domingo, 21 de agosto de 2011

O Altar de Gideão

O Altar de Gideão
Permanecendo sobre a Penha Por. Alex de J.Oliveira



Meditando na palavra esses dia me deparei com texto de juízes 6 ; 19 -21 quando Gideão oferece scrificio ao Anjo que com certeza é uma figura do Senhor Jesus. O texto diz:

19E entrou Gedeão e preparou um cabrito e bolos asmos de um efa de farinha; a carne pôs num açafate, e o caldo pôs numa panela; e trouxe-lho até debaixo do carvalho, e lho apresentou.
20Porém o anjo de Deus lhe disse: Toma a carne e os bolos asmos, e põe-nos sobre esta penha, e verte o caldo. E assim o fez.
21E o anjo do Senhor estendeu a ponta do cajado, que estava na sua mão, e tocou a carne e os bolos asmos: então subiu fogo da penha, e consumiu a carne e os bolos asmos; e o anjo do Senhor desapareceu da sua vista.

No versículo 19 Gideão prepara o cordeiro para servi-lo como holoucasto para o Senhor, Ele faz tudo diligentemente. Isso me faz pensar que TUDO PARA O SENHOR TEM QUE SER FEITO DILIGENTEMENTE, COM ORGANIZAÇÃO, COM ENTUSIASMO, COM PRAZER, COM ALEGRIA, COMO SE ESTIVESEMOS FAZENDO ALGO PARA O NOSSO CONJUGUE AFINAL ELE É O NOIVO DA IGREJA.

NÃO OBSTANTE, o versículo 20 nos mostra que Jesus direciona onde devemos COLOCAR O NOSSO SACRIFICIO de amor que é a nossa própria vida, a nossa carne e o nosso sangue, porque Ele já deu sua carne e seu sangue por nós. Não havendo altar, ele manda colocar na Penha, ou seja, na Pedra, a qual é ele mesmo. Observe que ele manda colocar a carne na Penha, na pedra. Sim, irmão Ele manda colocar na Pedra sabe porque?

Porque na pedra o sacrifício não vai cair por que não é uma mesa que pode quebrar as pernas. A pedra sustenta e nada pode derrubar o sacrifício que é somos nós mesmo. Aprendo com essa aplicação que mesmo que pequemos o Senhor é misericordioso para nos sustentar, pois Ele nunca deixar sermos nocauteados pelo inimigo. Ele sempre tem uma solução.

Porque na pedra tem mais sabor. Todo churrasco feito no fogo compedras tem mais sabor. Há meu irmão se agente pude-se compreender isso. Toda dor que vc passa na terra apontar para um gozo intenso e remendo que vc nem consegue imaginar. sabe porque, porque tua vitória esta sendo forjada na pedra, é na pedra que é Cristo!!! Eita gloria Deus!!!!

Porque na Pedra o sacrifício está esposto ao céu. É irmão vc está sendo visto às 24 horas do dia, Deus não dorme não! Já diz o salmista rsrsrs ô gloria Deus! Ele fica atento e diz: - Lá vai meu filho, que andar lindo, olha o que ele faz, Ele ta pregando, olha ele ta louvando, olha ele ta sendo tentado e ta resistindo, e Jeová fala olha Jesus valeu a pena! Valeu a pena o seu sacrifício meu filho, valeu a pena! E Jesus diz: Eu sabia Papai, eu sabia Papai! E O Espírito Santo fica sorrido e diz: - Aquele ali eu Já queimei com Fogo Santo!! ôOOOOOOOOOO Gloria Deus!!!!

Há meu irmão mas é no vesiculo 20 que o mistério se completa!gloria Deus!

No Versículo Jesus toca a carne com o CAJADO e o fogo sai da penha e queima a carne! Rsrsrs O cajado de Deus faz fogo subir queimar a tua vida sim irmão.è no cajado que a ovelha segue o caminho certo, é com cajado que a ovelha entra na linha sim. E recebe o fogo que sai da pedra que é Cristo. No mundo de hoje não da para viver de filosofia mais, de teoria, de intelecto puro, precisamos esta sobre a rocha, em cima dela, precisamos do sobrenatural de Deus, precisamos viver no sobrenatural de Deus, para vencermos estes últimos dias. JESUS TE CHAMA PARA VIVER NO SOBRENATURAL DELE E EM CIMA DA PENHA QUE É ELE JESUS CRISTO!

AMEM? GLORIA DEUS!








O Carvalho é usado como medidor de catástrofes naturais.
Quando querem saber o índice de temporais e tempestades
ocorridas numa floresta, eles observam o carvalho (existindo
no local,é claro) que é a árvore que mas absorve as conseqüências
de temporais. Quanto mais tempestades o carvalho enfrenta, mais forte
fica! Suas raízes se aprofundam e seu caule se torna mais robusto.
Torna-se impossível uma tempestade arrancá-lo ou derrubá-lo!
Basta apenas olhar para o carvalho. Por absorver as conseqüências
das tempestades, a robusta árvore assume uma aparência disforme,
às vezes triste, como se tivesse feito muita força. Cada tempestade
é mais um desafio, não uma ameaça ! Numa grande tempestade,
muitas árvores são arrancadas, mas o carvalho permanece.!!! SEJA UM CARVALHO SEMPRE!!

terça-feira, 26 de julho de 2011

CONTRIBUIÇÕES DA OBRA “A INVENÇÃO DA CULTURA” DE ROY WAGNER PARA PESQUISA DOS TRABALHADORES RURAIS DA VILA DE SÃO JOSÉ DO ITAPORÃ-BA.

Por: Alex de J. Oliveira
Mestrando em Ciências Sociais/UFRB


RESUMO
O paper pretende demonstrar as contribuições da obra “A invenção da Cultura” de autoria do professor Roy Wagner para o desenvolvimento da pesquisa a questão da terra no recôncavo baiano: memórias de tempos de enfretamentos pela posse de terras na Vila de são José do Itaporã – BA / 1970 a 2000.

PALAVRAS CHAVES: cultura, antropologia, etnografia.

Por: Alex de J. Oliveira
INTRODUÇÃO

O nosso anteprojeto de pesquisa traz como proposta estudar os trabalhadores da Vila de São José do Itaporã a partir de suas memórias e cultura. Queremos compreender como esses homens e mulheres conseguiram permanecer no campo em um momento de grandes mudanças no Recôncavo baiano nas décadas de 1960 a 2000.
Para tanto acredito ser necessário demonstrar o que pretendo pesquisar para poder relacionar com o texto “A invenção da cultura” estudado na disciplina problemas e paradigmas da investigação social.
O nosso anteprojeto tem como foco a problematização da questão da terra no Brasil, pois essa temática tem sido discutida em debates acalorados que tem se desdobrado em movimentos sociais organizados em nossa sociedade como o MST .
Neste sentido, a escolha do tema representa uma oportunidade de colocar em evidência na academia um objeto de estudo significativo para os trabalhadores rurais da Vila de São José do Itaporã – BA, bem como para sociedade do Recôncavo Sul baiano.
A posse da terra em nosso país é um problema de tamanha relevância para nossa sociedade que perpassa toda a História do Brasil como um dos maiores entraves para a construção de uma sociedade que possibilite o mínimo de dignidade para os seus cidadãos.
No Brasil a questão da posse de terras devolutas remonta ao século XVIII . Sabe-se que a Lei de Terra aprovada em meados do século XIX não evitou que o posseiro adquirisse terras, como bem nos esclarece Barickman quando ele afirma que “a Lei de Terras, finalmente aprovada em 1850, mostrou-se completamente ineficaz para controlar a aquisição de terras devolutas por particulares no Recôncavo baiano”.
O fato é que os herdeiros dos primeiros posseiros, no inicio do século XX tinham muitos filhos, e ao falecer deixavam suas terras também como heranças. O número de filhos implicava em ter que deixar pequenas extensões de terras para os mesmos, os quais tinham duas alternativas; vender as terras e migrar para as cidades ou resistir a vender suas terras e criar estratégias de sobrevivências em meio às agruras do trabalho duro na roça .
Por conseguinte, em 1964 o governo militar editou o Estatuto da Terra (Lei nº. 4 504/64) para consolidar a regulamentação do uso e ocupação da terra no Brasil. Porém, essa lei não resultou em melhorias na vida do pequeno proprietário, ao contrario ela possibilitou que os fazendeiros agropecuaristas do Recôncavo angariassem empréstimos nas instituições financeiras que os permitiam comprar as terras dos herdeiros interessados em vender suas posses.
Portanto, queremos identificar e analisar a partir das memórias e da cultura dos trabalhadores rurais da Vila de São José do Itaporã - BA como eles construíram estratégias para permanecer em suas “terras” mesmo tendo ínfimas extensões que mal lhes permitia retirar o sustento para suas famílias.

1.1 CONTRIBUIÇÕES DA OBRA “A INVENÇÃO DA CULTURA” DE ROY WAGNER PARA PESQUISA DOS TRABALHADORES RURAIS DO SÃO JOSÉ DO ITAPORÃ.

Por se tratar de uma pesquisa onde a observação participante será de grande importância entendemos que o trabalho de Roy Wagner tem significativa relevância para nos ajudar a compreender o fazer etnográfico, na medida em que suas colocações nos alerta para visualizar a nossa inserção enquanto pesquisador na construção do objeto estudado. Para Wagner:
O fato de que o antropólogo opta por estudar o homem em termos que são ao mesmo tempo tão amplos e tão básicos, buscando entender por meio da noção de cultura tanto sua singularidade quanto sua diversidade, coloca uma questão peculiar para essa ciência (...) O antropólogo é obrigado a incluir a si mesmo e seu próprio modo de vida em seu objeto de estudo, e investigar a si mesmo (...) O antropólogo usa sua cultura para estudar outras e para estudar a cultura geral.

Como se pode notar, para Wagner o fazer etnográfico nos impõe a obrigatoriedade de termos consciência da nossa participação na construção do objeto e vai mais além, na medida em que demonstra que o pesquisar quando estuda outra cultura acaba transformando a sua própria cultura também em objeto da investigação.
Estudar a “cultura” rural, a vida, os costumes, valores, o modos de vida do povo de São José do Itaporã, bem como sua relação com a terra também será de certo modo compreender melhor como dimensionalizo a cultura na qual estou inserido a saber; a cultura urbana do recôncavo.
Outro ponto que acreditamos ser fundamental para compreender melhor o cotidiano dos agricultores do São José do Itaporã é o cuidado de não querer alcançar a objetividade absoluta durante a pesquisa e ao analisar os dados levantados, pois para Wagner o antropólogo:
Precisa renunciar à clássica pretensão racionalista de objetividade absoluta em favor de uma objetividade relativa, baseada nas características de sua própria cultura. É evidente que um pesquisador deve ser tão imparcial quanto possível, na medida em que esteja consciente de seus pressupostos; mas freqüentemente assumimos os pressupostos mais básicos de nossa cultura como tão certos que nem nos apercebemos deles.

Neste sentido o pesquisador deve ter em mente que de maneira nenhuma conseguira da conta de forma totalmente imparcial do seu objeto de estudo. A objetividade absoluta do seu objeto de estudo é uma utopia, pois para sua efetivação seria necessário que o pesquisador não tivesse cultura. É inevitável que a cultura do pesquisador não influencie na sua pesquisa. Não obstante, isso não implica que o cientista social não busque a imparcialidade.
Visualizar a cultura do povo de São José do Itaporã será de certo modo uma forma de nos tencionar no sentido de levar-nos a verificar não só as especificidades dos modos de vida desses trabalhadores rurais, mas compreender melhor a cultura na qual estamos inseridos. O que Wagner nos chama atenção é para o afastamento da ingenuidade de acreditar na possibilidade da imparcialidade total do pesquisador, o que de certo modo é impossível.
Para Wagner o pesquisador é o elo entre duas culturas, pois vivência ambas no processo de pesquisa de campo. Para ele é essa consciência que permite o cientista social conseguir captar elementos que podem ser descritos e explicados da cultura estudada. Em suas palavras ele diz ;
Para que o pesquisador possa enfrentar o trabalho de criar uma relação entre tais entidades, não há outra maneira senão conhecer ambas simultaneamente, aprender o caráter relativo de sua cultura mediante a formulação concreta de outra. Assim é que gradualmente, no curso do trabalho de campo, ele próprio se torna o elo entre culturas por força de sua vivência em ambas; e é esse “conhecimento” e essa competência que ele mobiliza ao descrever e explicar a cultura estudada.

Conviver com os trabalhadores do São José do Itaporã na pesquisa de campo teremos a consciência que somos um “elo” entre “mundos” tão próximos que fazemos parte de uma mesmo – povo brasileiro – mas que temos formas de nos relacionar diferenciada tanto com a natureza quanto uns com os outros. Entender que o cientista dentro do processo de pesquisa de campo é um elo entre duas culturas facilitara o entendimento melhor do outro, e a assimilação do choque cultural se dará de uma forma mais branda.
Sobre a construção do conhecimento após a pesquisa de campo Wagner diz que será necessário que o antropólogo tenha habilidades para produzir significados dentro de sua própria cultura para tentar explicar e tornar inteligível a cultura estudada para os seus pares. Ele diz os esforços do antropólogo:
para compreender aqueles que está estudando, para tornar esse conhecimento a outros irão brotar de suas habilidades para produzir significados no âmbito de sua própria cultura. Desse modo, o que quer que ele “aprenda” com os sujeitos que estuda irá assumir a forma de uma extensão ou superestrutura, construída sobre e com aquilo que ele já sabe. Ele irá “participar” da cultura estudada não da maneira como um nativo o faz, mas como alguém que sesta simultaneamente envolvido em sue próprio mundo de significados, e esses significados também farão parte.

Estudar a cultura, os relacionamentos dos trabalhadores rurais do São José do Itaporã, suas vivências, modos de vida, sua resistência em sair de suas terras, seus significados e representações em relação a terra, só se tornarão inteligíveis para meus pares dependo das “metáforas” que utilizemos dentro do nosso “campo cultural”. É capacidade de analise dos dados dentro do “campo cultural” que estou inserido que promoverá a construção de um conhecimento coerente sobre o povo em estudo.
Neste sentido, isto implica em dizer que o discurso científico produzido será resultado da colaboração de elementos de duas culturas que simetricamente se tencionam e se estudam e, por conseguinte, produzem significados sobre si mesmas transformando o pesquisador no “instrumento” captador dessas tensões de modo a ser capaz de falar do outro falando com ferramentas ( linguagem) que pertencem a sua cultura.

CONCLUSÃO


As contribuições de Roy Wagner para nortear o nosso processo de investigação, principalmente em relação ao trabalho de campo e a noção de cultura é fundamental, pois nos mostra de forma profunda a inserção do pesquisador e de sua cultura dentro do fazer etnográfico.
Wagner apesar de ser radical em alguns momentos, sobretudo em relação a existência de uma certa objetividade na pesquisa, ele não deixa de demonstrar as variáveis que transformam o objeto a ser estudado em participante dentro do processo de construção do conhecimento. Ele não nega a possibilidade de se conhecer outra cultura, apenas diz como se da esse conhecimento, a saber; dentro de um jogo de invenção de si mesmo e do outro, ou seja dentro da invenção da cultura do outro a partir da cultura de quem busca estudar e acaba estudando também a si mesmo.
A epistemologia de Wagner sobre o conceito de cultura nos alerta para a possibilidade da invenção desse conceito dentro da pesquisa de campo quando se da o choque cultural entre as partes envolvidas no processo de construção desse conhecimento – o pesquisador e seu objeto. Ele também alerta sobre como se da produção desse conhecimento após a pesquisa, mostrado que para que o trabalho tenha sentido para o pesquisador e seus pares é necessário que o mesmo tenha habilidade dentro do campo cultural em que esta inserido de modo a ser capaz de tornar inteligível o seu discurso.
O trabalho de Roy Wagner nos esclarece muito sobre o fazer etnográfico. As suas colocações apesar de radicais em relação à cultura traz elementos importantes para o entendimento deste conceito. Sobre a pesquisa de campo - in locus – Wagner se constitui leitura obrigatória e acabou por ajudar a desenvolver uma visão mais apurada sobre o objeto de nossa pesquisa.


REFERÊNCIAS

BARICKMAN, B. J. Um Contraponto baiano: Açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780-1860 – RJ: Civilização brasileira, 2003.

LEWIN, H.(ORG.) Uma nova abordagem da questão da terra no Brasil: o caso do MST em campos dos Goytacazes. Rio de Janeiro, 7letras, 2005.

OLIVEIRA, A. J. Experiências, Cotidiano e Representações dos Trabalhadores Rurais de São José do Itaporã - 1960 / 1990. Monografia apresentada na conclusão do curso de Especialização em História Regional e local – UNEB/Campus V - digitada e deposita na Biblioteca do Campus V.

OLIVEIRA, A. M. C. S. Recôncavo Sul: terra, homens, economia e poder no século XIX. Salvador-Ba: UNEB 2002.

WAGNER, R. A Invenção da Cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

Impasses e Possibilidades: a questão da terra no Brasil e sua relação com a construção do Estado Democrático brasileiro.

por: professor Alex de J.Oliveira
Mestrando em Ciêncas Sociais/UFRB

RESUMO
O artigo pretende discutir a questão da terra no Brasil buscando visualizar o impacto das legislações que se seguiram desde a lei de terras de 1850 que impediram e/ou dificultaram o acesso a esse bem pela população pobre e, não obstante, acabaram mantendo e legitimando o status quo da elite econômica agrária em diversos momentos da história do Brasil. Argumenta-se também que os impasses em relação à construção de políticas para implantar uma reforma agrária efetiva no país impossibilitou a democratização do acesso a terra e acabou acirrando as desigualdades sociais e econômicas que se perpetuam no Brasil contemporâneo.
PALAVRAS CHAVES: Terras, Legislação, Democracia.


Introdução
A questão da terra no Brasil é um elemento chave para se discutir as desigualdades e a construção da democracia. A riqueza e miséria nesse “país continental” resultaram de certa forma das políticas e das legislações implantadas em relação à aquisição de terras.
As legislações que se seguiram desde a lei de terras de 1850 sempre estiveram direcionadas para a manutenção dos grandes latifúndios e, não obstante, acabaram construindo dificuldades para que os libertos - no pós-abolição - e a população pobre não tivessem acesso à terra de forma legal.
Essa estratégia do governo brasileiro desde o Império acabou por caracterizar o aspecto ideológico do Estado , pois o mesmo sempre buscou manter e legitimar o status quo da elite econômica dominante se utilizando de forma consciente e, em muitos casos de forma arbitraria de leis que defendessem exclusivamente os interesses aristocráticos.
A lei de terras de 1850 é um grande exemplo da estratégia de manutenção dos status econômico e social da aristocracia, pois sabendo da iminência da abolição e da chegada dos imigrantes elabora-se a lei com dupla finalidade, a saber; primeiro de impedir que os alforriados tenham acesso a terra, e segundo de criar condições legais para que o imigrante europeu tenha dificuldades para adquirir-las .
É verdade que mesmo após a lei de terras algumas famílias lutaram para sobreviver com pequenas extensões que adquiriram por meio de ocupação ilegal. As terras do interior do país pertencentes ao Estado e em alguns casos da Igreja Católica foram ocupadas por pessoas livres pobres e por alforriados, uma vez que o Estado brasileiro não tinha condições de fiscalizar todas as terras do interior .
Não obstante, isso não implica em dizer que a lei de terra foi inútil. Ela se constituiu como a base onde se assentou a estratégia de manutenção do status quo da elite econômica brasileira, na medida em que dificultava o acesso à terra de forma legal pelos libertos e imigrantes.
Seja por meio da lei ou de um modo “mascarado”, na informalidade das relações econômicas e sociais a elite econômica agrária limitou o acesso da população livre pobre a bens matérias como a terra. Esse fato possibilitou a formação de uma mão-de-obra que foi explorada tanto no campo quanto nas cidades na transição do trabalho escravo para o trabalho livre no Brasil e, não obstante, acabou agravando as desigualdades sociais e econômicas do país.
A aristocracia brasileira não permitiu a participação dos libertos e pobres nas decisões políticas do país quando a República foi implantada, mas antes reelaborou os meios de exploração herdados do período escravista para manter o seu status quo. O professor Fernando Pedrão ao se referi ao período Republicano no pós-abolição afirma :
Ainda é como se a sociedade urbana pós-escravista pudesse manter-se sem utilizar meios de exploração herdados da situação anterior e praticados de modo informal, mas legitimado. Entretanto, este problema se reproduz de diversos modos, desde a desigualdade das condições de mobilidade entre grupos de renda e grupos étnicos até o controle ideológico representado pela própria leitura da história.

No pós-abolição e na nascente República a elite econômica urbana e agrária continua explorando os libertos agora não mais de uma forma legal, mas na informalidade das relações de trabalho legitimada por dois aspectos da ideologia dominante; a “ideologia da subsistência e da ascensão social pelo trabalho” .
A dificuldade de acesso a terra no pós-abolição levou os libertos e a população pobre a migrar para os centros urbanos se sujeitando a todo tipo de trabalho . A falta de acesso a terra acabou por construir uma mão-de-obra nas cidades que foi explorada em sua maioria nos trabalhos braçais. No campo essa mão-de-obra foi explorada pela elite econômica agrária tão quanto foram os escravos.
Por conseguinte, esses trabalhadores além da exploração que sofreram foram excluídos de uma participação efetiva na política do país, pois à eles foram negado o direito de votar e serem votados. Essa “anulação” política dos trabalhadores permitiu que a aristocracia elabora-se leis que impediram o acesso dos mesmos a terra e a outros benefícios sociais .
Não obstante, na segunda metade do século XX o movimento das ligas camponesas buscou lutar pelo fim da exploração dos trabalhadores rurais e expropriação de terras efetiva no país, porém acabaram sendo silenciadas com a implantação da ditadura militar que acabou criando o “Estatuto da Terra”, o qual favoreceu ainda mais à acumulação de capital e de terra pela elite agrária. Na verdade o Estatuto da Terra foi à tentativa de construir uma “mordaça” para calar o “grito” daqueles que lutavam pelas “Reformas de Base” propostas pelo presidente João Goulart.
Após a democratização do país, os princípios da ditadura em relação a permanência dos latifúndios, de certa formar continuam em prática, pois a questão da terra é tratada como pauta principal na época das eleições. As políticas em relação à terra apenas remediam, mas não resolvem efetivamente problema.
Todos os projetos de reforma agrária propostos pelos governos democráticos no Brasil não foram efetivados de forma satisfatória, e esse fato tem impulsionado ao aparecimento de movimentos sociais como o MST, o qual mesmo com suas contradições internas, tem se mostrado como um movimento capaz de tencionar o governo levando o mesmo a construírem políticas na direção da construção de assentamentos para inúmeras famílias brasileiras.
Por tanto, discutir a questão da terra no Brasil é uma tentativa de demonstrar que mesmo com a democratização do país a partir da segunda metade da década de 80 do século XX a distribuição da terra ainda continua sendo um impasse dentro de diversas possibilidades para democratização das riquezas do país.

Impasses e Possibilidades: a questão da terra no Brasil e sua relação com a construção do Estado Democrático brasileiro.

A questão da terra no Brasil tem sido discutida em debates acalorados que tem se desdobrado em movimentos sociais organizados em nossa sociedade contemporânea como o MST .
A posse da terra em nosso país é um problema de tamanha relevância para nossa sociedade que perpassa a história do Brasil como um dos maiores entraves para a construção de uma sociedade que possibilite o mínimo de dignidade para os seus cidadãos.
Diversas legislações foram elaboradas pelo governo português com a finalidade de organizar a distribuição das terras no Brasil Colônia. Durante o processo de início da colonização que as grandes extensões de terras foram doadas para os “homens de bem ” que viessem implantar empresas de cultivo de cana-de-açúcar e/ou explorar suas riquezas naturais.
É a partir da implantação do sistema de Capitânias Hereditárias na colônia pelo governo Português que se inicia o processo de partilhamento das terras do atlântico sul entre os nobres portugueses que tivessem interesses em investir na colônia. Não obstante, esses nobres chamados de donatários tinham a incumbência de explorar as riquezas de suas terras, fundarem Vilas e doarem Sesmarias .
Esse modelo de aquisição de terras se perpetuará até a criação da lei de terras em meados do século dezenove. As Sesmarias e os Morgados permitiram que poucas famílias tivessem acesso a grandes extensões de terra no Brasil, de modo que mesmo após a lei de terras continuaram detentoras de latifúndios que os permitiram, de certo modo, terem papel decisivo na política e na economia no Império e na República.
Por conseguinte, isso não implica em dizer que a população pobre não teve acesso a pequenas extensões de terra no interior do país, pois a questão da aquisição de terras “devolutas” no Brasil, remonta ao século XVIII, uma vez que os “roceiros pobres” construíam suas casas em terras do governo desenvolvendo a prática da “posse de fato”, juridicamente ilegal, mas que se popularizou como um mecanismo alternativo de aquisição de terras até mesmo após a lei de terras de 1850.
Se por um lado toda política de Estado estava voltada para favorecer a elite econômica brasileira, sobretudo em relação à aquisição de terras, por outro não implica em dizer que colonos pobres não construíram estratégias para burlar o sistema, pois no interior do Brasil Colônia e Império as terras do governo e mesmo da Igreja Católica eram adquiridas por meio da “posse de fato” pelos “Roceiros livres ”.
Neste sentido, a lei de terra aprovada em meados do século XIX não evitou que o posseiro adquirisse “as terras devolutas”, como bem nos esclarece Barickman ; “a Lei de Terras, finalmente aprovada em 1850, mostrou-se completamente ineficaz para controlar a aquisição de terras devolutas por particulares no Recôncavo baiano”.
Pode-se pensar que apesar da existência de uma legislação referente à posse de terra no país em meados do século XIX, pessoas desfavorecidas de bens matérias acabavam adquirindo terras com a estratégia da “posse de fato” desde meados do século XIX. Muitos roceiros pobres tornara-se pequenos posseiros adquirindo terras devolutas com a “posse de fato” , posse essa que se fragmentava em heranças deixada pelo posseiro para seus filhos .
Não obstante, a lei de terras verdadeiramente foi um marco na história do Brasil , seja porque a Império estava pressionado pela conjuntura internacional no que diz respeito a acabar com a escravidão, seja pelo interesse interno da elite agrária brasileira que sabendo da possibilidade da aquisição de terras pelos libertos e roceiros pobres acabou elaborando uma lei com a finalidade de dificultar àqueles que nada tinham de adquirir terras .
É preciso ressaltar que a lei de terras não tinha apenas o caráter de impedir a aquisição por parte dos alforriados, libertos e roceiros livres, mas também implicava em criar dificuldades para o imigrante europeu adquirir terras. A intenção do governo Imperial era levá-los a trabalhar nas lavouras de café do oeste paulista e ao mesmo tempo fazê-los imaginar que pela renda adquirida no trabalho nas lavouras poderiam comprar terras .
Nesta conjuntura, um liberto, imigrante ou roceiro adquirir terra significava conquistar a liberdade em relação a exploração de sua mão-de-obra nas lavouras da aristocracia. Para Martins sendo o trabalho escravo o acesso a terra poderia ser livre, porém tornado o trabalho livre a terra obrigatoriamente deveria torna-se “cativa”, por isso a lei de terra foi criada para dificultar a conquista da “verdadeira liberdade” pelos ex-escravos e pela população de pobres explorados pela elite econômica agrária .
Com a lei áurea muitos libertos e “roceiros livres ” são impelidos, de certo modo a continuarem a ser a mão-de-obra explorada pelos fazendeiros, pois a impossibilidade de aquisição de terras levou os mesmos a se submeterem a todo tipo de trabalho tanto na espaço urbano quanto no espaço rural.
Para manter a exploração dos libertos e roceiros pobres a aristocracia utilizou segundo afirma Martins, da “ideologia da subsistência”. Esse pensamento colocou os libertos em uma posição de subserviência em relação aos fazendeiros levando os mesmos a trabalharem para os coronéis em troca de concessões e favores dos mesmos, como por exemplo, utilizar suas terras em pequenos roçados .
Não obstante, a exploração dos imigrantes europeus estava assentada na ideologia da “acessão social por meio do trabalho na lavoura de café”. Para Martins esse pensamento foi produzido pelos interesses dominantes no final do século XIX e início do século XX e acabou ocultando a exploração capitalista originária no trabalho livre brasileiro na nascente República .
Por toda República a questão da democratização da terra não é abordada com seriedade. Poucas leis foram criadas para tentar amenizar o problema, mas nunca resolver de fato a questão da acumulação de terras por parte da elite agrária em detrimento de uma população imensa de “sem terras” no país.
Na República Velha o governo provisório decretou que todas as terras devolutas passassem a pertencer à União de modo que os Estados não poderiam doar mais essas terras às pessoas que poderiam povoá-las. Esse fato gerou muitas disputas no Congresso Nacional de modo que a lei foi revista retornando as terras para os Estados .
Na verdade as terras devolutas estando em poder dos Estados serviram como status de poder onde políticos e coronéis manipulavam os votos dos seus trabalhadores e afilhados concedendo-lhes pequenas extensões de terras apenas para trabalharem. Nem mesmo o golpe de 1930 mudou a configuração da distribuição de terras no Brasil, pois permaneceu a desigualdade de sua distribuição. Poucos avanços foram acrescentados de 1930 até 1946.
Por conseguinte, na ditadura militar edita-se o Estatuto da Terra e a lei 6.383, de 7 de dezembro de 1976 para consolidar a regulamentação do uso e ocupação da terra no Brasil. Porém, essa lei não resultou em melhorias na vida do pequeno proprietário, ao contrario, ela possibilitou que os fazendeiros agropecuaristas angariassem empréstimos nas instituições financeiras que os permitiram comprar as terras dos pequenos proprietários interessados em vender suas posses.
Após a redemocratização do país a partir de 1985 a questão da terra não foi vista como prioridade pelos governos que têm se sucedido na presidência e a reforma agrária passou a ser promessa de palanques em momentos de eleição. A constituição de 1988 abriu brechas para a desapropriação de terras improdutivas com a finalidade de se fazer a reforma agrária, mas apesar de algumas desapropriações o número de assentados ainda é muito irrisório dentro do universo do “sem terras” no Brasil.
Os avanços conquistados com a democratização do país se da, sobretudo, na liberdade que os movimentos sociais têm para se organizarem com a finalidade de reivindicar do governo políticas que visem assentar famílias dando-lhes condições de produzirem e de terem qualidade de vida.
Essas reivindicações e tencionamentos dos movimentos sociais como o MST levou o governo a assentar milhares de famílias no Brasil, o que ainda é muito pouco em relação a divida histórica do Estado brasileiro com a população oriunda das camadas desfavorecidas economicamente.
Para Sauer os modelos político-econômicos brasileiros têm sido historicamente baseados na grande propriedade latifundiária e esses adquirem novas dimensões, mas não mudam significativamente devido aos constantes pactos e rearranjos no poder entre os setores das camadas dominantes urbana (setor industrial e financeiro) e a oligarquia rural.
Portanto, pode-se dizer que a questão da terra é um problema que merece ser discutido de modo a se encontrar caminhos que possibilitem a implantação de políticas que resolva de fato as demandas históricas de negação ao acesso a terra por inúmeras famílias brasileiras.
A negação histórica da aquisição de terras pela população pobre coloca em cheque a própria democracia brasileira, na medida em que as riquezas do país não são democratizadas e continuam sendo privilegio de uma pequena parcela da sociedade.
A terra enquanto bem básico para o trabalho de milhares de pessoas que preferem viver no espaço rural retirando dela o seu sustento é negada contundentemente pelo governo brasileiro que cria leis para legitimar os latifúndios ainda existentes no país.
O tencionamento dos movimentos sociais em relação à implantação de políticas públicas direcionadas à distribuição de terra reflete também a exclusão política e a marginalização social de uma grande parcela da população rural brasileira, pois como afirma Martins, “ao logo da história do Brasil os camponeses sempre foram colocados de fora dos pactos políticos das elites agrárias”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história do nosso país mostra como o governo tem tratado a questão da terra, pois a negligência em enfrentar o problema parece ser resultado de um comprometimento de todos os governos que se sucedem no país em disfarçar ou camuflar a divida histórica com a população pobre sem terra.
Por conseguinte, a divida em relação à implantação de uma política de reforma agrária efetiva em nosso país coloca em cheque o sentido pleno da ideia de Democracia brasileira, uma vez que as demandas da população pobre pela aquisição de uma porção de terra se mostra cada vez mais acentuada e ressoa por meio dos movimentos sociais que tencionam o governo na busca da efetivação da democratização do acesso a terra àqueles que foram negada no passado.
A história do Brasil encontra-se impregnada pelas evidências do trato do governo com a questão da terra. O fato é que esse meio de produção sempre se constituiu como um meio de manter o status quo daqueles que são a burguesia agrária brasileira.
O fato é que possuir terra no Brasil é ter poder, a saber; poder político e poder econômico. Nesta conjuntura, onde o poder está nas mãos de quem possui terras e dinheiro as pessoas pobres são sempre usadas como “massa de manobra” para serem exploradas e servirem de legitimadoras por meio do voto da situação de “negação de direitos” que se perpetua por séculos no país.
Se ao liberto e ao roceiro fora negado o direito de ter um “pedaço de terra” para trabalhar e sustentar a sua família, hoje negasse o mesmo direito ou em raros casos concede-lhe terras sem lhe dar nenhuma estrutura para produzir e ter o mínimo necessário para possuir qualidade de vida.
A questão da terra no Brasil é a agenda mal resolvida desde o período Império e carece de uma ação pragmática e organizada no Brasil contemporâneo com a finalidade de sanar as mazelas que resultaram de erros sucessivos que se tornaram um impasse para a plena democratização das riquezas, da participação política e do desenvolvimento de uma nação com potencial territorial invejável.
Portanto, se para alcançar a verdadeira democracia, a qual consiste não só na efetivação da possibilidade do cidadão votar e ser votado, mas vai na direção da plenitude da justiça social e da divisão equitativa das riquezas, o Brasil encontra-se com o grande impasse da sua história que precisa ser levado a sério e de forma cabal democratizando o acesso a terra para as famílias pobres brasileiras.













REFERÊNCIAS
ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos de Estado. Rio de Janeiro, Graal.

AZEVEDO, Fernando de. As Ligas Camponesas. São Paulo: Paz e Terra, 1982.

BARICKMAN, B. J. Um Contraponto baiano: Açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780-1860 – RJ: Civilização brasileira, 2003.

LARA, S. H. Escravidão, cidadania e história do trabalho no Brasil. In: Projeto História: Revista do programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, nº 16, São Paulo: EDUC, 1998.

LIMA, R. C. Pequena história territorial do Brasil: Sesmarias e Terras Devolutas. 4.ed. Brasília: ESAF, 1988.

LEWIN, H.( ORG.) Uma nova abordagem da questão da terra no Brasil: o caso do MST em campos dos Goytacazes. Rio de Janeiro, 7 letras, 2005.

MARTINS, J. A reforma Agrária brasileira e o papel do MST. In: STEDILE, J. P. (org.) A Reforma Agrária e a luta do MST. Petrópolis, Vozes, 1997.

MARTINS, J. Caminhada no chão da noite: Emancipação política e libertação nos movimentos sociais do campo. Hucitec, São Paulo, 1989.

MARTINS, J. M. O cativeiro da terra. São Paulo, Livraria Editora Ciências Humanas, 1979.

NOZOE, N. Sesmarias e apossamento de terras no Brasil colônia- FAE/ USP. 2002

OLIVEIRA, A. M. C. S. Recôncavo Sul: terra, homens, economia e poder no século XIX. Salvador-Ba: UNEB 2002.

OLIVEIRA, A. J. Experiências, Cotidiano e Representações dos Trabalhadores Rurais de São José do Itaporã - 1960 / 1990. Monografia apresentada na conclusão do curso de Especialização em História Regional e local – UNEB/Campus V - digitada e depositada na Biblioteca do Campus V.

PEDRÃO, F. Novos e velhos elementos na formação social do Recôncavo da Bahia de todos os santos. IN: Revista do Centro de Artes, Humanidades e Letras vol. 1, 2007.

SANCHES, A. T. A questão da terra na República: o registro torrens e sua ( in) aplicação. Dissertação de mestrado em teoria geral do direito pela universidade de São Paulo; 2088.

SAUER, S. Terra e modernidade: a reinvenção do campo brasileiro. São Paulo: editora Expressão popular, 2010.

SCHWARTZ, S. Escravos, Roceiros e Rebeldes. EDUSC. São Paulo: 2001.

terça-feira, 21 de junho de 2011

O "Fim" da Idade Média

Por volta de fins do século XIII a produtividade agrícola já dava claros sinais de fim, prenunciando uma possível falta de alimentos, devido ao esgotamento dos solos, enquanto a população continuava apresentando tendências de crescimento, era o fim da Idade Média. A exploração predatória e extensiva dos domínios, que caracterizara a agricultura feudal, fazia com que o aumento da produção se desse, em sua maior parte, com a anexação de novas áreas (que não estava mais ocorrendo) e não com a melhoria das técnicas de cultivo.
Agravaram-se as contradições entre o campo e a cidade da Idade Média. A produção agrícola não respondia às exigências das cidades em crescimento. Nos séculos XI, XII e primeira metade do século XIII, a utilização de novas terras e as inovações técnicas permitiram uma ampliação da produção. Na última década do século XIII já não restavam terras por ocupar, e as utilizadas estavam cansadas, gerando uma baixa produtividade. As inovações técnicas anteriores já não respondiam às novas necessidades. Além disso, a substituição do trabalho assalariado ocorria muito lentamente.Com a insuficiente produção agrícola e a estagnação do comércio, a fome se alastrou pela Europa, era o prelúdio do fim do sistema feudal e conseqüentemente o fim da Idade Média.
A partir do início do século XIV, uma profunda crise anunciou o final da época medieval. Fome, pestes, guerras e rebeliões de servos atingiram a essência do sistema feudal.
No inicio do século XIV, a Europa foi assolada por intensas chuvas (1315 a 1317) que arrasaram os campos e as colheitas. Como conseqüência, a fome voltou a perturbar os camponeses, favorecendo o alastramento de epidemias e trazendo a mortalidade da população. "Nos campos ingleses, ele passou de 40 mortos por cada mil habitantes, para 100 por mil. Na cidade belga de Ypres, uma das mais importantes da Europa, pelo menos 10% da população morreu no curto espaço de seis meses em 1316".
A peste negra amedrontou a Europa e abalou a economia. Cidades ricas foram destruídas e abandonadas pelos seus habitantes desesperados a procura de um lugar com ar puro e sem pessoas infectadas. Os servos morriam e as plantações ficavam destruídas por falta de cuidados. Por esta causa os Senhores Feudais começaram a receber menos tributos diminuindo seus rendimentos.
Os senhores feudais viram seus rendimentos declinarem devido à falta de trabalhadores e ao despovoamento dos campos. Procuraram então, de todas as maneiras, superar as dificuldades. Por um lado, reforçaram a exploração sobre os camponeses, aumentando as corvéias e demais impostos, para suprir as necessidades de ostentação e consumo, dando origem à "segunda servidão". Por outro, principalmente nas regiões mais urbanizadas, os nobres passaram a arrendar suas terras, substituindo a corvéia por Pagamento em dinheiro e dando maior autonomia aos camponeses, alterando bastante as relações de produção.
"Depois da acima dita pestilência, muitos edifícios, grandes e pequenos, caíram em ruínas nas cidades, vilas e aldeias, por falta de habitantes, de maneira que muitas aldeias e lugarejos se tornaram desertos, sem uma casa ter sido abandonada neles, mas tendo morrido todos os que ai viviam; e é provável que muitas dessas aldeias nunca mais fossem habitadas".
A mortalidade trazida pelas chuvas, fome e peste negra foi ainda ampliada pela longa guerra entre os reis de Inglaterra e França, que entre combates e tréguas, durou mais de um século (1337/1453): a Guerra dos Cem Anos.
A Guerra dos Cem Anos surgiu porque o rei de França, Felipe IV, anexou a região de Bordéus domínio feudal do rei da Inglaterra, de onde provinha grande parte dos vinhos que os ingleses bebiam. Deveu-se também às ambições da França e da Inglaterra em dominarem a região de Flandres, rica por seu comércio e produção de tecidos.
Entre batalhas vencidas ora por ingleses ora por franceses e períodos de trégua, a guerra aumentou as dificuldades da nobreza e agravou a situação de miséria dos servos.
O aumento da exploração feudal sobre os servos contribuiu para as revoltas camponesas que grassaram na Europa do século XIV, nas quais milhares deles foram mortos. Elas consistiam em súbitas explosões de resistência feroz; duravam pouco e, em regra, estavam mal organizadas. Logo que os lideres morriam ou eram feitos prisioneiros, a resistência apagava-se novamente com a mesma rapidez com que tinha começado a arder.”
Pro fim, um fator fundamental para a quebra das estruturas do sistema feudal foi a longa série de rebeliões dos servos contra os senhores feudais. Ainda que momentaneamente derrotados, os levantes dos servos foram tornando inviável a manutenção das relações de servidão. A partir do século XIV, com mais rapidez em algumas regiões e menor em outras, as obrigações feudais foram se extinguindo.
A conjuntura de epidemias, de aumento brutal da mortalidade e de superexploração camponesa que caracterizou a Europa do século XIV trazendo crise, foi sendo superada no decorrer do século XV, que viu a retomada do crescimento populacional, agrícola e comercial. No campo, os senhores feudais, substituindo as corvéias por salários, rompiam com o sistema senhorial de produção. Nas cidades, o revigoramento do mercado era favorecido pela ascensão dos preços das manufaturas.
Finalmente vencida pelos franceses, a Guerra dos Cem Anos fez emergir o sentimento nacional na França e na Inglaterra, favorecendo, nos dois países, a consolidação territorial e a retomada do poder político pelos reis. Os monarcas contaram com as dificuldades da nobreza e com o apoio econômico da burguesia para recuperar e fortalecer sua autoridade.Era o fim da Idade média e o começo da Idade Moderna.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

SITES PARA VESTIBULANDO

OLA QUERIDOS ALUNOS DO PRE-VESTIBULAR DO POVO!!!

http://vestibular.brasilescola.com/simulado/ - NESTE SITE VC PODE MANDAR GERAR AS QUESTÕES QUE VC QUER NA QUANTIDADE DE 10 E DEPOIS VC RESPONDE E VÊ COMO ESTÁ O SEU PROGRESSO NA MATERIA. TÁMBÉM TEM RESUMOS DE LIVROS E UM MONTE DE OUTRAS INFORMAÇÕES.

ABRAÇÃO! PROFESSOR ALEX DE J.OLIVEIRA

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

NA CONTRA MÃO DA HISTÓRIA: O ENSINO DE CLIO ÀS AVESSAS NO BRASIL CONTEMPORANEO.

Professor MS. Alex de J. Oliveira



O presente artigo busca discutir o ensino de História - no Ensino Fundamental e Médio - na perspectiva de demonstrar que, a práxis desse profissional carece de um aporte teórico que busque nortear a sua ação pedagógica de forma diferenciada, pois as demandas e agendas do “mundo” pós-moderno tem imposto a necessidade de uma ação pedagógica em sala de aula que leve os discentes à desenvolverem aprendizagens significativas e respondam questões do viver cotidiano. Neste sentido, a didática do ensino de História, as avaliações do processo de ensino-aprendizagem, as seqüências pedagógicas, a escolha dos conteúdos e temas a serem estudados devem ser repensados pelos docentes, para que se possa construir novas tecnologias de ensino e um arcabouço teórico-metodológico que possa apontar novos caminhos para um ensino de Historia prazeroso em consonância com uma atitude proativa dos docentes em fugirem do comodismo do tradicionalismo cumprimento das propostas dos livros didáticos.
PALAVRAS CHAVES; Docência, História, Metodologia.

INTRODUÇÃO
O Ensino de História no Brasil contemporâneo tem carecido de aportes teóricos que o nortei no sentido de construir dentro da sala de aula aprendizagens significativas que venham, sobretudo, à despertar nos discentes o desejo de investigar os processos que contribuíram para a formação da sua identidade enquanto sujeito construtor da sua história.
É preciso demonstrar teoricamente que é possível desenvolver aulas prazerosas que levem os alunos a entender que investigar a história do seu país e do mundo é tão importante quanto estudar a sua própria história pessoal.
Não obstante, é necessário traduzir essa teoria em práticas pedagógicas que promovam uma aprendizagem efetiva, significativa, coerente e que esteja interligada com o viver dos discentes para que o processo de ensino-aprendizagem tenha sentido e ultrapasse os limites das paredes da escola.
Por conseguinte, o ensino de história tem uma função que ultrapassa o sentido de uma mera exposição de um dado conteúdo exposto na sala de aula pelo professor. Para Fonseca ;

"(...) disciplina (história) é fundamentalmente educativa, formativa, emancipadora e libertadora. A história tem como papel central a formação da consciência histórica dos homens, possibilitando a construção de identidades, a elucidação do vivido, a intervenção social e praxes individual e coletiva (2003: 89)."

Neste sentido, o ensino de historia em sala de aula não pode ser limitado a um tratamento pedagógico que apresente os temas e conteúdos a serem abordados e discutidos com os discentes como se fosse algo morto sem ligação com o “agora” vivido. É necessário uma abordagens ancorada no presente para que ela possa responder as questões do cotidiano dos alunos, e não obstante, possa ser efetiva na formação, na emancipação e libertação dos sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

1. 1 UMA ANALISE DO ENSINO DE HISTÓRIA NO BRASIL CONTEMPORANEO.

A práxis dos professores de história têm se resumido a uma didática que no seu arcabouço teórico busca apenas verticalizar o ensino dos conteúdos. O aluno é visto como se fosse um “vaso” onde se deposita um conhecimento “cristalizado”, e por que não dizer; “obsoleto”, pois não responde as questões da vida cotidiana e pouco contribui na formação de um ser humano capaz de resolver problemas e pensar historicamente.
Por conseguinte, os conteúdos históricos em pleno século XXI são apresentados pela maioria dos docentes dentro do paradigma “das causas e conseqüências”. Os conteúdos são estudados de forma hermética e às vezes “engessados” em aportes teóricos explicativos como o marxismo economicista.
Esse modelo de ensino de história vem descredenciando toda uma historicização e produção teórico-metodológica da academia contemporânea, na medida em que a sua finalidade - que é aprimorar as teorias da prática pedagógica do professor e buscar explicar da melhor forma os fatos e acontecimentos com abordagens diversificadas de teorias e métodos - não é observada pelos docentes do ensino médio e fundamental, pois preferem o comodismo de apenas expor a seqüências que trazem os livros didáticos.
Por outro lado, a produção do conhecimento na academia se da de forma unilateral, de modo que os seus resultados e avanços quase não aparecem no ensino básico. A Universidade torna-se uma “redoma de vidro” onde “os gênios” produzem o conhecimento apenas para eles. Essa dicotomia evidente, tem resultado em uma dissociação de realidades distintas, mas que deveria caminhar em conjunto.
É preciso dizer que as tecnologias que a Universidade tem apresentado aos seus discentes como metodologia de ensino e avaliação não respondem as exigência de uma prática cotidiana de ensino bem sucedida, pois a clientela de alunos do ensino médio e fundamental estão mergulhados nas correntes de informação do mundo contemporâneo e o ensino na Academia tem negligenciado o preparo dos seus discentes para utilizar essas novas tecnologias.
A informação rápida dos celulares modernos, dos sites de músicas diversificadas, dos hiper textos contidos na internet, fazem parte de um mundo novo que os discentes da escola básica vivenciam no seu cotidiano e que a academia e os professores da educação básica ainda não entenderam que precisam ser incorporados no ensino de maneira efetiva e adequada.
Neste sentido, as práticas teóricas-metodologias “arcaicas” da maioria dos docentes de história acabam desvalorizando um conteúdo em sala de aula que, se bem problematizado poderia demonstrar a sua complexidade e possibilitar ao professor um momento impar de discutir conceitos e teoria da história de forma simples e objetiva com seus alunos, além de expor fatos e acontecimentos articulados com a vida dos mesmos.
Entretanto, muitos professores de história alegam que seguem as seqüências dos conteúdos propostos pelos livros didáticos por conta de que tanto os vestibulares quanto ENEM cobram o conhecimento desses conteúdos. Neste sentido, a prática pedagógica deste docente acaba se resumindo em aulas expositivas e estudos em grupos que nada têm de “dirigidos” ou orientados e se resumem a leitura e resposta de questões que pouco exigem a reflexão do educando.
No final das unidades, o professor aplica um teste objetivo para quantificar a aprendizagem do aluno e verificar se o mesmo poderá avançar no final do ano para série seguinte. Quase sempre, as avaliações são questões oferecidas pelos livros didáticos com pequenos textos para interpretação e cinco assertivas para que se escolha a verdadeira.
Esse tipo de teste, não tem como mostrar o quanto o aluno aprendeu na unidade e nem tão pouco garante uma avaliação visando diagnosticar as competências e habilidades desenvolvidas pelo discente durante um bimestre de estudo de um determinado conteúdo proposto.
Para Luckesi "um educador, que se preocupe com que a sua prática educacional esteja voltada para a transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Cada passo de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explícita do que está fazendo e para onde possivelmente está encaminhando os resultados de sua ação. A avaliação, neste contexto, terá de ser uma atividade racionalmente definida, dentro de um encaminhamento político e decisório a favor da competência de todos para a participação democrática da vida social (LUCKESI, 1984: 46)."

Portanto, a avaliação não deve ser descompromissada, mas ela em si se constitui como um ato simbólico e político que reflete no todo social e se constitui como libertadora e construtiva ou opressora, despolitizada e sem objetivos quando realizada sem o devido planejamento que vise alcançar o discernimento da meta proposta do processo de ensino- aprendizagem proposto pela instituição de ensino.
Voltando à questão dos conteúdos “cristalizados”, é evidente que a cobrança dos mesmos é um fato, tanto pelo ENEM como pelos vestibulares, mas até que ponto o professor deve se permitir não explorar novas abordagens e práticas pedagógicas em favor de tornar o seu aluno um ser “capacitado” em apenas responder questões objetivas? Outra questão que incomoda é; será que a prática do professor de História do ensino Fundamental e Médio tem como objetivo principal preparar o aluno para resolver exclusivamente as questões dos vestibulares e do ENEM?
A contra mão do ensino de história não é preparar o aluno para resolver as questões dos vestibulares e do ENEM, mas se encontra na prática cômoda dos educadores que se deixam escravizar por uma prerrogativa que nem mesmo a LDB nos atribui como responsabilidade primordial, a saber; expor os fatos e acontecimentos históricos como algo morto, sem vida e quase sem sentido, que servem apenas para responder questões de concursos.
Neste sentido, pode-se dizer que o professor de história que se esconde em uma pedagogia baseada em uma didática onde o dialogo não existe com seus alunos, onde não se explora os recursos midiáticos e onde não se vive e se faz a história em sala de aula, estará fadado ao fracasso.
Se os avanços teóricos na área da pesquisa histórica têm se tornado realidade na academia brasileira, o ensino de Clio no Brasil tem caminhando às avessas, na contramão da história. Ora o professor que recebe uma formação para ser mais pesquisador que docente entendia seus alunos com discursos abstratos demais para sua idade , ora se esconde por trás das atividades propostas pelos livros didáticos.
Esse fato é resultado de uma falta de objetividade na formação do professor de História, pois apesar da pesquisa ser de fundamental importância para o educador, a docência é a finalidade principal da formação do mesmo. Portanto, deve-se sempre nos cursos de licenciatura investigar como está sendo desenvolvido na prática os ensinamentos teórico - metodológico adquiridos na academia, para que assim, se possa construir um arcabouço teórico nas Universidades que realmente atenda as demandas verdadeiras do profissional de história.
Por conseguinte, em relação a produção historiográfica a academia tem focado em estudar a micro história no Brasil buscado as especificidades de cada região e localidade, tem estudado as idéias dos movimentos sociais, as mentalidades dos povos em épocas e lugares diferentes, tem feito uma ponte com a antropologia buscando investigar a importância da cultura para o cotidiano da vida das pessoas em diferentes tempos e espaços, em fim, as abordagens dos temas pesquisados tem variado e promovido um avanço significativo nos estudos Históricos do Brasil.
Não obstante, o ensino fundamental e médio acaba apenas tendo como proposta de estudo os conteúdos “consagrados” pelo sistema como dignos de serem estudados. Tais conteúdos são apresentados em sala de aula de forma simplória e resumidos sem nenhuma problematização. Por conseguinte, a produção acadêmica dos cursos de pós-graduação latu senso e estrito senso, - que demanda um grande investimento das entidades que disponibilizam bolsas de pesquisa - fica depositada nas bibliotecas das universidades para o prazer e deleite das traças.
O discurso histórico voltado para descrever os “fatos marcantes, dos grandes homens; generais e eclesiásticos” continua vivo e mascarado nas propostas dos manuais de história que nada trazem de novo nas suas formulações, e se constituem como um elemento de uma narrativa em sala de aula a serviço da exaltação do poder de barganha da burguesia para chegar e permanecer no poder.
Pode-se perceber a inversão de prioridades nos manuais de história quando analisamos a história da África. Ela é apresentada em míseros capítulos ou boxes mal formulados e sem contextualização com a realidade dos afrodescendetes – que são a maioria constituinte do povo brasileiro.
Quando abordam a escravidão brasileira é de forma “rasteira” mostrado que os grupos étnicos que foram trazidos da África para o Brasil não tinham peculiaridades culturais, sociais e econômicas. Fala-se do “Africano” como homogêneo em sua cultura, idiomas e realidades.
O processo de escravidão e pós-abolição não se foca a resistência, a luta, a negociação, a superação do escravo. No pós-abolição, não se discuti o negro, não demonstram onde passaram a viver, como construíram suas realidades, onde trabalharam, o que faziam como; lazer, como construíram resistência cultural dentro de uma sociedade racista, em fim quase não tem espaço para a discussão do “povo negro” nos livros didáticos, os quais tentam homogeneizar a cultura brasileira.
Os índios não são vistos como brasileiros, a sua diversidade étnica é ignorada, a escravidão Indígena não aparece, a resistência indígena é suprimida, a cultura indígena não é apresentada e a idéia que se costuma passar é a de um único povo que foi dizimado pelos portugueses e que não existem mais. As relações dos dominadores portugueses com os índios durante quase todo o Brasil Colônia e Império praticamente é extinguida dos livros didáticos.
Até mesmo os português são apresentados como os cruéis dominadores, não há relativização. Eles são julgados e apresentados como os “monstros” de “além mar” que acabaram com o “Brasil” destruindo o povo de “pindorama”. A cultura, a mentalidade portuguesa da época não são discutidas e, só os interesses econômicos mercantilistas são apresentados como determinantes para o processo de colonização.
O interessante de tudo isso, é que os professores de história não questionam os livros didáticos e nem buscam pesquisar os elementos que não aparecem nesses manuais. Eles não buscam aprofundar os estudos de um tema ou conteúdo proposto de um livro didático e tornar suas aulas mais interessantes.
Devido ao comodismo e a falta de compromisso com uma educação holística, responsável e de qualidade, se escondem por traz do discurso que aponta o Estado apenas como único culpado pelas mazelas da educação.
Na verdade, preferem que a mediocridade impere nas salas de aulas, pois “ganham mal e a carga horária é muito grande”, portanto cabe aqui um questionamento; devido às questões de política salarial e grande carga horária dos professores o conhecimento histórico, o qual é de fundamental importância para a formação de um ser livre, crítico e construtor da sua própria história deve ser conduzido de forma medíocre e descompromissada?
A resposta pode ser encontrada em um estudo pragmático e bem conduzido das ações e intervenções dos professores de história no Brasil. Porém, não se pode deixar de afirmar que há uma discrepante distancia do conhecimento produzido na academia com os conteúdos propostos nas salas de aula de ensino médio e fundamental .
Se as relações entre a academia e o ensino fundamental e médio não forem estreitada, a justificação para a existência de cursos para a formação de professores será aos poucos desacreditada, simplesmente pelo fato de existir um fosso entre a teoria que se ensina na Universidade e o que se pratica no dia a dia do ensino de história.
A Universidade deve procurar conhecer o que efetivamente vem sendo praticado pelos educadores enquanto metodologia de ensino para que se possa reformular seus cursos no sentido de capacitar verdadeiramente os seus docentes, afim de que eles possam ao concluírem a sua formação acadêmica tenham construído habilidades e competências já testadas em seus estágios em relação ao enfrentamento que irão encontrar no seu cotidiano de trabalho.

1.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino de história precisa ser repensado de modo pragmático e efetivo. O mundo pós-moderno tem colocado demandas que apontam para um ensino efetivo onde a prática, a ação do educador é de suma importância para construção de um ser humano livre e consciente de seu papel enquanto “cidadão do mundo”.
Se as epistemologias pedagógicas não têm respondido a contento as demandas dos educadores, se os antagonismos em sala de aula não têm sido enfrentados de forma efetiva e o processo de ensino–aprendizagem tem se resumido a intervenções arcaicas que não respondem as exigências de uma clientela que aspira sempre pelo novo, é ora de mudar, é ora de párar e pensar verdadeiramente, e tentar responde a seguinte pergunta; como tornar o ensino de história prazeroso e efetivo atendendo as exigência de um mundo cada vez mais complexo, multicultural e interligado?
O tempo de pensar um novo caminho e novas possibilidades de ensino é a agenda da Academia contemporânea. A Universidade deve investigar um mundo, muitas vezes estranho para ela, a saber; a escola básica. Não é possível um avanço historiográfico onde novas abordagens e aportes teóricos são desenvolvidos e experimentados, enquanto o ensino básico não sofrer o impacto dessa produção, desse conhecimento.
A academia precisar repensar a formação do professor de Historia em todos os aspectos. Esse profissional precisar de uma formação que atenda realmente o enfrentamento da sala de aula. É necessário instrumentalizar o aspirante a professor com técnicas, metodologias e teorias que atendam as exigências do “mundo real” não de um mundo abstrato teorizado a séculos atrás por cognitivistas “filhos” de sua época.
Portanto, se o ensino caminha na contra-mão na escola básica, a Academia também segue os mesmos passos em relação a formação do professor de História. O “agora” nos impõe uma agenda para o ensino de história, a saber; pensar a vida cotidiana como elemento primordial para a prática de ensino, pois só desta forma o processo de ensino – aprendizagem se dará de forma efetiva e, realmente terá significado.

REFERENCIAS

CEREZER, O. M. Formação de Professores e Ensino de História: Perspectivas e Desafios. In: REVISTA ESPAÇO ACADÊMICO – Nº77 – outubro 2007 – Mensal - Ano VI. DISPONIVEL EM: http://www.espacoacademico.com.br/077/77
FENELON, D. R. A formação do profissional de história e a realidade do ensino, IN; rev. Do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas.

FONSECA, S. G. Didática e prática de ensino de História. Campinas, SP: Papirus, 2003.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo : Cortez, 1995.

PERRENOUD, P. Formar professores em contextos sociais em mudança: prática reflexiva e participação crítica. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra – Trabalho apresentado na XXII reunião anual da ANPED, caxambu, setembro de1 999.
SCHMIDT, M. A. M. S. A formação do professor de história e o cotidiano da sala de aula: Entre o embate, o dilaceramento, e o fazer histórico. IN: BITTENCOURT, C. T. (ORG) II encontro de perspectivas do ensino de Historia.:SP 1996

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

TIARA: NOS LIMITES DO AMOR

POR

ALEX DE J. OLIVEIRA


CRUZ DAS ALMAS, 04 NOVEMBRO DE 2005



I – CAPITULO: A MAIOR BELEZA DA ROÇA

A vida na roça é uma vida bonita, bonita em vários sentidos.Viver na roça é está perto da natureza, é respirar ar puro, é se deliciar com uma laranja bahia extremamente doce tirada do pé no momento da degustação, é beber o leite tirado da vaca quentinho ali mesmo no curral. A roça é um espaço lindo, cheio de curiosidades e inventividade de um povo simples que sabe viver a vida sem vergonha de ser feliz, mas, talvez seja por isso que neste espaço se criem tantos causos e mistérios tão instigantes.
E por falar em causos, ficamos conhecendo a historia de uma linda moça que vivia em uma Vila chamada Monte Formoso no interior da Bahia. A história se passa no final dos anos sessenta ate meados dos anos oitenta, um período muito delicado na história do Brasil, uma vez que, uma parte desta época a política-economica brasileira era conduzida pelos militares, e muitos desmandos foram efetivados pelos mesmos, principalmente nos grandes centros urbanos do nosso país.
Tivemos conhecimento deste causo quando estivemos neste lugarejo no inicio dos anos noventa, não sabemos se a historia que nos contaram é verdadeira ou é ficção, mas, como se sabe, às vezes a ficção torna-se verdade, na medida que, se pode vê a vida real no seu esplendido devir através da imaginação que a ficção proporciona, não obstante, não se pode dizer o mesmo sobre a verdade, pois, a mesma é tão áspera e solúvel na história, que ela se torna uma cocha de retalhos que sintetiza as diversas matizes que o tempo lhe acrescentou para lhe da sentido no infinito dos presentes da vida cotidiana, e esta vida cotidiana por sua vez, da sentido a “realidade” fugas, impalpável e inconcebível na sua multiplicidade de dimensões. Deixando de lado a teoria da história, o que se sabe é que todos desta Vila “imaginaria” conhecem e falam desta história com tamanho entusiasmo que parece que é um causo real, que despertou o interesse de toda população na época.
O causo trata de uma linda moça, que como já havia dito, todos sabiam narrar a sua vida ao “pé da letra”, mas, ninguém era tão detalhista na narrativa como o véi Zé boca de Pimenta, o qual, tinha por volta de seus 60 anos, acostumado com a conversa no pé de balcão, entre uma cachaça e outra, a vida alheia era a temática principal. Portanto, não conseguimos fugir da sua lábia de bom narrador, e neste sentido, preferimos ouvi-lo contar a aluída história. Após as apresentações de práxis, entre um papo e outro, sobre a política regional, local e ate mesmo sobre a economia da Vila, Zé boca de Pimenta perguntou-me se eu queria ouvir o causo que mais mexeu com o povo de Monte Formoso, de imediato fiquei curioso e pedi-lhe que mim contasse a referida historia, pois, muitos já haviam mim insinuado o causo e eu não tinha mim dado conta da representação que tal história tinha para o povo daquele local. Depois de pagar-lhe mais uma branquinha, Boca de Pimenta imediatamente começou a sua narrativa.
Bem viajante, a moça se chamava Tiara, mas, todos lhe apelidavam de Titi, ela era uma moça linda, olhos arregalados, bem pretos, cabelos ondulados tão pretos que pareciam tingidos, vestia-se com roupas floridas, de chita, mas, apesar da simplicidade, ela era linda, parecia um sol quando adentrava na sala escura de sua humilde casa no povoado de Pirorá dizendo:
- Mamãe cheguei! Tô com uma fome. Tem merenda?
- Há Titi, tem uns bago de jaca ai, ta ai em riba do furgão de lenha.
Titi era assim, extrovertida, alegre, aonde chegava transmitia luz e felicidade, todos lhe chamavam para beija-la, todos lhe queriam bem, prestativa, ela estava sempre pronta para servir.
A menina que tinha uns doze anos, mais crescia sem parar, foi crescendo, crescendo, crescendo trabalhando na roça pela manhã e a tarde estudando na escolinha da Vila, mas, como se fosse num piscar de olhos todos tomaram um susto! Um belo susto! Uma maravilha! Titi tinha se tornado uma linda mulher, uma linda moça, com um corpo perfeito, sinuoso, tão sinuoso que Eva e a serpente perdiam para ela. De uma sensualidade avassaladora, os seus olhos eram tão penetrantes quanto o brilho de um diamante, os jovens e ate os homens de meia idade suavam frio ao vela passar, era um espetáculo da natureza.
Os rapazes na roça viviam pedido-lhe permissão para corteja-la, uma certa vez, um tal de Rafael, um jornaleiro que trabalhava nas terras de Ambrósio Casquinha, um pequeno proprietário de terra da região, parou ela em um desses caminhos da roça e disse-lhe:
- Titi queria te dizer uma coisa.
- Diz logo homi, diz quí num tenho tempo pá ficar de prosa.
- É quí, é quí...
- Desembucha rapaz! – dizia Titi já nervosa, com seu temperamento firme e sincero do signo de Touro.
- É quí eu tô... tô gostando de tu, é... eu queria te namorar, tu aceitha?
- Onde já se viu Rafaé! Eu num tenho idade pra isso, mim respeite, se não vou dizer a João – João de Pedra era o irmão mais velho de Titi, tinha a fama de violento, pois já tinha matado um cachorro vira-lata com as mãos, e lutado com três homens de uma vez só, e vencido, mas, os três homens na balança pesavam menos 60 quilos, eram forasteiros que estavam fugindo da seca no Sertão, e haviam roubado uma galinha no quintal de D. Joana, a mãe de Titi. João era conhecido como o “Sansão de Pirorá”. Rafael após ouvir a resposta de Titi respondeu:
- Não Titi! Nunca magi eu falo nisso, nunca! Juro por Santo Antonio. - O santo era o padroeiro da pequenina Vila.
Era assim, Titi arrasava os corações dos rapazes daquela localidade, ela já tinha 16 anos, e nunca se quer tinha dado um beijo, era virgem, e como de práxis, seguia a risca os conselhos de sua mãe D.Joana:
- É, menina moça só namora uma vez. Namoro tem quí casar, nu é Titi?
- É mamãe!
- Como tava dizendo Raimunda, essa já é moça – D. Raimunda era tia de Titi, vivia rezando, pois, fazia parte da Irmandade do Coração de Jesus, não obstante, não dispensava a vida dos outros e uma cachacinha para molhar o bico.
Prosseguia D.Joana a prosa com a irmã Raimunda:
- É, eu já botei Santo Antonio de castigo pá mode aparecer um noivo pra ela. Tu sabe né Raimunda! Hojí em dia se num casar logo... do jeithu quí a juventude vai, Ninguém quer esperar castanha amadurecer, num sabe? – D. Joana olhando e piscando os olhos para Raimunda que respondeu as gargalhadas;
- Rá, rá rá rá rá...Tá magi qui certa minha irmã.
Enquanto narrava a história Zé boca de Pimenta, dizia que quanto mais ele bebia, mas falava certo, e ele exclamava
- Bota mais uma Badega! - Badega prontamente atendia e enchia o copo com a mardita. Assim, ele prosseguia fervorosamente.
É parece que Santo Antonio não agüentou o castigo, pois, logo apareceu um pretendente querendo namorar Titi. O rapaz morava lá pelas bandas da Serra do Espinheiro, tinha umas vinte tarefas de terra e também negociava com limão, criva uma dúzia de bois e tinha seus vinte e cinco anos, era magro, quase tisgo, queimado do sol, os olhos era castanhos e tinha a cara de bebê chorão escondido atrás da barba sempre por fazer, falava groso e demonstrava ser corajoso.
Após alguns encontros com os irmãos de Titi, e muita conversa para acerta o acordo do namoro, pois, a mesma já não tinha o pai, o Sr.Camilo, o qual, havia morrido de Chagas aos cinqüenta e cinco de idade quando ela tinha apenas oito anos. Depois de muito bate-papo e advertência ficou acertado o molde do namoro que logo se iniciou. Por coincidência com a promessa da mãe feita a Santo Antonio, o rapaz chamava-se Antonio Oliveira, conhecido como Tonhi pé de chumbo, por que trabalhava na roça sem calçar as botas sendo que os pés pareciam esta sempre inxados.
Quando Pé de Chumbo ia namorar, montava em seu cavalo, antes causava sua bota de couro, sue colete de vaqueiro, colocava sua garuncha na cintura, escondido, claro, depois, tomava uma quente pra da coragem pra seguir a viagem. Eram três léguas de distância do seu sitio ate chegar na casa de Titi, quando lá chegava era desta forma que se dava o namoro.
- Titi, ô titi cheguei, Titi ô Titi. – Titi levava meia hora para ir atende-lo, abria a porta e dizia friamente.
- Oi tonhi, vai, entra, senta ai. – Titi não gostava do rapaz, só o aceitava por que sua mãe achava que ele era um bom partido, pois, a família do rapaz tinha o dobro das suas terras, e isso era maravilhoso, pois, terra para aquele povo representava “a vida”, entretanto, o que deixava D. Joana muito feliz era quando Antonio dizia:
- To juntando um dinherim D.Joana, pá vê se no fina do ano agente casa – Assim, D.Joana respondia alegremente – Ta certo meu fí!
Titi não dava atenção ao namorado ele ficava sentado, conversando sobre terra, limão e fumo com os irmãos de Titi, enquanto ela sentava-se na outra sala da casa para remendar as causas dos irmãos. Quando dava a hora de Antonio ir embora, um dos irmãos chamava:
- Titi vem se despedir do teu namorado.
- Já vou, já vou – ela respondia com um ar de quem não queria ir. Ao chegar na sala dizia:
- Boa noite tonhi – ela dava a mão direita, ele a afagava sua mão como uma jóia rara e beijava dizedo-lhe:
- Boa noite meu Xodó, domingo eu vorto. – beijando-lhe as mãos novamente como se fosse a melhor coisa que lhe havia acontecido durante o dia.
Para Antonio, o simples fato de beijar a mão de titi era motivo de alegria e extrema felicidade, era a certeza de que com ela iria casar-se. Na volta ele sempre pensava:
- Ela mim ama, quí coisa linda, é, é, é,( sorrisos) ela é a mãe dos meus fí.
Já Titi não via a hora de se livrar daquele homem. Ela vivia sonhando com os rapazes que via na televisão, sonhava ate acordada e suspirava, suspirava, fazia ate promessa para arranjar um rapaz que fosse como “os Minino da TV”.
Dois anos se passaram e nada de casamento, talvez, por que Titi sempre inventava uma desculpa para não casar, mas, parece que as questões econômicas estavam complicadas para o casal, pois, a roça “num tava dando”. Por conseguinte, em um desses São João veio de São Paulo junto com o primo de Titi, o Mascarenhas, um rapaz chamado Otávio Fernandes um moço muito bonito, aparentava ter uns 22 para 24 anos, cabelos lisos, olhos azuis, bem elegante, as mãos não tinha nem um calo, fazia faculdade de Antropologia na USP e veio conhecer as festas juninas do nordeste. Não tardou para os olhos de Titi e o forasteiro se cruzarem, e uma paixão, uma paixão louca começaria a brotar deste encontro casual, transformando para sempre a vida da maior beleza da roça.

II - CAPITULO: O AMOR NÃO TEM HORA PARA CHEGAR.

Na noite de São João era tudo alegria, muita comida, bebida e muita dança, nesta época, já se tinha abandonado a sofona e o Zabumba, instrumentos que eram utilizados para fazer os Forros nas salas das casas da roça, o radio tinha tomado a incumbência de acabar com a tradição, ele “tocava” sem parar enquanto a juventude dançava ate o suor escorrer na face.
Em meio à narrativa, Zé boca de Pimenta resolveu pedir um tira-gosto;
- Badega assa um pedaço dessa carne de sertão ai qui é pra rebater a danada qui ta é forte. – Badega respondia gozando da cara de Pimenta.
- Ora! tu não disse qui não tem cachaça que te derrube, eu quero vê com essa aqui, ela veio do Pernambuco, e quem mim vendeu disse que não tem cachaceiro que fique em pé depois de umas doses.
- Olha Badega deixa de conversa mole e faz logo minha carninha que a prosa ta é boa e tu sabe que eu e alambique somos a mesma coisa, não é?.
- É!- responde Badega - Tua... te fez dentro de um barril de tiortina( cachaça), pois, nunca vi! quanto mais bebe mais fala direito.
- Olha Badeguinha não esquece a cebolinha e a forrofa viu? – Badega sapecou os olhos, os quais era o motivo de terem lhe colocado tal apelido, cospiu três vez no chão e disse:
- Olha boca de Pimenta se tu não fosse um bom pagador! Derepente Badega deu uma gargalhada e foi para cozinha trazendo de imediato o pedido do seu ilustre freguês que após comer alguns pedaços de carne e bebido mais duas continuou sua narrativa envolvente.
Assim, em meio aquela forrozada toda, um frenesi de alegria, êxtase e tesão, quem era namorado se beijava timidamente, claro, assim, bicota, pois, os mais velhos estavam de olho, mais logo procuravam um lugarzinho atrás da casa para esquentar os amaços. E em um desses momentos o forasteiro que veio a passeio resolveu chamar Titi para dançar.
- Titi! Dança comigo?
- Danço, vomo dançar – Titi, que já estava de olho no rapaz, arrastou o moço pelo braço e começaram no ritmo do forro, o radio tocava “Quero fazer amor com você, quero te dá, tudo que você quiser, quero ficar sempre ao seu lado, ser tua amante ser tua mulher” sucesso de uma banda que estava surgindo nas paradas chamada Laços do Forró, assim, entre um aperto e outro, Titi começou suar frio, morta de desejos, louca pra beijar a boca do galego, foi arrastando ele no meio do povo e disse:
- Óia Vinho, eu queria te dizer uma coisa, magi aqui não, nú pode. – Otávio respondeu timidamente e já imaginando o que seria:
- Por que não Titi? – Titi um pouco nervosa e tentando disfarçar a conversa, pois, parecia que todos olhavam para eles na sala falou baixinho, pelo canto da boca:
- Pur quê mode, Pur quê... - Titi sorria para disfarçar o dialogo – não podi, vai lá naquele pé de jaquera perto daquela madioca qui vou lá já! Certo? – Otávio assustado com a atitude de Titi, ficou pasmado e com um frio na barriga, pois, ele também estava doído para abraçar aquele corpo lindo, mas, não sabia ao certo o que o esperava, apenas delirava em divagações:
- É hoje, é... mas, rapaz - Vinho falando consigo mesmo – eu não imaginava que ela tivesse coragem para tanto! Será que essa “muié” esta gostando de mim? Rum! Será? – e lá se foi Otávio, em meio ao som e toda aquela bebedeira, tudo era felicidade, Otávio saio devagarzinho e foi para o local do encontro, Titi já havia ido e lá estava a sua espera.
- Oi Titi – falou Otávio bem baixinho – ta aqui há muito tempo? - Otávio suspirava como um tigre próximo à presa, não sabia se era de desejo ou de medo de alguém vê o encontro. Tiara ofegante respondeu o seu questionamento:
- Não, tô aqui fagi meia hora. E por que tu demorou?
- Demorei por que não queria que o povo senti-se minha falta, disse que estava com dor de barriga e que ia ao banheiro, mas, diga-me o que você quer ?
- Há Vinho, desde que te vi num consigo parar de pensar em ocê, eu to gostando de oçê, e eu queria te dizer isso, é, mas, eu sei que oçê... – Titi baixou a cabeça e esperou que Otávio falasse alguma coisa, ele não falou nada encostou em Titi, levantou o rosto dela delicadamente alisou o sua face e disse:
- Titi não fique com vergonha de mim, eu sou um ser humano igual a você, e olha! eu também tenho algo para te falar – Tiara imediatamente, como um relâmpago perguntou:
- O que é? – O forasteiro imediatamente desembuchou:
- Eu estou apaixonando por você, pronto falei, só não manifestei meu sentimento porque você é noiva de Antonio.
- Sou noiva praticamente forçada, eu não amo Antonio, veja oçê, ele ta lá, bebu com meus irmãos, num quero isso pá mim, um bebu. – afirmou Tiara contundentemente o seu desprezo por Antonio, mas, Otavio perguntou-lhe:
- Por que você se submeteu a tal namoro se você não gosta dele? – Tiara nervosa, pois, estava com receio de alguém esta a sua procura na festa, disse:
- Aqui na roça as coisa são diferente Vinho, as moça não escolhe o pretendente, é a família praticamente qui escolhe, observa a família, vê os bens qui tem, o dote qui vai receber o noivo, ai a mãe e o Pai diz qui faz gosto e cumeça o namoro, tem vegi qui dá certo, magi a mioria sofri a vida toda, eu num quero isso pá mim – Titi demonstrava ter consciência da forma como os casamentos eram feitos na roça, ela percebia que o mais importante não era o amor, mas, a questão econômica, em fim, a união dos bens das famílias envolvidas no matrimonio dos filhos. Não obstante, observando que o tempo passava e que as pessoas na festa iriam notar a ausência dos dois, Otavio não fez mais nenhum questionamento, mesmo sabendo do risco que corria, resolveu se meter naquela aventura, e imediatamente, de uma forma ofegante, mas, delicada, Otávio encostou os seus lábios na boca perfeita e atraente de Titi, a qual, cheirava a licor de maracujá, assim, beijaram-se e as estrelas começaram a aplaudir os dois, pois, a química do amor havia juntado os opostos que se desejavam infinitamente e como uma explosão atômica os lábios dos amantes se digladiavam como se quisessem engolir e degustar o objeto do desejo. E neste ínterim, estava em jogo não mais a questão econômica, mas, o Trinômio formado pelo amor, desejo e traição.
O tempo foi passado e Titi e Otávio continuaram matando o desejo, e entre um beijo e outro, o calor do amor juntamente com as doses de licor que haviam bebido, levou Otávio a ousadamente começar a tirar a roupa de Tiara, a qual, não resistiu, pois, já estava envolvida. Ele a deitou sobre seu blusão em meio à roça de mandioca, e quando olhou para o corpo de Titi banhado pela luz da Lua não imaginava tamanha formosura, estava em sua frente um corpo lindo, maravilhoso como o de Nefertite, Afrodite ou Vera Fiche. Era um corpo que cheirava a mato verde e tinha sabor de laranja. Quando já estava dispida Titi disse a Otávio que era virgem e perguntou-lhe se ele iria ficar com ela, ele afirmou que sim, que a amava muito e que sabia o que estava fazendo, desta forma, após muitas caricias e beijos, ali mesmo, tendo como testemunha a noite de São João e o canto das corujas eles fizeram amor. Enquanto isso na festa Antonio procurava Titi.
- D. Joana cadê a Titi?
- Há meu fí ta por aí cum as prima – Já extremamente bêbado, sem saber o que era terra ou céu, Antonio respondeu a D.Joana:
- Há! intão ta bão. – saiu Antonio sorrido com o copo cheio de licor virando na boca e rasgando uma cocha de frango de forma voraz. Ele se embriagava como se estivesse comemorando o noivado, enquanto Titi se afogava nos braços do Paulista.
Em meio às loucuras de amor Otávio dizia a Titi:
- Eu nunca vou te deixar Titi, vou vim embora para aqui, nós iremos ficar juntos! – Titi respondia a Vinho como se estivesse no paraíso, de modo que ela acreditava em tudo que ele dizia. Ela sabia bem lá no fundo que havia mudado sua vida para sempre, pois, não era mais virgem e a moral em relação a castidade das meninas em Monte Formoso era rígida, uma vez que, se perdesse a virgindade e não casasse todos falavam e era excluída de tudo naquele espaço, ate as amigas eram obrigadas pelos país a se afastarem da “perdida”. Por conta disso, a sua barriga esfriava, embrulhava só de pensar em não ficar com Otávio. Imatura, Tiara não tinha desejo de estudar, de ser independente, de ter uma posição na sociedade, ela fora criada para o casamento, para uma vida no espaço rural, cuidando da casa e trabalhando na roça. Ela apenas sonhava como todas meninas do povoado de Pirorá com o príncipe encantando, e o dela havia chegado, e nisto ela acreditava. Enquanto se beijavam Titi exclamou:
- Ai meu neguinho! Vem ficar comigo, vem! – de repente os dois pensaram a mesma coisa e falaram...
- E Antonio? – logo Titi se levantou vestindo a roupa, falando a Otavio:
- Se ele souber disso tudo ele te mata! – Otavio respondeu assustadamente.
- Eu não tenho medo dele! – afirmava o rapaz que tremia mais que vara verde olhando para um lado e para o outro. Ele continuou:
- Titi acho melhor você ir andando.
- É, você ta certo! – Após mais uns beijinhos Otavio se despediu de Tiara.
Já próximo de casa, Otavio se deu conta que havia deixado seu cassaco no mato, este ficara no lugar onde ele e Titi fizeram amor, Otavio resolveu não voltar para pegar a roupa, pois, já estava muito próximo de casa e podia chamar a atenção das pessoas, e neste sentido, parecia que o destino havia pregado uma peça tanto em Tiara quanto em Otavio, na medida que a roça que Otavio havia esquecido o capote era justamente o local onde Antonio estava dando uns dias de trabalho para sua futura sogra.
O que se pode vê com esse descuido do casal é o fato de que tudo quê o ser humano faz na vida sempre fica algo como testemunho, como a evidência de um ato, assim, podemos ate refletir sobre a vida de um modo geral com descuido do casal, não é Badega?
- Lá vem ele com as suas loucuras! – Pimenta sorriu e disse:
A gente pode vê Badega de forma bem simples que a vida é constituída de momentos sucessivos em diversas temporalidades e matizes de cores diferentes, é impossível sentir a vida completamente, ela nos escapa, e o gosto de um beijo se perde sem sentido na nossa mortalidade “insignificante” para o universo, e a única coisa que prova que realmente existimos um dia é a certeza de olharmos para trás e vermos as evidências de nossa existência em um quase nada de cultura humana, nesses grãos de farinha e esse copo sujo de cachaça aqui em cima do balcão, isso mim diz que eu existo, não é?
- Esse doído é maluco, não é? não repare não – falava Badega comigo -, quando a lua ta cheia ele fica apertado, mas é um bom homem, eu só num sei onde aprendeu falar bonito assim – Badega se referindo a Boca de Pimenta que sorria escandalosamente bebendo um giló.
Assim como o relâmpago que rasga o Oriente e desabrocha no ocidente mim veio alguns questionamentos em relação a esse homem que narrava, filosofava e bebia cachaça como ninguém. Quem era esse boca de Pimenta afinal? Um Estudioso daquela localidade? Um forasteiro que estava escondido ali por algum crime? O que lhe levava a beber tanto e não perder a narrativa? Por que ele bebia? Fiquei confuso, queria conhecer o meu narrador, mas, amigo leitor, existe questionamentos que não se deve fazer, pois, as respostas vem com o tempo. Boca de Pimenta pediu um charuto, sentou em um banco e entre uma fumarada e outra continuou sua história.
O dia raiou, Titi levantou foi fazer o café, parecia que nada havia acontecido, sorridente, tão sorridente que sua mãe lhe perguntou:
- Ta sorrindo de quê menina? Paricendo qui viu um Passarim.
- Há mamãe deixa eu sorri! Magi! Num posso surri! – Atormentada pela mãe que começou fazer-lhe mil perguntas, parecendo saber alguma coisa, Tiara correu para a roça, e por um acaso encontrou Antonio.
- Tonhi como ta tu? Bebeu muthu em ? – questionou Tiara.
- Foi, magi... tu sumiu da festa, foi pá ondi cum as menina? – Titi se assustou com a pergunta e disse.
- Há... há fui na casa de Roberta - prima de Tiara - levar uns doces pra ela. – Ela sabia que de imediato deveria procurar a prima para pedir-lhe que falasse se questionada, que estiveram juntas na noite passada, no entanto, como dificilmente Titi mentia, ninguém iria perguntar nada, mas, era melhor previnir. Desta forma, Antonio respondeu:
- Há sim! Pensei quí ocê foi durmir.
Todavia, em um piscar de olhos, Titi olhando com Atenção para Antonio percebeu que ele estava com um blusão diferente. Ela exclamou:
- tonhi quí blusão lindo! Comprou quí dia? Foi quanto?
- Num interessa! Óia vê se mim arranja um martelo pá mode eu bater a enxada.
- Vou buscar, vorto já!
Quando Titi estava se dirigindo para casa de farinha para buscar o martelo, o seu inconsciente trouxe novamente a imagem do blusão de Antonio, só que agora as suas reminiscências mostravam claramente de quem realmente era aquele capote.
- Meu Deus!!!, meu Jesusí!, a roupa, o cassaco é de Otavio e agora! – na cabeça de Titi muitas imagens e questões se cruzaram, ela via Antonio matando Otavio, ao mesmo tempo que se perguntava:
- Pur que quí ele no disse quí achou o capote? Será quí ele viu agente? Será quí ele sabe? Não, não, não ele não sabe. Será quí ele quer fazer uma tocaia cum Otavio? Vou avisar a Otavio.
Titi deixou o martelo de lado e foi para casa do primo colocar suas suposições para Otavio, quando chegou na casa do Mascarenhas encontrou Otavio tomando café, quando ele a viu disse:
- De quê tu estais correndo? Você está branca! – exclamou Otavio que puxou Titi pelo braço e meio desconfiado foram para trás da casa de farinha conversar.
- Tu não sabi o qui aconteceu! – Titi suava olhando para os lados, com o seu cabelo sendo soprado pelo vento.
- Diz aí, só assim eu irei saber. – falou Otavio bem baixinho para ninguém ouvir.
- É qui, olha, o Antonio ta vestido com teu capote, é aquele quí tu esqueceu onti lá, lá, lá no mato.
- É mesmo Titi! Será que ele? – Otavio suava, tremia olhando para os lados, estava mais assustado que gato atiçado.
- Num sei! Num sei, magi acho mió tu ficar acesso.
- Acho que vou embora amanhã!
- Num faz isso! Se tu for e eu? Eu morro, mim leva, mim leva.
- É! arruma tuas coisas que agente vai amanhã cedo, bem cedinho, escondido de todos.
- Ta certo, olá! Num mim esqueci, viu!
- Agente se encontra no pé de caju, lá embaixo, às 3 horas, antes de todos acordarem.
- Sim, certo, certo! Tudo certo! - Os dois se beijaram e se despediram. Por conseguinte, parecia que Titi estava já pré-anunciado o que aconteceria na manhã seguinte quando disse “não mim esqueci”. Ela saio da casa do primo correndo sorridente, o vento de inverno soprava suavemente fazendo balançar os lírios do campo, a natureza estava exuberante, os cardeais e canários cantavam, o crepúsculo de final de tarde estava se pondo por trás da Serra de Pirorá, e o tempo queria dizer a Tiara que tudo mudaria definitivamente na sua vida, mas, ela tinha apenas dezessete anos e não tinha aprendido ler as coisas singelas que a natureza nos mostrar tão claramente e ás vez vemos e compreendemos, sendo que em outras vezes vemos e fingimos não vê para não compreender e sofrer. Titi apenas achava que estava fazendo tudo certo, tomada por uma paixão misteriosa e desejos insaciáveis pelo forasteiro, o amor era tudo para ela, e ela queria viver sua história, e para vive-la ela faria qualquer coisa, porém ela só não sabia que estava apenas começando a viver.

III - CAPITULO: CHORANDO EM BAIXO DO CAJUEIRO

Na noite que antecedeu a fulga de Titi com Otavio a mesma não conseguiu dormir, ela imaginava como seria a vida em uma cidade grande, com aquele corre, corre, onde as pessoas não se olham nos olhos, e parecem que não existe sentimento, ela introspectiva questinova a se mesmo:
- Será que a vida lá em São Paulo é igual as novela, tudo bonito, roupa bonita, casa bonita, será?
Titi divagava, sonhava com a vida na cidade grande, tendo filhos com Otavio, ele chegando do trabalho, ela cuidando dos filhos, tendo uma vida tranqüila e sadia, mas, Titi também sentia imediatamente saudades de sua vida na roça, das galinhas, dos porcos, da vaquinha de leite, de sua mãe, suas tias e tios, primos e primas e irmãos. Para ela se afastar daquele mundo era como romper um elo, um elo de gerações, um rompimento que poderia lhe tornar uma nova mulher que não pertencesse mais aquele mundo bucólico tão amado por ela, pois, ali no seu chão, ela conhecia tudo, cada árvore, cada mata, cada casa ela sabia quem vivia, cada caminho ela sabia aonde ia dá, cada riacho e lagoa ela conhecia, ela era doutora na geografia daquele espaço.
Como todos os dias a madrugada nascia com o sol brilhando e rompendo a neblina, os seus raios adentravam entre as falhas nas telhas do quarto de Titi, todos os dias a estrela da manhã a acordava às seis horas. No entanto, aos dezessete anos tudo começaria a ser diferente, Titi havia acordado mais cedo, ou melhor, havia levantado mais cedo, pois, não havia dormido, ás duas da manhã estava de pé, vestiu a saia nova, a blusa que a tia lhe deu de presente, calcou a percata que acabara de comprar, e colocou os brincos que só usava para ir a igreja, colocou algumas roupas em um saco, desse de supermercado, pois, não tinha se quer uma mochila, pegou a caneta e com uma folha do seu caderno escolar escreveu um bilhete para mãe que dizia:” Mamãe eu te amo, quero ser feliz, vou imbora cum Otavio, magi vou escrever para ocê. Te amo!” Titi.
Ela dobrou o bilhete e colocou embaixo da Santa, pois, ela sabia que todo final de semana a mãe limpava a Santa e o altar que ficava na sala, desta forma, a mãe acabaria encontrando a mensagem. Após da uma olhada nos irmãos e na mãe pela greta da porta do quarto dos mesmos, suspirou fundo, tomou coragem, enxugou as lagrimas, engoliu o choro com uma dor profunda no coração e seguiu em frente, abriu a porta em silêncio e foi ao encontro de Otavio.
Estando no local marcado, Tiara se pós a esperar, porém, o tempo que não espera começou a passar rapidamente e nada de Otavio chegar, ela continuou esperando e Otavio não apareceu. De repente, Sr. Manoel, um pequeno comerciante que tinha uma vendinha por perto da estrada ia passando e disse:
- Titi o quê ocê esta fazendo aqui? – Titi respondeu timidamente e confusa.
- Eu tô esperando... não! Não, vou na igreja, na Vila.
- Há sim minha fia tu sabe qui aqui é perigoso ficar só nú é?
- Eu sei Sr. Mané, mamãe tá vindo. – Depois de se despedirem Manoel em um ímpeto falou:
- Olha Titi o amigo do seu Primo, aquele amarelo foi embora, não foi? – Risos de Manoel que parecia ter entendido o verdadeiro motivo de Tiara esta Ali, mas, no fundo apenas pasou-lhe pela cabeça tal possibilidade, pois, Tiara era Noiva de Antonio. Não obstante, após ser questionada Titi ficou muito assustada e disse:
- Eu não sei disso não! Ele foi? Foi? O Sr. Viu? – Manoel respondeu:
- Há Titi, ele foi sim, ontem na boquinha da noite ele foi embora, dizem que ele pagou o dinheiro de uma semana de trabai para João da Rural. – Manoel sabia os detalhes, pois, afinal era dono de venda, e como de Práxis, e o local onde as noticias chegam primeiro. Assim, Titi questionou atarantada:
- Ele foi mesmo Sr Mane? Foi? – os olhos cheios de lagrima Tiara parecia comprovar empiricamente os pressupostos de Manoel da Venda. Desta forma Manoel lhe questionou:
- Foi sim! Mas porque tanto espanto Titi? – tiara já nervosa respondeu:
- Por nada, por nada, eu pensei que ele ia demorar magi um pouco.
Titi começou a chorar, sentou-se no chão e de repente como se fosse a velha ironia do destino, ela fixou seu olhar em um pé de laranja que ficava perto do pé de caju, ali se encontrava pendurada uma carta que com certeza era de Otavio, ela imediatamente se levantou, pegou a carta, abriu e leu:
“ Titi, tenho que partir sem você! Vai ser melhor para nós dois, pelo menos agora, te amo como nunca amei ninguém, em breve voltarei para te buscar. Não esqueça de mim, e eu nunca esquecerei de você. Te amo! Otavio”
Titi chorou, chorou, chorou muito, e após vários dias de sofrimento, Tiara resolveu mudar de vida, ou melhor, ajeitar a sua vida, ela sabia que dali em diante tudo seria diferente, Ela não esqueceu Otavio, nem nunca esqueceria, pois, um pouco dele havia ficado dentro dela, pois, uma nova vida desabrochava em seu útero. Tiara olhou para frente, deslumbrou o horizonte lindo de Monte formoso e disse :
- A partir de hoje sou outra mulher – e seria verdadeiramente.


IV – CAPITULO: CASAR É PRECISO.

Um mês se passou desde que Otavio tinha partido de volta para São Paulo, Titi durante este tempo começou sentir enjôos diariamente, as amigas rezadeiras de sua mãe viviam dizendo que ela estava grávida, ela com o nervoso de sempre respondia:
- Ta ficando maluca Firmina – rezadeira – eu comi alguma coisa ruim, foi Jaca.
- Ta certo, deixa pra lá, deixa pra lá, é brincadeira Titi.
No fundo tiara sabia que estava grávida e que o filho era de Otavio, no entanto, a questão que lhe incomodava era o quê fazer para resolver o problema. À noite quando estava deitada pensou:
- Vou procurar logo Antonio pra gente casar logo, assim ta tudo resolvido, é, é isso, é isso.
O dia raiou e Titi logo foi a procura de Antonio, quando lhe encontrou perguntou-lhe imediatamente:
- Tonhi tu quer casar comigo? – Antonio respondeu:
- Claro que quero meu bem, só to esperando terminar o resto da casa, porque em casa de sogra eu nu moro viu?
- Ó meu neguinho eu sei, magi eu nu agüento mais. Eu quero ficar logo com ocê! – disse Titi enquanto olhava Antonio roçar.
- Magi assim Titi? – questionou Antonio balançando a cabeça e segurando a enxada fortimente.
- Assim como Antoi? Acho qui ocê ta mim enrolando, nu é? Ta sim, ocê quer mim inrolar, vou dizer a mamãe. – Tiara Pressionava Antonio, pois, sabia que era sua única chance de se livra do falatório e de ser “crucificada” pela língua do povo, sem o casamento com Antonio só lhe restava fugir de casa.
- Não meu bem, eu gosto de tu, eu nu to ti inrolando é a situação, você sabi, o dinherinho qui juntei é pra terminar a casa, mas, já qui tu quer vamo marcar o casório pra o fim do ano – Titi logo intercalou Antonio:
- Pro fina do ano não, vamo marcar pra o iniciou do megi que vem!
- Pra quê tanta presa Titi, magi fazer o quê! Qui seja como tu quiser vamo marcar o casamento. Mudando de coversa, ó Titi o moço quí tava em tua casa foi imbora e nu levou o capote dele qui eu achei no mato, mamãe lavou, ta novinho, por que ele foi imbora assim Titi sem se despedir Titi? – Titi focou nervosa e pensou se questionado por que ele puxou esse assunto agora? Em seguida respondeu:
- Acho que ligaro pra ele vorta logo, a mãe tava duente.
- É, se é assim, um rapaz tão bom, e sabido nu é Titi?
- É magi e o nosso casamento vai serno inicio de agosto, dia vinte, já vou falar com mamãe, e oçê vai dizer qui foi oçê quí quer casar logo ta?
- Ta certo, o quí eu nu faço pú ocê. – Antonio agarou ela e deu beijo, quando se libertou de Antonio titi foi logo falar com a mãe que Antonio iria adiantar o casamento e ela havia aceitado. D. Joana estava muito feliz:
- Antoi é um homi retado, corajoso. – Assim,Tiara havia resolvido seu maior problema, porém, lhe incomodava o fato de Antonio ter remotado a questão do casaco de Otavio no momento em que ela pedia-lhe para adiantar o casório. Algo estava no ar, mas,Tiara iria casar-se, mesmo não amando o Antonio ela mudaria a sua vida, seria uma Senhora com honra e seu filho mesmo nascendo de sete meses não ficaria sem um pai. -Enquanto isso na Venda Zé boca de Pimenta refletia sobre a vida de Tiara:
- Olha ai badega! como são as pessoas? São vitimas e ao mesmo tempo são vilões, a verdade é que ninguém é santo e não poderia ser, pois, todos somos constituídos de uma complexidade imensa de sentimentos como a inveja, a usura, a bondade, em fim, esses sentimentos são selecionados e usados na medida em que as nossas intenções e desejos necessitam deles para resolver os nossos dilemas, foi o caso de Tiara, “ os fins justificam os meios” já dizia Maquiavel.
- Que diabo é Maquiavel Homi? Nú repara não viajante, isso é o nome do cachorro dele, agora veja, cachorro fala boca de Pimenta?
- Olha, meu cachorro chama-se Maquiavel, ele não fala, claro! mas, se falasse ele dizia “tô doido pra morder badeguinha”!, Não fica chateado não Badega, Maquiavel foi um filosofo da política que viveu na Itália no século quinze, ele escreveu peças de teatro como “A mandrágora” e livros como “A arte da guerra”, sendo sua principal obra o livro “O Príncipe”.
- Pode internar que doído – dizia badega – fala pelos cotovelos, parece que já leu todos os livros Sr viajante, conhece tudo e ainda bebe cachaça, quer mais uma branquinha?
- Não, se não o causo vai ficar o resto para amanhã, quero café bem quentinho viu badega?
- Badega e Pimenta eram amigos e sempre faziam graça um com o outro. Após, servir o café a todos Pimenta continuou o causo.

V - CAPITULO: SEM AMOR TAMBÉM SE CASA.

O dia do casamento chegou, tudo estava pronto, mataram porcos, galinhas e ate uma novilha, compraram cerveja e muita cachaça, estava tudo acertado com o padre, o juiz, os padrinhos e as madrinhas, o casamento seria na igreja de Santo Antonio na Vila, e os festejos seria na casa de Titi.
Depois de casada Titi ficaria alguns meses na casa da mãe ate terminar a sua casa, Antonio todo sorridente não esperava a hora de se casar com Tiara e te-la em seus braços, dois dias antes do casamento ele havia bebido todas com os amigos, bebeu tanto que não agüentou levantar para trabalhar. Já Titi ouviu os conselhos de sua mãe e tias em relação à primeira relação, ela demonstrava alegria, mas, na verdade o seu pensamento viajava na busca da lembrança da sua primeira noite de amor com Otavio, ao mesmo tempo, ela temia que Antonio desconfiasse que ela não era mais virgem, mas, isso não lhe incomodava tanto como o fato de ter que se casar com um homem que ela não amava verdadeiramente, assim, o seu pensamento buscava as lembranças de Otavio enquanto Titi dizia baixinho:
- Como eu queria casar cum Otavio, ter ele em meus braço, como eu amo ele – Tiara não havia esquecido Otavio, ela o amava tanto que era preciso fazer muita força para não chorar, porém, ela sabia que a vida seguia em frente. Era preciso viver, mesmo sem ele, mesmo sem o seu amor.
Tiara estava linda, pois, alugaram o seu vestido e a roupa de Antonio, enfeitaram a igreja com flores brancas, e sob o seu véu colocaram Flores silvestres amarelas, dando um toque de Natureza intocada, ela estava deslumbrante. O Antonio estava bastante elegante, com um terno preto e uma gravata vermelha, apenas o sapato havia dado trabalho para calçar, porém, o seu rosto brilhava com a barba bem feita. Eles pareciam naquele momento que foram feitos um para o outro. Os convidados estavam todos bem trajados cada qual dentro das suas possibilidades, como eram conhecidos por todos, a Vila toda estava presente no casamento e faziam questão de cumprimentar os noivos, o povo de Monte Formoso ate hoje adora um matrimônio.
O casamento transcorreu bem, apenas no momento de dizer sim a Antonio Titi engasgou e quase não respondeu a pergunta do Padre:
- Tiara Freitas do Santos você aceita Antonio Oliveira como seu Legitimo esposo? É a terceira vez que lhe pergunto Noiva.- Dizia o padre Simão, já impaciente, pois, o mesmo tinha outros casamentos para fazer. Tiara estava fazendo força para responder, pois, era sua única chance de não sofrer com a língua da sociedade e de sua família, imagine se ela resolvesse desistir ali no altar, seria demais para sua família, ela estava gemendo por dentro, e como se fosse um bolo enorme preso em sua garganta que precisasse ser colocado para fora, ela fez bastante força e disse o sim mesmo doendo e sangrando o coração e, sobretudo, a alma.
Entretanto, a festa foi farturenta, o povo bebeu ate pela manhã e dançaram ate as pernas ficarem bambas. Como de práxis, só falavam do casamento no dia seguinte - “ aquilo é que foi um casamento!”- dizia o povo elogiado os festejos, foi conversa para um mês, pois, todos faziam resenhas do casamento de Tiara, eram muitos elogios, apenas faziam piada com Antonio, pois, o seu pé acabou rompendo o couro do sapato, e por mais que ele disfarçasse o seu dedão sempre sai pelas laterais do calçado.
- É viajante, a vida é mesmo irônica. Enquanto todos sorriam, Tiara sofria. Realmente a vida é assim, enquanto alguns são felizes, outros sempre choram, a vida ás vezes é bem amarga e se desnuda aos nossos olhos sem cerimônia, pois, olha só! Para que muitos sorrissem naquela noite, era preciso que alguém preferisse morrer, e esse alguém era Titi – Afirmava o véi Zé boca de Pimenta, como se deslumbra-se aquele momento, como se ele estivesse lá vendo o sofrimento de Tiara.
Em fim, estava consumado o casamento, pelo menos no papel Tiara era a esposa de Antonio. Na primeira noite de núpcias eles não fizeram amor, Tiara alegou esta com dores de cabeça, e as desculpas se alternaram levando Antonio a esperar duas semanas para possui-la em seus braços. No dia em que em fim Titi já não tinha mais o que inventar como desculpa para Antonio o mesmo a possuiu de modo que nem percebeu que Tiara não era mais Virgem. Após sete meses nasceria a criança que recebeu o nome de Antonio Otavio, quem colocou o nome foi Titi e Antonio não se importou que a criança tivesse como segundo nome Otavio, ninguém questionou o nascimento da criança em apenas sete meses, disseram apenas que era normal, no fundo só tiara sabia que o menino era filho de Otavio, no entanto, um mês depois do nascimento do menino, Antonio cheio de desejos logo engravidou Titi, que deu a luz a uma linda menina chamada Tacíla Maria.
A vida de Tiara prosseguiu, e após três anos de casada, em meio a muitas brigas com o marido, a mãe sempre dizia:
- Não briga com teu marido menina, ruim com ele, pior sem ele. – Tiara já não sonhava com “os menino da TV”, e nem esperava que Otavio voltasse para busca-la como havia prometido, ela havia endurecido o coração e muitas vezes vivia triste e pensativa, agora com duas crianças, Tiara vivia para cuidar dos filhos, era comum vê-la à chorar soluçando embaixo de alguma árvore, Titi não havia esquecido o seu grande amor, Otavio.
Enquanto narrava Boca de pimenta fez uma pausa e disse:
- Badega, há quanto tempo que te conheço?
- Há uns dez anos Boca.
- Eu posso te dizer com extrema convicção que não há nada pior que um casamento sem amor. – Afirmava Boca de Pimenta.
- É parece ate que já se casou uma vez, tu já se casou Boca? – perguntava badega colocando café na xícara de Pimenta.
- Eu não sei, mais se casei eu te digo um dia – risos de Boca de Pimenta. – O Véi boca de Pimenta era misterioso parecia que escondia um segredo, pois, como um homem tão inteligente vivia em uma vendinha o dia todo bebendo e conversado? Ele por trás da barba bem cheia não se revelava, mas, era querido por todos. Já era noite, pedimos um café, falamos um pouco sobre religião, em especifico sobre o candomblé, após um papo agradável e rico de informações, ele disse:
- É melhor deixarmos o restante do causo para amanhã, estou muito casado e preciso dormir, te espero aqui viajante bem cedo se quiser que eu encha o seu saco com minhas lorotas. Olha badega faz um café forte e guarda o litro da cachaça que veio do Pernambuco que amanhã eu dou cabo nela, Até! Boa noite! – Assim, aquele velho se retirou de cabeça baixa, parecia ter algumas lagrimas nos olhos, mas, Badega disse-me que era assim todos os dias, fiquei refletido um pouco sobre o Véi Zé Boca de Pimenta, e preferir não chegar a nenhuma conclusão apresada, paguei a conta e fui para pensão que tinha o nome da Vila.


VI – CAPITULO: EM BUSCA DE NOVOS ESPAÇOS.

Bom dia viajante! – falou Badega comigo quando eu estava entrando na Venda, o mesmo já estava servido o café da manhã ao Véi Boca de Pimenta, ele comia pão com passarinha frita acompanhado de bastante vinagrete com muita pimenta, ele adorava, comia mais de quatro pães, com a boca cheia, olhou para mim e disse-me:
- Entendeu por que mim chamam Boca de Pimenta. Como passou a noite?
- Passei bem, e o Sr?
- Como sempre, após dois copos de vinho todo mundo dorme, não é? – risos de Boca de Pimenta que depois de tomar seu café exótico pediu que Badega colocasse uma dose de cachaça e perguntou-me se poderia continuar o causo, eu respondi que sim, desta forma, ele tomou a cachaça e começou a falar.
O filho de Tiara ficou doente e após muitas idas e vindas nos médicos da região e sofrendo nas filas do SUS, ficou diagnosticado que o menino deveria fazer uma cirurgia urgente no coração, a qual só era feita de forma gratuita no estado São Paulo. Titi tinha uma tia que morava em Sampa, chamava-se dona Cremilda, a mãe do seu Primo Mascarenhas, o qual havia levado Otavio para passar o São João em Monte Formoso. Tiara não perdeu tempo, angariou dinheiro com os parentes, e Antonio não fez cerimônia, pegou sua economias e deu para Tiara Viajar, ele não podia ir, teria que ficar para tomar conta das coisas, entretanto, apesar de desconfiar da sua paternidade em relação ao menino ele nunca havia dito isso a Titi, ele demonstrava que amava muito o garoto, e realmente amava “O Toizinho”, como ele o chamava carinhosamente.
Sendo assim, Tiara seguiu viagem com os seus dois filhos, a qual transcorreu normalmente, no entanto, quando a mesma chegou em São Paulo ficou bestializada com os prédios, e o corre-corre das pessoas. Ela pegou um táxi e pediu que lhe levasse no endereço que estava escrito no papel, ela não tirava os olhos da janela do automovel, Tiara ficou impressionada com o transito, não imaginava tamanha organização, ela se questionava – Como é que não acontecer toda hora um acidente?- Os edifícios lhe deixa de boca aberta, ela não entendia como era possível se construir um prédio tão grande, na verdade viajante, o espaço urbano é por exelência humano, nele tudo é resultado da somatória da cultura humana em diversas épocas, é um acumulo de memórias e informações que faz um ser humano que não tem contanto costante com esta realidade ficar perplexu e impresionado. Após uma hora de viagem pela grande São Paulo Tiara chegou na casa de sua Tia D.Cremilda.
- Como esta Tia? Vim lhe abusar! – dizia tiara sorridente por vê a tia, a qual, ela não via há dez anos.
- Que nada minha filha! É um prazer ti receber em minha casa, e como esta à criança e o povo?
- Bom Tia, o Povo tá bem, mamãe mandou lembrança e farinha e beiju pra Senhora, magi, o Toizinho esta muito doente, olha só! quem olha para ele não diz que ele esta doente, nu é?.
- É mesmo minha filha, mas, vamos entrando para cozinha, vamos tomar um café, eu quero saber como esta todo mundo lá em Monte Formoso.
Depois de colocar os papos em dia com a Tia, Tiara estava feliz, pois, além ter conseguido fazer uma boa viagem sentia que tudo iria dá certo, não obstante, ela também imaginava que poderia encontra Otavio e lhe apresentar o seu filho.
Os dias se passaram, Titi levou o filho para fazer os exames, realmente a criança Precisava da cirurgia, desta forma, os médicos marcaram o dia da realização da mesma. Tiara estava muito apreensiva, chorava pelos cantos com medo de perder o seu filho, ela também sempre ligava para o posto telefônico da Vila para mandar noticias do menino e saber como todos estavam, uma vez que, a saudade do seu lugar também lhe maltratava o coração. Ela não entendia como a vida transcorria em São Paulo, uma vida onde as pessoas são sempre estranhas, onde tudo se passa sem um aperto de mão, ela não entedia aquele viver, assim, se fazia de lagrimas, pois, fazia um mês que ela estava fora de Monte Formoso.
Chegou o dia da cirurgia, todos estavam nevorsos, pois, a Cirurgia era delicada. Tiara se mostrava bastante atarantada, tremia as mãos e não controlava as lagrimas, vendo a sua condição, o seu primo Mascarenhas disse que tinha uma supressa para ela, de imediato ela imaginou:
- Será que é o Otavio? – Em seguida ela fez a mesma pergunta a Mascarenhas, este, no entanto, disse que ela seguisse para o saguão do hospital que encontraria a resposta. Com passos ligeiros e como o filho nos braços Tiara foi à sala de espera e quando lá chegou encontrou o grande amor de sua vida, sua pernas bambearam, os olhos escureceram, a garganta se fechou e ela quase desmaiou, após respirar fundo, ela se recompôs e disse:
- Otavio ! Como está você? Esta muito bonito e forte!.
- Que nada Titi, Você é que continua linda, que pena que nos encontramos neste momento tão triste, mas tudo vai dá certo com fé em Deus! Quanta coisa aconteceu Titi, tudo mudou, só uma coisa não... – De repente Tiara foi chamada para levar o filho para se preparar para Cirurgia. Em prantos ela dizia:
- Sr. Medico cuide do meu filhinho, pelo amor de Deus salve! salve o meu filho, salve o meu filho – o medico respondeu:
- Fique tranqüila Senhora tudo vai dá certo. – assim, as enfermeiras tomaram a criança a qual foi chorando e gritando o nome da mãe, Tiara não suportou aquela situação e desmaiou nos braços de Otavio.
As horas passavam e nada, nada de noticias, Tiara foi medicada e estava mais calma, ela percebeu que Otavio estava ali perto dela desta forma começaram a conversar:
- Vinho você não mim esperou, eu sofri tanto, mas tanto que você não imagina! – Falava Tiara com os olhos cheios de lagrimas preocupada com o filho e também pelo fato de ter encontrado o seu grande amor, olha Badega, dizem que não se chora por duas coisas ao mesmo tempo, mas, Titi Chorou. Assim, Otavio respondeu:
- Eu imagino Titi que você tenha sofrido muito com minha partida, mas, tinha que ser assim, eu não tinha naquela época dinheiro para manter nós dois aqui, você sabe tudo aqui é pago, e eu estava estudando ainda. Titi então disse:
- Você nem se quer mandou uma carta para mim, escondido por alguém.
- Não tinha como Titi, e agora não dá para chorar pelo passado.- Otavio tentava acaba com a conversa evitando os pormenores dos ressentimentos, pois, para ele não valia a pena tal discussão. Por conseguinte, Tiara respondeu:
- Você tem razão, mas, minha vida mudou por sua causa, hoje tenho dois filhos, sou casada, tivi que casar ligeiro.
- Casar ligeiro por quê? – indagou Otavio.
- Há você não sabe, é mesmo, mas é hora de saber, é uma boa hora de você saber! – As lagrimas de Titi escorriam fortemente na sua bela face.
- Saber o que tiara? – Questionou novamente Otavio.
- Bom Otavio, quando você foi embora, após um mês eu comecei a enjoar, não queria ficar falada e acabei pressionado o bom homem do Antonio para casar comigo, o que veio a acontecer.
- Você está querendo mim dizer alguma coisa Titi? – Perguntou Otavio meio desconfiado e imaginado a provável resposta que Tiara lhe daria.
- Não! Claro que não, eu já disse, você é que não entendeu, num sabe, esse menino que esta agora entre a vida e a morte chama-se Antonio Otavio, ele esteve comigo desde que você se foi, foi um pedaço de você que ficou em mim, que não mim deixou te esquecer ate hoje, ele é seu filho Otavio, seu Filho. – Otavio não conteve as lagrimas abraçou fortemente Tiara e pediu perdão. Ele ficou desesperando ao imaginar que poderia nunca mais ver seu filho, o filho do seu grande amor, ele pediu empenho dos médicos, corria de um lado para o outro, ele queria conversar ainda com seu filho que tinha apenas três anos.
Enquanto isso na venda, o Véi Boca de Pimenta parou à narrativa tirou um lenço do bolço de sua camisa e enxugou duas lagrimas que escorria no seu rosto, em minha mente se passaram novamente mil questões referente a ele, mas, preferi acreditar que ele era um homem bastante sensível. Depois das lagrimas Pimenta levantou foi para porta da venda, olhou para o sol, saldou um rapaz que passava, em seguida retornou, pediu água e enquanto bebia continuou a história.


VII- CAPITULO – LAGRIMAS MATERNAS.


Os minutos pareciam intermináveis, as horas pareciam dias, Tiara esperava ansiosa por noticias do filho que estava sendo operando, já cansada, cochilava no ombro de Otavio, mas, quando ouvia a fala de algum enfermeiro subitamente acordava assustada pedindo noticias do Toizinho, normalmente ouvia uma resposta evasiva como “ta tudo bem” ou “tenha calma”, ela chorava e o seu consolo era vê e não acreditar que Otavio estava ali bem pertinho dela.
Após cinco horas de longo sofrimento apareceu um medico com cabelos grisalhos e olhos azuis que demonstrava um pouco de abatimento, ele se aproximou da sala de espera e disse:
- Dona Tiara Freitas de Oliveira a mãe de Antonio Otavio Freitas de Oliveira comparece ao meu escritório. – De imediato Tiara se levantou, abraçou Otavio que cabisbaixo falou no seu ouvido:
- Tudo vai dá certo Titi, Boa sorte.- Titi foi largando a mão de Otavio vagarosamente e se dirigiu para a sala do doutor muito apreensiva, quando já estava na sala do medico disse:
- Como esta meu filho doutor? Como ele está? – O medico demonstrado cansaço refletia no seu rosto um ar de que o fausto havia acontecido, mas, ele pediu para Tiara sentar-se, e também pediu calma, em seguida falou:
- Bom D. Tiara a operação foi muito delicada, tivemos muitos momentos de dificuldades na cirurgia, porém, o seu filho ressitiu como um leão e passa muito bem. Ele vai ficar bem. – Tiara não se conteve abriu a porta a saiu chorando de felicidade, abraçou Otavio e disse-lhe:
- Nosso filho esta bem Vinho, Nosso filho esta bem. – os Dois em prantos se abraçaram e se beijaram. Algum tempo depois chegou o primo Mascarenhas com a mãe Cremilda, todos chorando de felicidade pelo sucesso da operação. A principio D. Cremilda chegou ate a pensar que Tiara estivesse namorando o amigo do filho, pois, os dois estavam abraçados de modo que demonstrava uma certa intimidade, no entanto, ela preferiu ficar com a hipótese de que foi um abraço de comemoração pelo bem esta do menino. D. Cremilda, uma mulher maliciosa e vivida não sabia da aventura amorosa de Tiara com Otavio.
Os dias passaram e Toizinho foi se recuperando, o pai ia brincar sempre com ele, mas, ele dizia que o pai dele era Antonio o que machucava muito Otavio. Titi ligou para a família em Monte Formoso para falar da recuperação do Menino, todos ficaram felizes. No entanto, em São Paulo ela continuou se encontrando com Otavio, chegaram ate a irem ao cinema e em locais que ficassem mais à vontade. No entanto, Tiara não imaginava o que estava por vir, ela não sabia que Otavio tinha uma namorada, o que era normal para um jovem de vinte e oito anos, entretanto, este fato seria para ela uma grande decepção, pois, ela acreditava que Otavio estava sozinho.
Otavio estava prestes a acabar com o relacionamento que tinha com uma ex-colega de faculdade, mas, não tinha coragem, pois, já namorava a moça a mais de dois anos, e esta esperava que ele ficasse noivo, não obstante, com a chegada de Tiara, o seu amor do passado estava bem presente o que reacendeu sua paixão e ele não queria novamente deixar para trás o seu grande amor, afinal, ele tinha um filho com Titi, e neste sentido, ele queria educa-lo e vê-lo crescer.
Aproximava-se o retorno de Tiara, Toizinho já estava bem, Titi agora sofria não mais com a doença do filho, mas, com o fato inexorável de ter que se separar de Otavio, ela não entendia por que a vida separa duas pessoas que se amam de verdade.
E por falar de amor de verdade, viajante, você já teve um amor de verdade? - Mim questionou Boca de Pimenta e de imediato respondi:
- Acredito que sim pimenta, e hoje eu aprendi que o amor é o que nos deixa mais feliz, mais construtivo, mais inventivo, porém, não há nada, nada que nos faça sofrer com tanta intensidade, e o pior é que quando se sofre por amor nada pode aliviar a dor, você não acha Badega? – este sorriu e respondeu:
- Acho que sim, mas, você também dá um bom contador de história em ?! Fala bonito nu é Boca? – o véi pimenta respondeu.
- Claro! Ele falou muito bem. Eu também já tive um grande amor que ate hoje não morreu. Eu sei muito bem que um amor verdadeiro não morre, amor que é amor tem que ser eterno. Mas, voltemos a Tiara.
Titi resolveu fazer uma supresa à Otavio, pegou o Ônibus e se dirigiu a faculdade que Otavio estudava, antes comprou uma camisa para ele, e junto colocou um cartão que dizia:” te amo e quero ficar para sempre contigo. Titi” . Quando chegou na faculdade foi ao encontro de Otavio, Antes ficou impressionada com a cidade universitária que é a USP, quando ela em fim chegou na sala que Otavio estudava o seu coração partiu, ela se deparou com uma cena que jamais imaginava vê, o seu coração se dilacerou, pois, Otavio estava aos beijos com uma linda garota. Tiara calou-se, não fez escândalo, deu as costas à cena, as lagrimas eram infindas, a dor igual a da morte, o sentimento de ódio se manifestava como uma simbiose de paixão, pecado, amor e raiva. Tiara era uma multiplicidade de sentimentos e incertezas.
Ela chorou todo amor por Otavio e quando chegou em casa arrumou suas coisas e também sorriu da vida, disse a Tia que iria embora no outro dia, D cremilda não questionou sua intenção de ir embora, pois, Tiara protelava sua volta alegando que o menino não estava totalmente recuperado o que era mentira, pois, o que lhe mantinha em Sampa era a presença de Otavio na sua vida. A Tia já estava desconfiada que ela estava tendo um caso, mas, não sabia com quem, apenas fazia conjecturas, por isso, disse com uma certa frieza “não vai não Titi.” Como quem quer dizer “tá passada de ir embora” . Titi que não era burra decodificou a mensagem da Tia e partiu no dia seguinte bem cedo.
Quando Otavio ficou sabendo que Titi iria embora no outro dia, ficou atarantado, seguiu cedo para a rodoviária na madrugada, louco para vê o filho e dizer a sua amada que queria ficar com ela. Quando chegou, Tiara já estava dentro do Ônibus em movimento com os menino, sendo assim, Otavio se pós a gritar:
- Eu te Amo!, meu amor! , amor da minha vida! não vá embora, eu quero ficar com você. – Tiara soluçando, pegou um lápis e um pedaço de papel e escreveu rápido, pois, o ônibus já estava saindo do terminal:
- “Otavio a esperança morreu, te amo, magi, o sonho acabou, fique cum sua lora” – Em seguida jogou o bilhete pela janela, o qual, Otavio se esforçou correndo atrás do ônibus conseguindo pega-lo, após a leitura, ele de imediato se lembrou que um colega havia lhe dito que uma moça tinha lhe procurado na faculdade, ele logo concluiu que Tiara havia lhe visto com Sâmara, sua ex-namorada, pois, ele já havia acabado o relacionamento. Otavio chorou de saudade por mais um ano, só que agora ele mandaria cartas para Titi mesmo sem esperanças de te-la novamente nos seus braços.


VIII – CAPITULO – DE VOLTA PRA CASA


A viagem para Monte Formoso não foi muito tranqüila, Tiara estava muito mal, ela culpava a se mesma por ter sido relutante e não ter decido do ônibus para ouvir as explicações de Otavio, ela pensava em desembarcar na rodoviária mais próxima, tomar um novo ônibus e retornar para São Paulo, no entanto, ela sabia que se voltasse a Tia notaria as suas intenções e a convivência com ela não seria das melhores, Titi já estava sem dinheiro, desta forma, ela só poderia seguir viagem para Monte Formoso, Tiara também morria de saudades de sua terra natal.
Após muito choro, rompeu no rosto de Titi aquele lindo sorriso que encantava todas as pessoas que com ela tinham contato, a causa da alegria era Monte formoso que já estava ao alcance de sua visão. A Vila como você pode observar viajante é pacata – Afirmava boca de Pimenta -, tem um povo manso, e hospitaleiro, o comercio esta crescendo, mas, a maior beleza desta Vila além de Tiara são arvores seculares, olhe viajante, chegue aqui na porta da venda, esta vendo na frente da casa do Sr.Tadeu aquela árvore? – indagou o Véi Boca de Pimenta.
- Sim! Estou vendo.- respondi com curiosidade.
- É um pé de tamarino que tem mais de duzentos anos, é uma relíquia da Vila. Voltemos a Titi.
O seu coração pulsava forte, ela queria vê todos amigos, abraçar todos, os seus olhos lagrimejavam de felicidade, por um instante Tiara não pensava nos problemas que tanto lhe machucava, ela deixava o vento que soprava em seu rosto levar as memórias tristes. Em um piscar de olhos o carro parou na Vila e Tiara se viu na praça deslumbrada com o seu lugar, pouca coisa havia mudado, um exemplo era a casa de D. Maria, uma amiga de sua mãe, estava no mesmo local, apenas tinha mudado de cor, pois, era azul e tinham pintando a mesma de amarelo, isto parecia uma mudança singela na Vila, mas, quando as coisas mudam devagarzinho em um lugar pequenino no cantinho do mundo, o simples fato de se pintar à fachada uma casa transformar toda uma paisagem cultural e impressiona quem esta retornando de uma viajem.
A Vila estava a “mesma” coisa, com suas arvores enormes que enfeitavam a praça, o parquinho das crianças estava ali no mesmo lugar, os idosos continuavam jogando dominó perto de um quiosque que ficava próximo ao ponto das rurais, e o pequeno mercado da Vila demonstrava a dinâmica e a prosperidade econômica de Monte Formoso. De repente, Tiara tomou um susto, muitos homens estavam trabalhando próximos a Igreja de Santo Antonio, as pessoas disseram a Titi que estavam construindo uma quadra de esportes para incentivar a pratica de atividade físicas na Vila, Tiara ficou muito feliz, pois, pesava que estavam destruindo a igreja.
Tiara estava muito cansada, e não tinha tempo para visitar os parentes que moravam na Vila, ela imediatamente pegou uma rural e se dirigiu para sua casa no povoado de Pirorá. Titi lembrou que teria que da um novo rumo a sua vida, ela não queria ficar mais enganando Antonio, portanto, iria lhe propor a separação. Em relação a Otavio, a sua razão dizia-lhe para esquece-lo, mas, o coração, o qual é mais forte, não deixava. Tiara havia passado três meses fora e teve muito tempo para repensar sua vida. Quando chegou em casa foi recebida aos abraços e beijos pela família; Antonio abraçando-lhe dizia:
- Meu benzim qui saudade, Eu te amo – Antonio chorava de felicidade por esta com os filhos e a mulher. Titi respondeu:
- Eu também estava com saudade de você Tonhi. – Enquanto abraçava Antonio Tiara divagava - agente não escolhe quem amar, eu deveria amar este homem, ele mim ama tanto. – A mãe D. Raimunda estava louca de tanta alegria, ela chorava e gritava:
- Minha fia, minha fia te amo, tu ta é bunita em? – Tiara disse:
- Bença mainha! ta tudo bem com todos, não esta? – a mãe disse:
- Óia só! tá ate cum sutaque de paulista, qui coisa – Risos de D Raimunda -, tá tudo bem minha fia, teu irmão João qui a jararaca mordeu, magi já tá tudo bem.
Após entregar os presentes, e relatar como estavam todos em São Paulo, Tiara tomou um banho, comeu uma farofa de ovo de quintal e sentou-se embaixo de um pé de maga espada à degustar o fruto, Tiara era louca por manga, enquanto se deliciava o semblante de Otavio a chorar no terminal lhe perturbava mesmo ela fazendo força para esquece-lo.
A noite chegou e com ela a trovoada do verão de setenta e dois, com seus relâmpagos intermites e trovões escandalosos foram à trilha sonora do sono de Titi com os filhos, pois, Antonio resolveu não incomodar a esposa, a qual, disse que estava muito cansada. Tiara tinha apenas vinte e dois anos, Otavio vinte e Oito e Antonio trinta e um, vidas diferentes, experiências diversas, anseios e planos para transpor as portas do presente para o futuro antagônico, no entanto, estavam todos ligados pelo amor e pelo desejo, não obstante, ninguém esperava que mais uma pessoa entrasse nesse triangulo amoroso, porém, Efraim, um comerciante que tinha em torno de quarenta e cinco anos, era casado e tinha um casal de filhos, ele era um coroa malhado, falava bem e tinha fama de conquistador, praticava corrida todas as manhas, ele dizia ter servido o exercito, Efraim tinha morado em São Paulo, e como afirmava; - fiz a vida por lá, meu pé de meia, não sabe meu chapa? - Este homem entraria em cena na vida de Titi para mudar o curso de toda historia e do suposto “equilíbrio” do triangulo amoroso.



IX – CAPITULO: JOVENS REBELDES, PORÉM COM CAUSA.

A vida de Otavio em São Paulo não era fácil, ele era filho de um casal de proletários, seu pai, o Sr.Tarcisio Fernandes trabalhava em uma montadora de automóveis, sua mãe, a Sr. Lucia, era professora do ensino médio, diríamos que Otavio pertencia à classe media baixa, ele tinha duas irmãs, Rafaela e Otília, esta ultima era a casula, todos descendentes de espanhóis.
Otavio não passava fome, nem lhe faltava roupas e calçados como faltava para muitas pessoas de Monte Formoso, não obstante, Otavio era um militante que lutava para acabar com a ditadura militar, como muitos colegas, ele era idealista, sonhava com um Brasil mais justo, onde no mínimo as pessoas pudessem viver com dignidade, tendo um teto para viver, o pão de cada dia, saúde e educação de qualidade.
Otavio sonhava com o fim da corupção no seu País, ele era um marxista que valorizava a cultura, o seu pensamento se norteava nos postulados de Levy strauss, Marx, Lênin, Max Weber, gostava de lê tudo, amava poesias e prosas bem compostas como os livros de Aluiso de Azevedo, Lima Barreto e Machado de Assim, ele também gostava de musica popular, era fã de Raul Seixas, Otavio também se identificou muito com o movimento da Tropicália, movimento este que teve como grandes expoentes Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Com toda essa carga teórica, Otavio era líder por essência de movimentos contra a ditadura. Quando os militares decretaram o AI-5, ele foi preso e rancaram um pedaço do seu dedo indicador para que ele confessa-se que participava de uma guerrilha urbana, contudo, não o mataram, pois, um milagre aconteceu, um amigo do seu pai era sargento e o reconheceu, o que facilitou sua soltura. Otavio viveu intensamente a sua vida universitária, como um homem fruto de sua época, Otavio lutou pelos seus valores, lutou por tudo que ele acreditava ser verdadeiro, ele não morreu como muitos jovens tão inteligentes quanto ele que foram decapitados, metralhados, enterrados vivos, que ficaram malucos de tanta tortura psicológica, Otavio viveu para ser testemunha de uma das paginas mais escuras e tenebrosas da história do Brasil.
- Pimenta! o Senhor fala desse rapaz como se conhecesse ele pessoalmente. Você o conheceu? – Eu indaguei o Véi Boca de Pimenta que ficou um pouco espantado.
- Bom, digamos que sim, e acho que você viajante vai conhece-lo também? – Sorriu pelo canto da boca o Véi Pimenta
- Por que falas isto? – Novamente resolvi questiona-lo.
- Por que todos que ouvem a Historia de Tiara resolvem conhecer Otavio. – Com respostas evasivas, Pimenta se escorregava com frases simplórias e bem objetivas, parecia querer esconder alguma coisa.
- Há entendi. – neste estante preferi não dá prosseguimento às questões que surgia em minha mente, assim, o Véi Zé Boca de Pimenta continuou sua narrativa.
Quando Tiara foi embora, Otavio se meteu de vez nos movimento com o fito de acabar com a ditadura militar, ele sofria com saudades do filho e do seu amor, Otavio imaginava o menino crescendo longe dele, sem reconhece-lo como pai, tudo isso lhe machucava muito, Ele se preocupava com a educação de Antonio Otavio e nas cartas que escreveu para Titi sempre pedia para que ela colocasse o menino na escola. O tempo passou, Otavio terminou a faculdade de Antropologia, fez pós-graduação e escreveu livros que lhe deram notoriedade nacional, mesmo com todo sofrimento Otavio ficou três anos sem vê Tiara e o filho, apenas mandava cartas e recebia poucas, para ser preciso, neste intervalo de três anos ele só recebeu três, em uma destas, Tiara pediu-lhe que mandasse uma foto.
Apesar do tempo, Otavio sonhava em reencontrar o seu amor e seu querido filho, Otavio estava construindo o seu futuro, ensinando em algumas universidades particulares de Sampa. Em uma Natal ele mandou presentes para Otavinho e Tacilinha, os meninos ficaram muito felizes, Tiara disse aos filhos que foi o Tio Otavio de São Paulo que mandou, o marido Antonio nem ligou. Otavio estava se preparando para vim embora para Bahia, ele prestou concurso para ser professor da UFBA, passou e se preparava para vim morar em Salvador, a distância da capital da Bahia para Monte Formoso eram só Cento e sessenta quilômetros, Otavio não via a hora de efetivar a mudança.

X – CAPITULO: O DESEJO DO NOVO

O tempo passou Badega, como passa sempre, aliás, já é meio dia Badega, tem o quê pra gente “papa” ai? – perguntou Boca de pimenta sorrindo com seu amigo quitandeiro que imediatamente lhe respondeu:
- Bom! Pensei que iam ficar conversando a tarde toda sem se quer beber água. Eu fiz uma feijoada, tem arroz e carne assada com salada de tomate. Já ia esquecendo! Também tem salada de maionese. Vai querer viajante? Tu nem precisa responder Pimenta. – Eu disse a Badega que queria experimentar os seus dotes culinários, assim sendo, sentamos nos tamboretes bem pequenos que circundavam a mesa rústica que ficava no lado direito do balcão, a mesma estava cheia de nomes de pessoas, tais nomes estavam riscadas nas tabuas da mesa, os riscos foram feitos provavelmente de faca pelas pessoas que por ali almoçavam, normalmente eram Viajantes, eu meio sem “querer querendo”, ou simplesmente levado pela força da tradição escrevi de forma bem tímida no cantinho da mesa o meu nome; Alex D’Jesus.
Na parede tinha uma folhinha de mulher nua, estava cheia de casas de aranha, a venda era escura, tinha apenas uma janela miudinha que deixava entrar um pouco a luz do sol, a mesma tinha uma lâmpada pequena que contrastava com o telhado escuro, mas, contudo ela melhorava a visão, principalmente do quadro da Primeira Santa Ceia que ficava em frente à folhinha de mulher nua criando um contraste entre “pecado” representado pela folhinha em relação à santidade representado pelo quadro da Santa Ceia.
Almoçamos, a comida estava deliciosa, o Véi Boca de Pimenta comeu mais da metade do molho de malagueta, tomou durante o almoço três cachaças, sorria sem dizer o por quê, eu não imaginava o motivo de tanto sorriso, perguntei a Badega por que ele sorria tanto, Badega disse-me que era sempre assim, Badega afirmou que nunca havia lhe dito o motivo das gargalhadas. Depois do almoço, “sem mais nem menos”, Pimenta começou a continuar a narrar a história de Tiara:
- E assim se sucedeu Viajante, como havia dito, o tempo passou e todas as esperanças de Tiara se perderam no ar, ela não se separou de Antonio, resolveu não lhe machucar, pois, acreditava que Pé de Chumbo poderia se matar se a perdesse, ele fazia qualquer coisa por ela, entretanto, mesmo tendo dentro de se aquela semente de amor por Otavio, Tiara não resistiu às inúmeras cantadas do comerciante Efraim.
Como já disse, era um homem educado e vistoso, Titi sempre se dirigia ao seu mercadinho para comprar as coisas que faltava em casa, e ele sempre soltava um galanteio, um dia deu-lhe ate flores, outro dia um par de brincos, na primeira vez que Efraim lhe “cantou” Tiara vançou nas barbas do mesmo e disse que iria contar tudo para o marido, porém, com o tempo Titi foi gostando da forma carinhosa que Efraim lhe tratava, Antonio não sabia de nada, Titi dizia que tinha comprado os brincos e as flores que ganhava ela deixava na casa de uma amiga, o fato é que Tiara já estava abalada e atraída pelo jeito meigo e ao mesmo tempo másculo de Efraim.
Não tardou para acontecer o primeiro beijo e o primeiro abraço, era apenas uma questão de tempo o desenrolar de uma paixão marcada apenas pelo saciar do tesão que ambos sentiam um pelo outro, pois, amor, amor de verdade, destes que nos deixa como essa cerveja bem gelada quando vemos quem amamos, Tiara só sentia mesmo era por Otavio.

XI – CAPITULO: ASSIM TAMBÉM SÃO AS PESSOAS.

Efraim tornou-se amigo de Antonio, pois, este ultimo quando acabava os seus afazeres sempre se dirigia a venda do quitandeiro para tomar alguns “Jilós” e jogar conversa fora. Efraim era comunicativo e sempre estava informado, ele esclarecia para os fregueses questões de política e economia, afinal Viajante, a venda também é um lugar muito especial, pois, nela se dá a informação.
O comerciante acabou conquistando Antonio, tornou-se amigo, começaram a marcar almoço e churrasco em suas residências, eles sempre alternavam as casas. Antonio acabou dando a filha para Efraim batizar para enlaçar mais ainda a amizade, em fim, tornaram-se compadres.
Os almoços e churrascos eram marcados pela alegria das famílias, mas, quem estivesse presente não precisava fazer muito esforço para ver como Efraim olhava para Titi, não obstante, a recíproca era a mesma. Quando Tiara se dirigia a cozinha Efraim dizia ir ao banheiro verter água, eles se encontravam entre os corredores da casa e ali mesmo se beijavam rapidinho para ninguém vê. Antonio, coitado, se percebia os olhares entre os dois fingia não vê, se não via era vitima da mais leviana traição. Em um desses churrascos quando Tiara foi ao encontro de Efraim na cozinha de sua casa, Antonio ouviu alguns gemidos, ouviu também um copo se quebrar, assim ele se dirigiu para cozinha, chegando lá, encontrou Tiara e Efraim conversando, imediatamente ele disse:
- O quí ta acontecendo aqui Tiara – Um pouco desconfiado, ele não queria acreditar que estava sendo traído e esperava uma resposta convincente da esposa, desta forma Titi respondeu:
- Foi nada não Tonhi, o Gato qui quebrou o copo, tava atrás da carne Fresca. – Antonio interpelou-a:
- Magi eu ouvi uns gemido diferente, de muié no sió, foi sim! – Tiara respondeu:
- Tu ta ouvindo demais, parece qui ta ficando maluco, pogi de muié só tem eu aqui com compadre Efriam, só se ele tivesse mim agarrando, nu é compadre? – Efraim respondeu as gargalhadas:
- Claro que sim ra, ra, ra, ra, onde já se viu Antonio, vamos tomar mais uma. – Assim, todos saíram sorrindo e bebendo da cozinha, parecia que nada estava acontecendo, mas, Antonio tinha percebido algo diferente, talvez fosse hora de mudar.
Tiara continuou traído o marido, quando Antonio viajava para vender sua produção nas cidades vizinhas Tiara dava show, se emperiquitava toda, colocava a roupa mais sensual, deixa os filhos com uma amiga dizendo-lhe que ia a uma reza. Na verdade, Titi esperava chegar a hora da venda de Efraim fechar, pois, ele já estava a lhe esperar lá dentro, quando ela chegava batia suavemente na porta, ele imediatamente abria e lhe arrastava para dentro como um leão feroz que estava sem comer há dez dias. Uma vez lá dentro faziam loucuras.
Tiara vivia aquele relacionamento sem sua consciência lhe condenar, uma vez que, quando ela falava a palavra separação Antonio saia e nem se quer lhe dava ouvido. Tiara tinha um carinho para com Antonio, pois, ele era um bom pai, brincava com as crianças, levava elas para passer no rio, fazia casa de palha para eles, ele era muito feliz com as crianças, e Titi lhe admirava muito, mas, a sua admiração não era bastante para lhe ser fiel, pois, ela estava decepcionada com o seu grande amor o que tirou o sentido de sua vida, sendo assim, o seu relacionamento com Efraim era uma forma de esquecer por alguns instantes Otavio.
Apesar de sua atração por Efraim, o coração de Tiara era de Otavio, um dia quando ela estava no rala e rola com o amante ela disse:
- Ai, Otavio mim beija, mim beija neguinho.
Efraim imediatamente perguntou:
- Tiara tu ta com outro nego, mulher? Eu te mato! Quem é Otavio?
Vendo Efraim muito nervoso Tiara se pós a contar a sua vida a ele, que logo se acalmou quando Titi disse que não tinha mais volta o relacionamento com Otavio.
O que Tiara não sabia é que a vida tem suas supresas, e ela não esperava que um certo Dr. Fernandes viesse a comprar uma fazenda em Monte Formoso. O grande amor de sua vida estava de volta.

XII – CAPITULO: ENTRELANCANDO O AMOR, O DESEJO, A BONDADE, E A BELEZA .

Otavio estava de volta, arrumou a fazenda colocando estacas e arame novo, na Vila não se fala em outra coisa, diziam:
- Tem um novo Doutorzinho aqui, comprou a fazenda de Ambrosio casquinha e ta reformando tudo, ele disse que vai plantar limão e criar gado de leite. – O povo dizia que Otavio era dentista, outros doutor de maluco, ninguém sabia que ele era antropólogo, quando alguém se habilitava a pronunciar a palavra diziam:
- Ele é Astrogo, Antogulu, atopilogu, diz ele qui estuda gente, qui gente eu nú sei - falavam muito, do seu modo, com sua gramática peculiar que caracterizava o seu espaço, era assim quando chegava um forasteiro todos falavam bem e mal sem se quer conhecer a pessoa.
Muitos camponeses foram pedir trabalho a Otavio, este acabou contratando alguns lavradores, Otavio tratava de forma diferenciada os seus empregados. Eles mesmos diziam que os fazendeiros da região eram pessoas ruins, pois, nem se quer olhavam para eles para lhes desejar um bom dia de trabalho, queriam apenas vê verter a ultima gota de sangue dos homens, mulheres e crianças que trabalhavam nos seus laranjais e na criação de gado. Otavio era diferente, falava com todos, queria saber a vida de cada um, suas histórias e anseios de vida, ele mandava servir para seus trabalhadores mingau toda manhã, sempre fazia churrasco e fazia questão da presença de todos. Otavio também ia nas casas de seus empregados, principalmente nas rezas de São Cosme e São Damião, ele comia caruru, batia pandeiro, sambava, bebia. Otavio conquistou a todos, sua fama correu e todos queriam trabalhar para ele, assim, Otavio conquistou muitos amigos, mas, inúmeros inimigos poderosos, como os fazendeiros e políticos da região.
Os “coronés” estavam com medo de Otavio torna-se uma referencia na Vila, tornado-se um homem muito poderoso, pois, Otavio era estudado e sempre estava esclarecendo o povo dos seus direitos e deveres. Eles matavam cabeças de gado de Otavio, o criticavam chamado-lhe de idiota, diziam:
- É idiota mesmo esse tal de Otavio, em vez de se juntar com nogí, ele se preocupa com a negada, com os Pé rapado, só nú quero quí se meta nós meus negócios. – afirmava um fazendeiro conhecido por Coroné Raposino, famoso por batiza os filhos dos pequenos proprietários de terra, para estreitar os laços de parentesco, o que facilitava a grilagem das terras dos compadres.
Quando Otavio chegou Tiara logo ficou sabendo da noticia da chegada de um novo fazendeiro chamando de Fernandes, isto não despertou o seu interesse, mas, quando sua mãe chegou da Vila e lhe disse que o novo fazendeiro era um tal de Otavio Fernandes, Tiara disse:
- É ele mamãe, com certeza é ele, Vinho veio embora! – Tiara sorria escandalosamente. A mãe falou:
- O que é isso muié? Ta doida? Quem é esse Otavio?Tu cunhece ele menina? Tiara respondeu:
- Ele mamãe, aquele rapaz qui veio cum Mascarenhas naquele São João, aquele qui foi imbora sem Avisar. – D. Joana respondeu desconfiada:
- Rum, já sei! E mode que tanta alegria? Ficou ate asanhada. – Tiara respondeu:
- Não mamãe, eu to feliz pur ta mesmo, né por isso não, magi é bom rever amigos, nu é? – D. Joana respondeu torcendo a boca como se estivesse sussurrado:
- É...
Muitas pessoas falavam mal de Tiara, diziam que ela era uma Gandanga, Raposa, Vassoura, Rapariga do Comércio, este ultimo fazendo alusão ao seu romance com Efraim. Titi estava defamada, um dia Antonio chegou na venda e um colega disse:
- Quem tem muié bunita em casa tem qui toma conta, principarmente quando vai pá cidade e deixa ela em casa.
Antonio ficou todo desconfiada e resolveu pagar um adolescente chamado José Língua de Sapo, para vigiar Titi quando ele estivesse viajando.
Ê! ai Badega bota mais uma que a prosa esta ficando boa, imaginou viajante, agora a cobra iria fumar. Olha viajante, se a vida é um castigo com certeza o erro dos homens em outro mundo foi a traição. Não há nada mais leviano que a traição, principalmente entre casais. E o pior que nós seres humanos somos aqueles que tem consciência disso, mas, estamos sempre traindo. Parece que trair esta no gene humano. Eu odeio a traição. E tu Badega o que acha?
- Eu? eu nu acho certo, quem quer outra pessoa larga a pessoa que esta, não é o correto viajante?
- Acredito que sim Badega, mas, às vezes não é tão simples assim, pois, a vida é muito complexa.
- É isso mesmo Viajante – afirmou o véi Zé Boca de Pimenta que continuou sua história.
Tiara reencontrou Otavio, ele ficou muito feliz em revela, ela nem se fala, delirava em suspiros, pois, ninguém esquece um grande amor. Otavio perguntou pelo filho ela disse que estava tudo bem com ele, Otavio então pediu que ela quando voltasse na fazenda trouxesse o seu filho que ele queria tanto vê.
No primeiro encontro apenas conversaram, mas, no próximo encontro Otavio e Tiara não resistiram e começaram a namorar, é, como diria o poeta “o amor nunca morre”. O tempo passou e Tiara já não procurava mais Efraim, este estava desconfiado de que algo estava errado, portanto, colocou um espião para saber para onde Tiara se dirigia toda vez que o marido viajava. Entretanto, José Língua de Sapo já havia passado o relatório para Antonio, ele havia dito que Tiara ia sempre a venda de Efraim quando a mesma estava fechada, o que tudo indicava que Titi estava com caso com o comerciante. Antonio ficou nervoso, e sem saber o que fazer, pois, a Vila inteira sabia do caso e como era de costume ele tinha que limpar a sua honra com sangue, pois, se não executasse o casal era tido como covarde por todos.
Efraim contratou os serviços do mesmo menino, o tal de Língua de sapo, este fez o trabalho certinho, após um mês, ele disse a Efraim que Tiara se dirigia sempre para casa do novo fazendeiro chamado de Otavio Fernandes. Efraim ficou furioso e prometia que ia vingar-se de Titi. Quando Efraim via Titi fingia esta tudo bem, meticuloso, planejou tudo para da fim na vida de Tiara, pensava em mata-la envenenada, em outros momentos pensava em mata-la a tiros com o ”novo” amante, pensou, pensou e chegou a uma conclusão:
- Vou contar tudo a Antonio, vou dizer que a mulher dele esta com caso com um fazendeiro, assim, não sujo minhas mãos com aquela cadela sem vergonha, não é possível que ele não tome as devidas providencias. É, ela vai ter o que merece. – falava sozinho Efraim divagando em pensamentos, na busca de aliviar a sua dor com o fim de Titi.
Enquanto Efraim tramava como destruir Tiara, pois, ele se sentia traído, Antonio também pesava no que fazer com Titi, ele divagava:
- Vou pegar meus fí e vou imbora, deixo essa puta, magi eu gosto dela, ò meu Deus o que vou fazer? – Mesmo sofrendo Antonio não se deixava levar pelo sentimento machista, no fundo ele nunca teria coragem de matar Tiara, mas, o inesperado sempre acontece. Antonio não esperava que Efraim viesse falar com ele, talvez esse fosse o tiro pela culatra do comerciante.
Inocentes, no sentido de não saber o que estava se passando, Titi e Otavio se amavam loucamente, eles esperavam o momento certo para ficarem juntos, Titi já se preparava para ir embora com Otavio e os filhos, tudo estava planejado. Os dias em que ficaram juntos na Fazenda Princesa Nordestina, mesmo que escondido, foram os momentos mais felizes que Titi e Vinho viveram.
Por conseguinte, em um desses dias que o sol nasce de uma forma esplendorosa, Titi resolveu passer, ela pegou a bacia, fez uma rodilha com um lençol velho, colocando a rodilha na cabeça e a bacia cheia de roupa em cima da rodilha, e foi na lagoa lavar roupas, chegando lá encontrou o jovem Língua de Sapo, este logo se aproximou de Titi e disse:
- Olha a senhora ta correndo perigo de vida visse. – Tiara respondeu.
- Qui maluquice é essa menino?- Língua de Sapo abaixou a cabeça, respirou fundo e disse:
- Olha dona Titi o seu marido sabe de tudo, do fazendeiro e de Efraim.
- De que tu ta falando moleque? - Questionou Tiara já nervosa.
- De nada, de nada se cuida viu! - Língua de Sapo estava com medo de algo ruim acontecer e ele ficar com remoços, assim, ele alertou Titi depois saio correndo pelos campos de Pirorá.
Tiara ficou nervosa, não sabia o que fazer, apenas disse a Otavio o que havia acontecido, Otavio disse para ela tomar cuidado e fingir que não estava acontecendo nada, formava-se assim um quarteto amoroso mesmo que provisório, pois, Tiara temerosa resolveu de vez em quando visitar Efraim, ele ficava feliz, mas, ela não se entregava para ele como antes, pois, seu coração tinha dono, ela queria ganhar tempo, contudo, Efraim não conseguia esquecer a traição, Antonio, por sua vez, agia como se nada tivesse acontecido, mesmo o coração sangrando, pois, ele sabia de tudo, ate mesmo que ele tinha registrado um filho que não era seu, o que lhe incomodava era passar na rua e ver o povo sorrindo dele, fazendo gozação de sua atitude, diziam:
- Olha o corno conformado passando!.
- É Viajante vamos retomar o caso amanhã, estou muito casado, mas, vá imaginando o como essa história vai se desenrolar no final. – afirmou Boca de Pimenta que após tomar mais uma dose secou o litro de cachaça do Pernambuco que Badega havia comprado. Quanto a mim, estava tão curioso para saber o final da história que nem consegui dormi direito, fiquei imaginando como ele sabia narrar o acontecimento com tanta precisão, como ele sabia tantos detalhes da vida de Titi, sem duvida Boca de Pimenta era um homem especial.

XIII – CAPITULO: A LEI DA SEMEADURA.

O sol nasceu, eu sentei na cama e fiz minha oração matutina, levantei, e fui ao banheiro, tomei um banho, em seguida liguei para meus filhos Acainan e Caiala, disse que estava tudo bem, que não iria demorar muito, disse também que no dia seguinte chegaria em casa, eles mim disseram que tudo estava bem. Ufa! Filhos são maravilhosos sem hipocrisia, mas, agente só vive preocupado com eles, não é amigo leitor?
Após fazer a pesquisa para qual fui designado, fui para a venda de Badega imediatamente, Boca de Pimenta não havia chegado, naquele dia ele havia se atrasado e todos que freqüentavam a quitada logo sentiram sua falta. Já era dez hora quando chegou na venda um homem vestido com palito preto, barba bem feita, cabelos cortados e bastante elegante, sentou-se no banco que fica em frete do quadro da santa ceia, retirou um lenço do bolso do palitó, enxugou o rosto e de repente disse:
- Badega hoje não irei tomar cachaça, quero apenas café, tenho que ir matricular os meninos. – Badega assustado respondeu:
- Boca é tu mesmo ou tô sonhando? Que milagre foi esse? Nunca te vi assim todo bem cuidado. – Pimenta respondeu com a serenidade dos filósofos:
- Olha Badega na verdade a vida foi feita para agente aprender, e apreender pressupõe transformar, eu apredi com meu destino, se é que ele existe mesmo, hoje sei mais do que ontem, pois, toda dor destila os homens, faz eles aprenderem que viver é a busca infinita por uma felicidade utópica que em diversos instantes desta mesma vida torna-se real. Eu mim transformei para buscar novamente a minha felicidade. - Bom eu fiquei atônito, O véi Boca de Pimenta havia rejuvenescido uns dez anos, ele estava totalmente diferente, irreconhecível, fiquei impressionado como as pessoas que se cuidam tornam-se tão transmissoras de energias positivas, Pimenta naquele dia radiava alegria, ele estava feliz. Como sem esperar ele começou a narrar o desfecho da história de Tiara:
- E foi assim viajante, Otavio ficou sabendo do caso de Titi com Efraim, ele ficou muito triste, na verdade ele sofria muito com o fato de se relacionar com Tiara sabendo que ela continuava casada com Antonio. Otavio sabia que poderia acontecer algo de ruim com essa história, ele pesava em largar Titi, mas, seu coração não deixava. Nestas circunstâncias só restava planejar uma fulga, mas, as coisas não estavam nada fáceis, pois, a mãe de Titi havia ficado muito doente e ela não queria deixar a mãe sozinha em uma hora tão delicada.
Enquanto Tiara tentava fingir que estava tudo bem, ela começou perceber que Antonio já não lhe procurava mais na cama, e o Tal de Efraim nem se quer lhe mandava um recado marcando encontro, ela sabia que alguma coisa estava diferente.
Efraim estava revoltado, ele pagava para os vagabundos de Pirorá gritarem quando Antonio passava indo para casa: “Olha o Corno”, “ Lá vai o corno manso, quando chegar em casa olha o guarda roupa”, “Antonio Chifre de Antena”. Tudo isso magoava muito Antonio Pé de Chumbo, ele apesar de parecer valente, era um homem muito sereno e emotivo, queria apenas viver sua vidinha. Antonio poderia ter largado Tiara logo quando ficou sabendo que ela se entregou para Otavio, pois, Antonio sempre soube de tudo, apenas fingia não saber para ficar com seu grande amor, mas, preferiu esquecer tudo, ele queria viver o que tinha programado para sua vida interia, mas, parecia que não seria possível.
Antonio estava sofrendo muito, os colegas puxavam o assunto de traição nos bate-papos na venda e normalmente condenavam o homem que não matasse a mulher traidora e se possível o traidor também. Um tal de Casimiro sempre dizia:
- Se uma muié mim trair o distino dela é a morte, e ainda corto a cabeça e penduro no poste com uma placa “ A traidora” – Os homens de Monte formoso de modo algum aceitavam o homossexualismo e a traição. Fazia parte da cultura local matar a mulher se ela traísse o marido. As mulheres eram educadas para viverem para sempre com um único homem, Titi era uma exceção.
Antonio sofria tanta pressão de familiares e amigos que não sabia o que fazer, mais, tudo lhe levava a tomar uma decisão que poderia marcar definitivamente as vidas envolvidas no quarteto amoroso.

XIV – CAPÍTULO: UM DIA ECLIPITICO.

Olha viajante o amor de um casal de seres humanos deveria ser como o amor dos casais de Araras azul que nunca se traem, são fieis, mesmo quando brigam, ate os animais nos dão a prova de que o amor verdadeiro é possível.
Na verdade não se pode jugar ninguém, pois, a vida humana é dolorosa e nos leva a tomar decisões impesavéis e praticar certos atos que nós faz pagar para sempre por eles.
Bom, os dias se passaram e a pressão continuou em relação a Antonio, um dia ele amolou bastante o facão e colou o mesmo em baixo da cama para esperar Titi dormir para então mata-la, mas, quando viu as crianças, resolveu não fazer aquela besteira, na verdade ele não tinha coragem de matar seu grande amor. Antonio estava para enlouquecer.
Um belo dia, Efraim que não via Antonio tomar uma decisão, resolveu fazer uma visita ao compadre, era domingo, Tiara havia ido visita a mãe que já estava bem melhor da pressão, na verdade D. Joana ficou doente por que a filha estava difamada, o que lhe fazia sofre muito, já os irmão de Tiara nem se quer lhe dirigiam a palavra, quando as pessoas perguntavam a eles por Titi eles diziam “não temos irmã”.
Quando Efraim chegou na casa de Antonio este estava chorando, quando ouviu a voz do compadre falso enxugou as lagrimas e foi ao seu encontro, abriu a porta mandou que ele entrasse e assim começaram a conversar:
- É compadre você sabe que sou seu amigo, não sabe? – dizia Efraim com a maior cara de pau. Antonio respondeu:
- Claro que sei – A vontade de Antonio era puxar o revolve que estava escondido em baixo da camisa e descarregar na cabeça de Efraim. Desta forma, Efraim continuou:
- Meu compadre, você sabe o que todos estão dizendo, olha eu vou direto ao assunto, dizem por ai que... Que Tiara está lhe traindo. Ela esta lhe traindo com o tal de Otavio, Você precisa fazer algo urgente, sua moral esta abalada compadre – Antonio excomungava o infeliz do Efraim lhe xingando de todos os piores nomes em pensamentos, na verdade Efraim não sabia que Antonio tinha conhecimento de que ele tinha um caso com Tiara.
- Bom meu cumpadre, o povo diz o que quer, num sabe?Eu acho que isso é mentira. – Respondeu friamente Antonio com uma vontade imensa de da cabo na vida de Efraim.
- Mas compadre é verdade, eu tomei a liberdade e coloquei um pesquisador que mim deu um relatório completo, é verdade, e o senhor tem que lavar sua honra com o sangue daquela cadela. – Efraim se deixou levar pelo seu desejo de vingança o que acabou levando o mesmo a xingar Tiara de Cadela na frente de Antonio, este foi o seu erro mortal. Antonio olhou para os olhos de Efraim, foi na cozinha dizendo que ia beber água, quando voltou estava com o revolver nas mãos falando bem alto:
- Ela é cadela mesmo Efraim, e vou da fim na vida dela, magi ela é cadela pur que ocê teve ela, fegi o qui quis e agora só sabe esculhabar ela. Eu sei de tudo, do seu Romaçe cum ela, Desde aquele dia que peguei ocês na cuzinha, seu infeliz, ainda vem pá qui mim infernar. – Efraim tremendo sem saber o que fazer dizia:
- Compadre cuidado com essa arma isso não é brinquedo. Antonio disse:
- Claro que não, e eu sei, vá para o inferno mardito! – Antonio fechou os olhos e deu três tiros em Efraim, quando ele olhou para a protona estava toda ensaguetada e a face do Compadre estava desfigurada, Antonio Havia matado Efraim. – Mas viajante o pior estava por vim. – Neste momento Boca de Pimenta respirou fundo, enxugou o suor do rosto, bebeu um pouco de água e continuou sua história:
- Quando Antonio havia acabado de efetuar os desparos em Efraim logo entrou na sala Tiara que estava de volta da casa da mãe, quando ela viu o corpo de Efraim se pós a chorar e a gritar, Antonio tremendo sem saber ao certo o que havia feito, naquele momento a vida tinha perdido o sentido para ele e quando ele viu Tiara chorando, imediatamente pensou que ela estava desesperada por que ele havia matado Efraim, sendo assim, Antonio disse:
- Tiara quanto te amo, minha vida toda foi pá te amar, te amei cumo ninguém te amou e vai te amar. Acethei tudo, tudo! Tudo qui ocê mim fez. Óia, eu sempre subi que Antonio Otavio não é meu Fí, qui ocê fez ele cum o forasteiro naquela noiti de São João. Se lembra do Casaco? Quando chequei no mato naquela noiti ocê já ta vestindo a roupa, eu tava bêbado, magi vi tudo, eu não quis te largar, eu ia Matar o Mardito, magi ele fugil, casei contigo, não por que era Otário, eu te amava e te amo, magi, óia onde tudo chegou. – Antonio estava desesperado, naquele momento algo lhe fez olhar de forma diferente para Tiara, um sentimento de ódio, amor e revolta se misturavam no coração de Antonio em relação a Titi, sendo assim, quando Antonio parou de falar ela disse:
- Desculpa por tudo, eu te admiro muito, mas, nunca te amei, você sempre soube disso, o meu grande amor foi Otavio e esse qui ocê matou foi o maior erro de minha vida. – Antonio fixo em Tiara como se estivesse vendo aquela beleza pela ultima vez foi ao seu encontro abraçou-a e por debaixo apertou o gatilho, a bala foi certeira no coração de Titi, ela apenas disse com as ultimas forças que lhe restavam:
- Diga a Otavio que eu amo ele eternamente, e dou minha vida como o pagamento pur esse amor, cuide dos meus fí, - Foi assim Viajante que Tiara suspirou e uma nova estrela nasceu no firmamento. Antonio chamou um caseiro que sabia escrever ditou as palavras de Tiara para ele, e pediu que o mesmo entregasse o bilhete a Otavio. Antonio não deixou os meninos entrar em casa, quando retornavam da escola interceptou-os no caminho e levou-os para casa da avó. Depois foi para casa, pensava em fugir, mas, sua vida tinha perdido o sentido, pois, sua amada estava morta. Ele bebeu bastante e na madrugada suicidou-se com um tiro na cabaça junto ao corpo de Tiara. Tudo havia terminado, e só o siêncio reinava na casa de Titi, pela manhã, um trabalhador sentiu o mal cheiro, rombou a porta e encontrou os corpos.

XV – CAPÍTULO: A BELEZA NAS ESTRELAS.

Otavio recebeu o bilhete, nele estava escrito o seguinte:

“ Tiara morreu dizendo que te amava, você foi o grande amor da vida dela, eu sempre soube disso, eu sempre soube de tudo, cuide de minha filha como cuidei do seu filho, eu o amei e o amo como um filho, vou ter que partir também, mas, de você, apesar de tudo não levo magoas. Adeus! Antonio Oliveira”

Otavio chorou, chorou, chorou muito,quase que o restante da vida, ele não suportava a idéia de saber que nunca mais veria Tiara. Ele mostrou o bilhete a mãe de Tiara que estava muito doente e conseguiu a guarda dos meninos que sempre perguntavam: - Cadê a mamãe e o papai, Painho Otavio? – isto era o que mais machucava Fernandes.
O tempo passou e Otavio não conseguiu esquecer Tiara, no seu quarto tinha um quadro dela que ele passava horas a olhar, porém, quando ele olhava para o céu toda noite parecia que tinha uma estrela que olhava para ele, na verdade Otavio sabia que aquela linda estrela era Tiara no seu estado mais puro de beleza e simplicidade.
E ai viajante! O que foi que marcou todo Povo de Monte Formoso? Você é inteligente e já sabe, não é? – Acredito que foram os assassinatos e o suicídio.
– Em parte você esta certo, mas, não teve nada pior que aquele enterro, três caxões um atrás do outro. As pessoas choravam, muitos comentavam o motivo do acontecido, mas, os julgamentos não tinham cabimento, pois, a tragédia fez todo povo chorar em Monte Formoso levando as pessoas nunca mais esquecerem aquela tragédia, e como se fosse um aviso, todos viajantes que chegam aqui é quase obrigado a ouvir esta história.
Bom Viajante esse foi o acontecimento que mais marcou a Vila que você visita agora. Neste momento mim desculpe, mas, tenho que ir matricular meus filhos e dá um novo sentido para minha vida, ate um dia Alex – Não sei como ele sabia o meu nome, porém quando perguntei a Badega ele mim disse que Boca de Pimenta lia todos os nomes escritos na mesa, ele sabia todos os nomes que estavam rabiscados na rústica mesinha que os viajantes almoçavam. Fiquei triste com o fim da história, com a morte de Tiara, mas, algo mim incomodava muito, seria uma mera invenção aquele causo? Quem verdadeiramente seria aquele homem? De repente quis tirar uma duvida que se não fosse contemplada naquele momento talvez nunca mais fosse, assim, antes que o Véi Boca de Pimenta se fosse perguntei :
- Pimenta qual o seu verdadeiro nome? – Timidamente o questionei buscando olhar dentro dos seus olhos. Boca respondeu:
- Eu sou aquele que viveu tudo isso, meu nome é Otavio Fernandes, venha aqui! Veja - Cheguei na porta da venda e ele mostrou-me uma moça linda e um rapaz muito elegante.
- Ta vendo aquele rapaz é Antonio Otavio, e Aquela moça linda, é a cópia da mãe, é Tacíla Maria, poderia chamar–se Tiara, pois, é idética a genitora, em fim, são meus filhos, minha vida.





fim