terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O Forró na modernidade: embates da tradição com a contemporaneidade.

Por: Alex de J. Oliveira

O Forró ritmo tradicional brasileiro executado pelas bandas de músicas populares na época dos festejos juninos vem sofrendo mudanças significativas na modernidade. Neste sentido, muitas Prefeituras vem afirmando que não irão contratar mais as bandas que tocam o famoso “Forró de Plástico” ou “Forró Eletrônico” alegando que esse estilo musical não é Forró.
Por conseguinte, acreditamos que devemos fazer uma analise do que era o Forró e do que é o mesmo na contemporaneidade para que se possa, assim, melhor dimensionar os fatores que levaram o forró à se desenvolver, de modo que, a partir do entendimento do que foi e é o Forró hoje, possamos refutar justificativas vazias que se fundamentam na negação incoerente das tendências da modernidade .
A origem mais remota do “Forró” pode ser encontrada nas músicas alegres que eram executadas com Acordeom por pedintes nas Feiras que aconteciam na Europa no fim da Idade Media (Flandres, Champangne). Com o passar dos séculos muita coisa mudou, o acordeom foi aperfeiçoado e com o advento dos “Descobrimentos” estes instrumentos chegaram ao Brasil. Assim como o Violão o Acordeom é um dos instrumentos de Harmonia mais antigo, só não é mais velho que o tambor e os instrumentos de Sopro.
Durante o Brasil colônia as Musicas “Populares” eram tocadas com Acordeom, mas, ainda não existia a batida composta do Baião inventada no século XX por Luís Gonzaga, sofoneiro alto Didáta que possuía uma aplicação técnica e um domínio anormal do Acordeom. Antecessor do Baião, nós tivemos o Maxixe inventado pela grande pianista brasileira do séc. XIX Chiquinha Gonzaga.
Assim, podemos afirmar, que a música brasileira foi seguindo sua história recebendo influências de muitos povos, como os imigrantes Italianos, Alemães e Espanhóis cada um com uma forma típica de tocar o Acordeom. O Forró baião enquanto ritmo alegre recebeu influência da cultura Africana, principalmente no que diz respeito à dança, com sua sensualidade que proporciona um frenesi para quem toca, para quem ouve e, sobretudo, para quem está se remexendo no salão.
Na gênese do Forró, quando não havia Guitarra elétrica, Teclados que sintetizam milhares de sons, Contrabaixos elétricos, Baterias eletrônicas e/ou que pudessem ser totalmente mecanizadas, o Forro só poderia surgir da “mistura” de um tambor grande (Zabumba), um ferro retorcido em forma de triangulo que pudesse dá um som Agudo e um instrumento de solo e harmonia com grande acústica, o Acordeom. Na sua rusticidade o Forró é fruto de uma época em que havia poucas tecnologias na área da música, mas, mesmo assim, o Forró fazia - e ainda faz - a alegria da Vovó e do Vovô, assim como da Juventude.
A magia da mistura de um Triangulo, com uma Zabumba e um Acordeom - com bons músicos, Claro!- e um bom cantador, fez e faz do Forró um Ritmo genuíno do Nordeste brasileiro que expressa a alegria de um povo forte que mesmo sofrendo com seus problemas sociais ainda é capaz de cantar e sorrir.
Não obstante, na vida nada é estático, e isto é a maravilha da vida, tudo muda, e o Forró como uma manifestação cultural humana também mudou. É claro que não foi de uma hora para outra, isto se deu com o aparecimento das Torres de som, retorno de som, mesas de som, e novos instrumentos, foi assim que o Forró começou a se transformar, sobretudo, em meados da década de 80, recebendo influência do Regge, com uma batida seca binária na Bateria que fazia e faz o dançarino arrastar a donzela no salão. (Xote Regueado)
Nesta época as letras eram de duplo sentido, quem não se lembra de “ Aonde é o buraquinho Salete que eu não acho?” ou do baião “zangado” de Geníval Lacerda “ Mata o veio, Mata o veio...” ou “ Tomei caldo de mocotó ai ó fiquei forte”, e para fechar o show “ Julieta ta, ta, tá me chamando”. Hoje muitos “intelectuais” criticam essas músicas afirmando que são a escoria do Forró, o lixo, mas, esquecem que elas deram a sua contribuição para que o Forró chegasse no estágio musical em que se encontra, ou feio, ou bonito o Acordeom, a zabumba e o triangulo estavam lá e todo mundo dançava e ficava feliz.
O tempo passou, o Forró ficou um pouco de lado, sobretudo, pelo fato da ascensão da musica baiana, o AXÉ, mas, em meados da década de 90 as prefeituras do nordeste voltaram a fazer os arraias com diversas atrações, desta forma, o Forró renasce, com uma batida forte do baião inventado por Gonzaga, porém, ele não é mais o mesmo, ele recebeu a influência da modernidade, das novas tecnologias na área da musica, ele tornou-se “adulto”, ganhou “corpo”, Guitarra, Baixo, Bateria, e buscou influência de ritmos Caribenhos como a Lambada e a Salsa, os quais, foram fundidos com o Baião originando o que Chamam de “Forró Eletrônico”, eu prefiro chamá-lo de Forró Moderno.
Com muitos Cantores nas bandas, o Forró mudou a temática, tornou-se romântico, e o seu grande prepussor da nova era foi à banda Mastruz com Leite. Anos mais tarde, surgiria a banda Calcinha Preta, Com uma Guitarra de Rock Roll, e em seguida ganharia o sucesso a banda Limão com Mel, com seu baterista com digitações de Pedal Duplo e com suas canções extremamente românticas enlouquecendo a molecada.
Apesar das transformações, muitos forrozeiros defendem o “Forró tradicional”, como Adelmário Coelho, Flavio José, Alcimar Monteiro, esses músicos cantam o amor e algumas poucas tradições do nordeste, mas, nem um deles faz o autêntico Forró, pois, apesar de não se deixarem influenciar pelos ritmos caribenhos, eles tocam com todos os instrumentos e tecnologias que a modernidade pode lhes oferecer. Não obstante, é sabido que tais forrozeiros buscam se aproximar do Forró criado por Gonzaga, eles se apegam a tradição e criticam o Forró contemporâneo.
É preciso deixar claro que o Forró moderno e o Tradicional se completam, são eles que fazem a alegria do povo, os jovens amam Adelmário, Flavio, Alcimar, Domiguinhos assim como amam Calcinha Preta, Limão com Mel, Mastruz Com Leite. Cada um tem um estilo diferente. O primeiro busca se aproximar mais da modernidade, e nós precisamos do moderno, precisamos vê e ouvir as coisas modernas, bem como senti-las, é a nossa cultura florescendo, se tornando mais complexa. Não obstante, é nossa obrigação preservar aquilo que é bom, e o Forró tradicional é maravilhoso, é uma das nossas raízes musicais mais genuínas, por isso, devemos cultiva-lo para que possamos no futuro saber de onde veio este ritmo gostoso de se dançar, tocar e ouvir.
Em meio a esses embates entre o tradicional e o contemporâneo, as discussões são necessárias, apenas não se deve depreciar nem uma das duas vertentes para fazer sobressair um determinado estilo. Por conseguinte, não se deve tomar decisões arbitrarias de podar quem gosta de vê o Forró Moderno em detrimento de quem gosta de vê o Forró tradicional. Prefeitos Nordestinos, vamos buscar o bom senso, as Festas Juninas devem ter o Forró Tradicional e o Forró Moderno, mas, não vamos confundir Forró Moderno com o Arrocha, com o Estilo Calypso, ou com a música Sertaneja, ai é outra História, e uma história bastante complexa!

Um comentário:

  1. Sua brilhante lição de história, remete à visão antropológica da arte, nesse caso específico o ritmo nordestino. Não sei se gosto mais do forro chamado "tradicional" ou do chamado "eletrônico". O fato é que gosto da boa música recheado da boa letra que fomenta a cultura e os bons costumes. Só isso!Sua análise história faz refletir a respeito da mistura de gostos. O que resta aos educadores,é levar os amantes a música e serem críticos. Parabéns pela visão e comentários a respeito de um assunto tão importante para nossa cultura.

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