem como investigar as trajetória do movimento a partir das narrativas de experiências de quem vivenciou a militância no movimento da AIB fazendo um cruzamento com as informações contidas em um dos principais jornais Integralistas produzido no Recôncavo Sul “A Faúla” de Maragogipe-Ba.
Apesar dos esforços já empreitados na busca de manter contato com fontes que versem sobre o integralismo no Recôncavo Sul baiano, a pesquisa ainda se encontra em sua fase embrionária. Esse primeiro momento tem sido difícil, pois muitas pessoas que viveram e militaram no movimento integralista nos primeiros anos da década de 1930 já faleceram, existindo poucas pessoas vivas e aptas para narrarem suas experiências. Esse problema tem limitado o avanço dos trabalhos com as fontes orais, não obstante, tem instigado a avançar no sentido de conhecer os personagens que participaram de um momento tenso e decisivo da política brasileira.
Por conseguinte, as fontes escritas produzidas pelo movimento Integralista, como jornais, revistas, boletins dos núcleos tem se apresentado de forma um tanto quanto fragmentada, uma vez que muitas pessoas queimaram jornais, fotografias, atas de núcleos no momento da dissolução da AIB com a instalação do Estado Novo, como rela o Sr. José Souza[1]:
Quando houve o golpe de Getúlio, Rapaz Getúlio foi esperto deu o golpe certinho, agente ia chegar no poder, só tinha os grandes no movimento, ate ele era, ai, ai eu joguei a foto que eu tinha com Plínio que eu gostava tanto na fose, mas não adiantou eu fui preso do mesmo jeito.

Temendo a prisão com a dissolução da AIB pelo Estado Novo implantado por Vargas, muitos Integralistas acabaram destruindo seus documentos pessoais que poderiam corroborar como evidência de sua participação no movimento no Recôncavo Sul. Essa atitude dos militantes “camisas verdes” deixou como legado para posteridade um “silêncio” histórico que esconde diversas nuaceas do cotidiano do movimento Integralista. Por outro lado, pode-se entender com essa atitude uma tentativa de luta pela sobrevivência, que permitiu muitos militantes do “Sigma” permanecerem vivos e no presente externarem memórias desses tempos tensos da história política do Recôncavo Sul baiano e do Brasil.
A evidência contida na narrativa do ex-Integralista Senhor José Souza reafirma de forma impar uma atitude coletiva que se expressa na sua lembrança de um momento tenso de sua vida e de decisão imediata em ter que destruir as evidências de sua participação no movimento do Sigma. A memória externada por seu José não é resultado de uma assimilação de um evento experimentado individualmente, mas “o suporte em que se apóia a memória individual encontra-se relacionado às percepções produzidas pela memória coletiva e pela memória histórica.” HALBWACHS (2004).
Apesar de constatar a fragmentação das fontes sobre o Integralismo no Recôncavo Sul baiano, as evidências existentes e ate então apuradas nos permite afirmar não de forma precipitada, mas de forma segura que o movimento do “Sigma” obteve adesão de diversas pessoas de origem social diversa, inclusive intelectuais de Municípios como Cachoeira-BA, Maragogipe-BA e Cruz das Almas-BA.
O periódico “A Faúla” produzido pela impresa integralista de Maragogipe-BA relata os principais acontecimentos naquela cidade envolvendo o movimento do “Sigma”, além de relatar aspectos de outros núcleos como de Cruz das Almas e de outros Municípios.
A trajetória do integralismo no Recôncavo Sul baiano, ao que parece se inicia com a implantação dos primeiros núcleos municipais entre 1934 a 1935. Em Maragogipe-Ba o Núcleo é fundado em 1934 quando o professor e Jornalista Nestor Fernandes Távora toma posse junto com o seu secretariado, chefes de departamentos e Chefes de divisão no dia 31 de outubro de 1934 conforme noticiou o jornal “A Faúla”:
(...) Nestor Fernando Távora, que tomou posse em sessão realizada no dia 31corrente na sede, à rua Geni Morais número 16. No domingo passado teve lugar uma sessão extraordinária onde tomaram posse os secretários nomeados pelo Chefe que são os seguinte; Dr. Marivaldo Cotias – S.M.O.P., Eustorgio C. Junior – S.M.E, Bolívar Pinto – S.C. M., José Pereira Borba – S.M.P., Eduardo Vieira de Melo – S.M.C.A., N.Fernandes Távora – S.M.F.C.F., Otavio Batista Soares – S.M.F. DEPARTAMENTOS: Stela Machado Todt – D.M.I, Manoel Lucas Larangeiras D.N.E.s, André Mato Groso – D.M.C.I Florisberina Andrade – D.M.F. Eurípides Alves Peixoto – D.M.P., Eraldo Lopes Mota – D.M.J., CHEFES DE DIVISÃO; Pedro Baião de Jesus – D.M.G.I.C. Antonio F. Almeida do D.M.P., Meneleu Batista Soares do D. M. E., Hereliano Jorge de Souza da S.M.C. A.:” ( A Faúla,31 /10/1934).

Organizado em secretarias, departamentos e divisões os Núcleos Integralistas do Recôncavo Sul baiano seguia a risca as diretrizes propostas pela organização central do movimento. Com a participação de pessoas importantes de cada Município o movimento Integralista se estruturou no Recôncavo sul baiano com lideranças quase sempre com um bom nível intelectual, uma vez que, os núcleos eram quase sempre compostos por pessoas letradas a exemplo do Núcleo de Maragogipe que fundado em 1934 tinha como chefe o Senhor Nestor Fernandes Távora, sendo este professor, jornalista – sendo diretor do jornal “A Faúla” – e vereador como atesta a matéria publicada no jornal “A Faúla” fazendo menção a entrevista dada pelo mesmo ao Jornal Imparcial da Capital.
O IMPARCIAL este acreditado jornal da capital do Estado, em sua edição de 6 do andante, inseriu em suas colunas o clichê, acompanhado de uma longa entrevista sobre os últimos acontecimentos nesta cidade, do nosso ilustre e Diretor, o distinto e digno professor, jornalista e poliglota Nestor Fernandes Távora, Chefe Municipal do Núcleo Integralista. Nesta entrevista, o nosso Diretor que é também VEREADOR eleito por este Município, tratou da questão política municipal, expondo com máxima serenidade e com o espírito justiceiro que o caracteriza alguns dos episódios das eleições. ( A Faúla, 29 /11/1935).

É evidente que o chefe do núcleo integralista do Município de Maragogipe era um homem culto. Sendo Vereador que fazia oposição a conjuntura dominante Liberal apoiada nas diretrizes Varguistas, fora requisitado pelo jornal Imparcial da capital para tecer sua versão sobre o desenrolar das eleições naquele Município em 1934. É preciso evidenciar que segundo Ferreira (2006, p.58):
Após a chegada à direção de O Imparcial do jornalista Victor Hugo Aranha, a linha editorial muda significativamente, a simpatia inicial cedeu espaço a uma intensa e explícita propaganda pró-integralista entre os anos de 1935-37, quando se estreitam as relações ente o jornal e a AIB da Bahia.

Neste sentido, percebe-se que jornal “O Imparcial” assume uma atitude apologética em relação ao integralismo a partir de 1935, o que nos leva a inferir que tal entrevista cedida pelo chefe do integralismo do Núcleo de Maragogipe se apresentou com o intuito de demonstrar a partir da ótica Integralista uma versão do pleito naquela cidade, além de promover pela propaganda jornalista às doutrinas do movimento e, por conseguinte demonstrar para sociedade que o Integralismo em Maragogipe estava organizado.
È certo que o movimento dos “camisas verdes” em Maragogipe teve uma grande expressividade no Recôncavo Sul da Bahia e o argumento para tal afirmação é o fato do núcleo possuir um jornal organizado que apregoava tanto as doutrinas do movimento do Sigma, quanto os eventos promovidos pelo núcleo da A.I.B do referido Município e também dos municípios circunvizinhos. Para Cavalari (1999, p.79):
O jornal era organizado não apenas com o fim precípuo de doutrinar, mas, mais do que isso, de transmitir a doutrina de modo uniforme. Os jornais do interior, aqueles que chegavam até o militante mais distante, eram organizados de modo a reproduzir os jornais maiores, editados nos grandes centros onde se concentrava a elite dirigente do movimento.

O jornal “A Faúla” do núcleo de Maragogipe-BA parece seguir a risca o que Cavalari postula, não obstante, respostas a ofensas eram publicadas, sobretudo se referindo aos artigos de oposição ao movimento que eram publicados no jornal liberal do município a “Redenção”. Isto demonstra que o jornal era usando como meio de agressão e de defesa verbal durante toda a existência do movimento no Município. Por outro lado, é evidente que todo discurso expresso no jornal de uma maneira explicita ou implícita acabava sempre levando a doutrinação das “mentes desavisadas” dentro do campo ideológico do Integralismo.
Em 1935 o jornal “A Faúla” fez referência ao núcleo de Cruz das almas com a meteria intitulada; “ Histórico do Núcleo Integralista de Cruz das Almas-BA”. A matéria vem assinada pelo chefe Integralista do Núcleo Cruzalmense Fernando Pinheiro;
O Núcleo Integralista deste Município de Cruz das Almas, foi fundado em 1 de abril do corrente ano, sendo nomeado para dirigir os destinos o camisa-verde Fernando Pinheiro pelo chefe Provincial, tendo atualmente como secretários, os seguintes companheiros: Dr.Ramiro Eloy Passos, Laudelino da Mota Leal, Nelson Conrado de Andrade, Renato Passos Pinto, Antonio Miranda e Altamiro Castro Leal.

A informação acima nos leva a supor que o Núcleo Integralista do Município de Cruz das Almas-Ba foi organizado alguns meses após a fundação do núcleo da cidade de Maragogipe-BA, sobretudo quando cruzamos a informação acima com o noticiário do jornal “A Faúla” do dia 23/11/1935 que relata as atividades do aniversário do Núcleo de Maragogipe:
O Núcleo Municipal A.I.B. comemorando o primeiro aniversario da sua fundação, realizado no dia 11 do corrente, porém, sendo transferidos os festejos para o dia 17 deste, por motivos superiores, levou a efeito um programa cheio de entusiasmo e alegria, tudo na mais completa ordem e disciplina, característicos estes de todas as comemorações Integralistas.

A partir do cruzamento das informações podemos afirmar que o Núcleo de Cruz das Almas-BA fora fundado sete meses depois da organização do Núcleo Maragogipense. Essa Informação nos leva a pensar que o Núcleo de Maragogipe-BA obteve uma posição de irradiador das idéias Integralista em algumas cidades do Recôncavo Sul baiano, uma vez que o jornal “A Faúla” noticia eventos Integralistas que tiveram presença maciça de núcleos como o de Outeiro Redondo( hoje distrito de São Felix), São Felix-BA, Cachoeira-BA, Muritiba-BA, Cabeças (hoje Governador Mangabeira-BA) e Cruz das Almas-BA e Núcleos da Capital Salvador em eventos realizados em Maragogipe-BA.
Segundo Sr. José Souza o núcleo em Cruz das Almas estava organizado e crescia vertiginosamente. Ele afirma que o movimento estava bastante organizado e sob o comando de Fernando Pinheiro, que para ele era um homem muito inteligente capaz de conduzir os militantes de forma ordeira e simpática. O Sr. José Souza Afirma que:
O Movimento Crescia! Crescia!, nós aqui no interior, como aqui em Cruz das almas, nós tínhamos já um movimento bem avançado e tinha Fernando Pinheiro que era o chefe, era um cara que tinha uma cabeça boa né? Muito inteligente e sabia conduzir os seus camaradas de uma maneira simpática

A matéria referente ao Município de Cruz das Almas-Ba publicada no jornal “A Faúla” ainda registra de forma minuciosa a estrutura do Núcleo:
ESCOLA PRIMARIA: Possui este Núcleo uma escola primaria para ambos os sexos, a qual foi instalada em junho deste ano, já contando com o numero de 30 alunos matriculados.funciona 3 dias por semana com uma freqüência de 20 alunos. MOVIMENTO DA SEDE: Atualmente o Núcleo conta com o número de 104 integralistas fichados, do seguinte modo; Milicianos 70, juventude 30 e Departamento feminino 4. As sessões doutrinarias são às terças feiras onde comparecem geralmente diversos simpatizantes e um numero elevado de companheiro que varia de 30 a70, para ouvirem a palavra de fé dos oradores designados sobre o ideal do “Sigma” que empolga o Brasil.DISCIPLINA; A disciplina dos integralistas deste Núcleo é irreparável, são geralmente rapazes obedientes e fervorosos defensores do nosso ideal. EXERCÍCIO; adotamos os exercícios físicos como determinantes e regularmente e agora estamos organizando a nossa biblioteca. Tudo isto fazemos com extraordinário sacrifício, tendo os olhos fitos num futuro grandioso para nossa Pátria afim de que muito breve possamos realizar a obra monumental traçada pelo chefe Nacional que consiste na integralização de um Brasil altaneiro e respeitado por nações pela sua grandeza econômica, moral e patriótica, assentado sobre as bases espirituais que enobrecem um povo tendo por lema; Deus, Pátria e família. Fernando (Pinheiro C.M de Cruz das Almas-BA)

Como pode-se notar o núcleo Integralista do município de Cruz das Almas se encontrava em 1935 seguindo a risca os parâmetros de organização determinados pela liderança central da A.I.B. Com 104 pessoas registrados no movimento fica evidente que a proporção de simpatizantes também era bastante significativa. Este Núcleo, como se pode constatar, possuía uma escola primaria, assim como o Núcleo de Maragogipe, o que acabava levando diversas família integralistas ou simpatizantes a matricularem seus filhos, segundo o Sr. José Souza; “O povo gostava bastante, bastante mesmo!”.
A narrativa do Sr. José pode externar um sentimento coletivo de uma parcela do “todo social” que vivenciou o movimento Integralista em Cruz das Almas-BA. Mesmo sendo uma memória de um tempo em que o mesmo experimentou o engajamento político–ideológico na militância da A.I.B., as suas lembranças de modo algum podem ser compreendidas como uma construção individual, mas se encontra entrecruzada de perspectivas de vidas no todo social, tanto no passado como no presente em que ele externa a sua narrativa. As memórias de Sr. José se apresentam no presente como lembranças compostas sob os alicerces de uma diversidade de sentimentos “individuais” que acabam sendo externadas como uma expressão legítima de um contexto coletivo.


1.3 Considerações Finais

O integralismo de modo nenhum pode ser esquecido pela academia. Movimentos neo-nazistas no mundo contemporâneo se organizam e militam cotidianamente, sobretudo nas grandes cidades do planeta.
O próprio movimento Integralista esta se organizando novamente no Brasil isso se constitui como prova contundente da importância da academia e, sobretudo dos historiadores de discutirem um assunto de tamanha relevância para a sociedade.
O sistema ideológico criado por Plínio Salgado, Gustavo Barroso, Miguel Reale “viaja” no tempo espaço, e na contemporaneidade, não se limita ao campo das idéias, mas se torna vivo na prática de jovens integralistas que começam se organizar no Rio de janeiro.
A Bahia foi um dos estados que abraçou essa doutrina com afinco, cidades como Maragogipe, Cruz das Almas, Cachoeira, Castro Alves, Muritiba, foram palco para os desfiles das hostes Integralistas nos anos de 1934 a 1937. Muitas vidas experimentaram a militância no movimento e depositaram seus sonhos e desejos na construção de um novo país dentro do arcabouço das idéias Plinianas.
Frustadas ou não, as narrativas dos ex-militantes da A.I.B. analisadas a partir de um cruzamento com o discurso produzido pelos jornais oficiais dos “Camisas Verdes” em conjunto com os periódicos que se posicionavam contra o movimento do “Sigma” revelam um tempo de tensão, de “sussurros políticos” que projetavam a tentativa de colocar em prática um ideal político, um “projeto de nação”.
A presente pesquisa, apesar de está se iniciando tem desnudado aspectos importantes da estrutura política e organizacional do movimento Integralista no Recôncavo Sul Baiano nos primeiros anos de 1930. Neste sentido, pode-se dizer que, se entender o movimento do Sigma já é bastante relevante, devido a sua abrangência em todo país e pela sua construção ideológica, que dirais perceber que sujeitos socais distantes do grandes centros do país se posicionaram e militaram ardilmente defendendo uma posição política em seu cotidiano não apenas em momentos de eleição.
Por fim, a A.I.B. no Recôncavo Sul baiano não foi um movimento político que isolava o individuo em partes estaques da vida social, mas toda multiplicidade do viver cotidiano em suas diversas temporalidades e espaços, - o viver na Igreja, na família, na escola – esteve permeada pela militância diária estando bem próxima do que afirma Sr. Jose Souza; “ Era uma militância ferenha!”
2-Fontes Históricas:
Jornal “A Faúla” Diretor .Fernandes Távora, Redator Chefe Eustorgio C.Junior – 25 exemplares depositados na casa Osvaldo de Sá em Mragogipe-BA e um exemplar no Centro Cultural de Maragogipe-BA

2.1Fonte Oral:
Sr. José Souza Pereira ( 94 anos), conhecido como “Zeca da Breda”, residente em Cruz das Almas Bahia na rua Crisogno Fernandes S/N, participou ativamente do Núcleo Integralista de Cruz das Almas-BA – OBS: Encontra–se lúcido sendo um exímio jogador de xadrez, vive com a família, a esposa e filhos e Netos.


3-Referências

BARBOSA, Jerffeson Rodrigues. A ascensão da ação integralista brasileira (1932-1937), In: Revista Brasileira de Iniciação Científica da FFC. V.6, Nº. 1, 2, 3, Ano: 2006.

CALIL, Gilberto Grassi. O integralismo no pós-guerra: a formação do PRP (1945-1950). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937). Bauru: EDUSC, 1999.

FERREIRA, Laís Mônica Reis. O integralismo da Bahia: O caso de o Imparcial, In: Revista de História regional, Vol.11, Nº1 Ano: 2006.

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Ed. Centauro, 2004.

MERG, Camila Ventura. O Despertar da Nação: Nacionalismo e espiritualismo na doutrina Integralista. In: Cadernos de História, Ano I, Nº. 2, Setembro de 2006.

TRINDADE, Hélio. Integralismo: O fascismo brasileiro na década de 30. Porto Alegre: Difel, 1974.

[1] Sr. José Souza Pereira ( 94 anos), conhecido como Zeca da Breda, residente em Cruz das Almas Bahia, participou ativamente do Núcleo Integralista de Cruz das Almas-BA.

Um comentário:

  1. Alex de J.OLiveira, gostaria de receber para mostrar o seu trabalho ao meu pai Zeca da Breda um forte abraço.
    Josenei R. Pereira

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